Chegamos agora ao quesito mais solitário do carnaval. Apenas duas pessoas são responsáveis por mais de 10% do resultado da escola.

Também é o quesito em que há, historicamente, a maior taxa de manutenção de julgadores. Badejo e Hammerli estão no corpo de julgadores há décadas (e não é mera força de expressão). Paulo Rodrigues já foi e voltou, mas também tem longa experiência de julgamento.

Módulo 1/2

Julgador: Beatriz Badejo

  • Império – 9.7
  • Viradouro – 10
  • Grande Rio – 9.8
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • da Tijuca – 9.9
  • São Clemente – 9.8
  • Vila Isabel – 10
  • Portela – 10
  • Ilha – 9.9
  • Tuiuti – 9.9
  • Mangueira – 10
  • Mocidade – 9.9

Badejo é uma julgadora clássica e altamente respeitada, provavelmente a mais antiga dos julgadores atuais a estar no júri sem interrupções. E também é uma julgadora que sempre se notabilizou pela defesa ferrenha da “classe”, da “majestade” do casal.

Isso ficou claro esse ano na justificativa da São Clemente, na qual ela reclamou que “ao optar por exibição satírica, o casal, no entanto, mesclou repertório tradicional com passos e linguagem corporal do Michael Jackson, comprometendo a majestade e a harmonia do bailado.” E só por isso, de uma vez só, tascou dois décimos de penalidade para a escola.

Pode-se achar correto ou não tal desconto, isso é subjetivo, assim como é subjetivo o julgamento e Badejo está em seu amplo direito de defender seu ponto de vista, que tem boa base técnica. O que fico me perguntando é onde estava a São Clemente com a cabeça ao pensar nisso, pois em outros anos Badejo já descontou ousadias semelhantes, até menores. Era perfeitamente previsível.

Quanto a indumentária, os únicos descontos claros nesse ponto foram para a Ilha e Grande Rio. A escola insulana, segundo a julgadora, errou ao apresentar uma fantasia de príncipe do mestre-sala com coroa, cabelo e barba grisalhos, dando “peso” à sua aparência (talvez tenham se inspirado na representação atual do Príncipe Charles, “pano rápido”).

Já na Grande Rio o problema foram as cores muito diferentes das fantasias do casal (verde para ele, vermelho para ela, propositalmente as cores da escola), o que teria quebrado a integração, a união do casal e não os destacou do resto da escola. Além dessas, mesmo não sendo isolado, a indumentária também fez parte da justificativa da Imperatriz ao tirar plasticidade do bailado do mestre-sala.

De resto justificativas bastante técnicas, muito bem explicadas, com clara dosimetria. Destaco também os descontos da Unidos da Tijuca, por uma “bandeirada” na cara do mestre-sala e a da Tuiuti por falta de integração na dança.

Atentar para isso é outra característica dessa julgadora, que já descontou vários casais em anos anteriores por fazerem duas danças sozinhas ao invés de uma dança em par.

Módulo 3

Julgador: Paulo Rodrigues

  • Império – 9.8
  • Viradouro – 10
  • Grande Rio – 10
  • Salgueiro – 9.9
  • Beija-Flor – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • da Tijuca – 10
  • São Clemente – 9.9
  • Vila Isabel – 10
  • Portela – 10
  • Ilha – 9.9
  • Tuiuti – 10
  • Mangueira – 10
  • Mocidade – 9.9

Paulo, assim como a tradicional Áurea Hammerlli (como verão abaixo), tem um estilo diferente de justificativa. Ao invés de justificar o que faltou, escreve o que o casal precisa fazer para melhorar nas próximas apresentações.

Não obstante o estilo, é perfeitamente possível tirar dos textos os motivos dos descontos e o que deve ser feito das próximas vezes. Nada a reclamar quanto a esse ponto.

A indumentária foi citada apenas nas justificativas de Império Serrano e Salgueiro. No Império ela não teria favorecido a elegância e o bailado nos giros da porta-bandeira mostrando as pernas (isso já foi descontado trocentas vezes nos últimos anos, não entendo a insistência dos desenhistas), enquanto no Salgueiro não ajudou a enriquecer os giros da porta-bandeira e teria sido fonte de preocupação na execução dos giros.

Por fim, minha única crítica a esse caderno será justamente na comparação entre as duas justificativas acima citadas. No total elas são por demais parecidas, tendo as duas escolas cometidos praticamente os mesmos erros. Não obstante o Império tirou 9.8 e o Salgueiro 9.9. Só se o julgador considerou as pernas a mostra no Império algo digno de se tirar um décimo inteiro (ele não alegou isso no Salgueiro).

Módulo 4

Julgador: Mônica Barbosa

  • Império – 9.9
  • Viradouro – 10
  • Grande Rio – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • da Tijuca – 9.9
  • São Clemente – 9.8
  • Vila Isabel – 10
  • Portela – 10
  • Ilha – 10
  • Tuiuti – 9.9
  • Mangueira- 10
  • Mocidade – 10

Justificativas claríssimas também, todas pertinentes ao quesito. Somente quanto à dosimetria possa haver algumas discussões. Sobre a indumentária, ela repetiu as mesmas reclamações de Badejo para as cores das fantasias da Grande Rio e a capa do Mestre-Sala da Imperatriz, acrescentando aqui que ela as vezes se confundia com a saia da porta-bandeira.

Além dessas, também teve despontuação da Unidos da Tijuca por saia curta da porta-bandeira, mostrando as pernas ao girar.

Interessante notar que o 9.8 da São Clemente, pareceu-me dado pelos exato motivo oposto ao 9.8 de Badejo. Se esta reclamou da introdução da “linguagem corporal de Michael Jackson”, Mônica escreveu que “faltou explorar mais movimentos coreográficos… Movimento dos ícones pops só apareceram um pouco no final, ficando só por conta do figurino essa representação…” Ou seja, uma puniu pelo excesso e outra pela falta da mesma coisa.

Talvez esse caderno tenha algumas discussões quanto a dosimetria, já que, de forma bem geral, em todas as notas 9,9 foram apontados dois pequenos problemas para tal, mas sinceramente não percebi uma gravidade muito maior na justificativa da São Clemente para o 9.8.

A nota é perfeitamente defensável também, com certeza fica dentro da zona de subjetividade natural do julgamento, mas sinceramente, apenas lendo as justificativas, não percebi essa gravidade maior.

Por fim, notar as primeiras despontuações deste ano por excesso de centralidade no espaço de apresentação. Imperatriz e Tuiuti receberam tal crítica.

Módulo 5/6

Julgador: Áurea Hämerlli

  • Império – 9.8
  • Viradouro – 10
  • Grande Rio – 9.8
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • da Tijuca – 9.9
  • São Clemente – 9.9
  • Vila Isabel – 10
  • Portela – 10
  • Ilha – 9.9
  • Tuiuti – 9.8
  • Mangueira – 10
  • Mocidade – 10

Áurea é outra das grandes damas do corpo de julgadores, também com ótima reputação e a mesma fama de tradicionalista. Como disse acima, ela tem a característica de escrever suas justificativas em forma de conselho.

Nem há muito o que falar aqui. Apesar da forma de conselho, os problemas ficam nítidos, tudo dentro do quesito e com uma atenção especial à leveza, a elegância, ao cuidado com o pavilhão e o entrosamento do casal e sem nenhuma justificativa baseada na indumentária neste ano.

Ao final ela escreveu uma observação final bastante pertinente que, mesmo longa, faço questão de transcrevê-la.

“Cada casal deve ter sua identidade e forma de dançar marcando suas qualidades específicas. Mesmo mantendo todas as características da dança do casal MS e PB. Continuem buscando novos elementos coreográficos.

Especial pedido aos Mestre salas. Novamente peço cuidem dos passos de agilidade, precisam ser feitos com clareza. Mesmo com a agilidade cada passo precisa ser visto e colocado em sequência.

Tivemos belas performances cada uma com novas características e respeitando as regras básicas do quesito.”

Fiz questão de transcrever, pois além dela explicar o equilíbrio que deve haver em bailado tradicional e coreografia, ela repete esse mesmo pedido aos mestre-salas já pelo segundo ou terceiro ano recentemente e pelo visto isso não tem sido tratado.

Ou seja, passamos por mais um quesito onde reinou o bom julgamento, como até agora tem sido a tônica da série deste ano. Espero não me arrepender dessas palavras após os quesitos plásticos que voltaremos a visitar com alegorias.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo