Eu comecei no samba em 1997 e, como a maioria, tive um começo difícil até me firmar. Meus sambas eram rapidamente eliminados e mesmo assim continuava a frequentar a quadra da União da Ilha. Dessa forma, conheci Djalma Falcão e seus sambas.

Meu parceiro de sambas Paulo Travassos tinha um primo que era chefe de torcida dos sambas de Djalma, e eu passei a frequentar essa torcida. Não era difícil torcer por seus sambas, já que Djalma é um poeta na forma literal da palavra. Um compositor que sempre prezou pelas letras de seus sambas, que não se preocupava apenas em descrever sinopses, mas criar poesias, romancear seus versos.

Encantado, seguia os sambas de Djalma e peguei esse estilo para os meus. Na época ficava irritado, mas hoje lembro com orgulho dos boatos que diziam que Djalma fazia parte dos nossos sambas do Boi da Ilha em 2001 e 2002. Se achavam, era porque minhas letras conseguiam seguir o estilo daquele compositor que virou meu ídolo.

Ídolo como compositor, capaz de escrever obras primas como seu samba concorrente de 2000, quando a União da Ilha foi derrotada no concurso – ele não perdeu aquele concurso, a escola que perdeu ao não utilizar aquele samba Estandarte de Ouro), gênio em 2001, quando fez uma obra prima cheia de poesia e romantismo em cima de um enredo que falava de energia eólica e nuclear – samba injustamente renegado, já que foi a única coisa que deu certo naquele desfile. Ídolo como ser humano. Pessoa simples, carinhosa, sem nenhum pingo de marra, e divertida.

Aprendi muito com Djalma Falcão. Em 2002 também consegui fazer uma letra com poesia e romântica em cima de um tema difícil como a cidade de Holambra que ganhou melodia maravilhosa de Roger Linhares e Cadinho. Tive a felicidade de ser seu parceiro em um samba concorrente na Beija-Flor em 2004, talvez o melhor samba que já compus e que teve magistral interpretação de Jackson Martins. Também fui seu parceiro em um dos últimos sambas que venci, Boi da Ilha 2014. Djalma, que como vice-presidente da União da Ilha foi fundamental na realização do meu sonho de ganhar um samba na escola, em 2012. Djalma, que em um gesto de respeito e amizade nos chamou no ano seguinte durante as eliminatórias da Ilha e disse que não ganharíamos, nos dando a opção de mesmo assim chegar à final ou sair do concurso naquela noite.

Amizade… Amizade por um grande compositor, poeta e ser humano que nem a força do tempo irá destruir, como ele mesmo escreveu em seu maior sucesso como compositor. Agora, o sensível poeta é presidente da União da Ilha, de sua escola do coração. A escola dos sambas-enredo mais populares, dos grandes artistas agora é comandada por um.

Tenho certeza que, do céu, Didi, Aurinho da Ilha, Leôncio, Edinho Capeta, Franco, Robertinho Devagar, J.Brito, Aroldo Melodia e outros bambas abençoam e fazem batucada para esse momento. Como torcedor da União da Ilha, sou eternamente grato pela gestão Ney Filardi, e me emociono em ver poeta de tal dimensão lhe sucedendo. Meu ídolo agora é presidente da minha escola e saber que ele me respeita e me admira, como falou algumas vezes, vale como prêmio.

Boa sorte, meu poeta, boa sorte, meu ídolo, boa sorte, meu amigo. Que a luz da inspiração clareie sua caminhada e saiba que pode contar comigo nessa batalha. A mesma Lua que te viu nascer brilha no céu, volta pra te ver.

Quero chorar o teu choro, quero sorrir teu sorriso.

Valeu por você existir, Djalma.

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