por Rodrigo Vilela, radialista

Jejuns foram feitos para serem quebrados, né? Pois então que assim seja!

Depois de 21 anos na fila, a União Imperial quebra o rodízio entre X9 e Unidos dos Morros (que perdurava desde 2011) e novamente é a dona do lugar mais alto do pódio do Carnaval de Santos. Após algumas temporadas boas, regulares e fracas (mas nunca triunfante) e brigando contra o rebaixamento nos dois últimos anos, enfim um desfile à altura da verde e rosa do Marapé.

A conquista da União – e o fim da espera – coroou de forma positiva um carnaval que tinha tudo pra ser um fracasso. A começar pela manutenção das tendas ao invés de arquibancadas.

Claro, o prefeito, os secretários e todos os aspones envolvidos declararam ser um sucesso. É o preço que se paga por uma terrível gestão municipal, mas isso é papo para outra hora.

Bom, com a lambança consumada – e depois de um susto com o atelier da X9, que foi furtado semanas antes do desfile – e potencializada devido ao atraso na entrega da verba, não restou outra alternativa às escolas: irem à luta, com criatividade e samba no pé.

E, ao menos nessa parte, Santos mostrou que nesses quesitos ainda merece o respeito de toda a sua história.

Mais uma vez, desfiles antecipados em uma semana – a melhor das medidas ao meu ver – com os Grupos 1 e Acesso na sexta e o Especial no sábado. Todas as 17 escolas de samba foram avaliadas por 27 julgadores, sendo três responsáveis para cada um dos nove quesitos. Das três notas por quesito, que variaram de 8 a 10, a menor foi descartada.

E a União adentrou a Passarela Dráusio da Cruz, na Zona Noroeste, disposta a deixar pra trás as últimas posições dos anos anteriores. E conseguiu!

Ela se apresentou com 1.300 componentes para defender o enredo “N’kisi samba kalunga, a saga do meu batuque”, tendo mais uma vez Scheila Carvalho à frente da bateria, e faturou merecidamente os 180 pontos, empatada com a X9, que trouxe para a Passarela o tema ‘Armorial, a nobreza da arte nordestina do Carnaval”, porém com apenas duas notas diferentes de 10 (que foram descartadas), contra cinco da maior campeã.

A terceira colocada foi a Unidos dos Morros, que reeditou o enredo de 1986 “O bem-me-quer, mal-me-quer dos grandes amores” e se coloca de vez como uma das grandes do Carnaval santista.

O nono título da União Imperial causou uma reação, no mínimo, curiosa na Apuração, ocorrida no Teatro Municipal, onde os dirigentes não tiveram, digamos, força pra comemorar. Apenas choravam copiosamente: “Não tenho palavras pra explicar o quanto eu estou emocionado de ver que o meu bairro de novo está em festa”, disse Luiz Alberto Martins, presidente da escola.

Aliás, que festa. A terça-feira foi pequena…

As duas notas a se lamentar, pela tradição, foram o rebaixamento da Brasil, escola com 11 títulos (e que já foi campeã em São Paulo, inclusive) e que encara pela segunda vez o Grupo de Acesso ao lado de outra grande campeã.

A Padre Paulo, com seus sete triunfos, não conseguiu o título da segundona, que ficou com a Mocidade Dependente do Samba e seu enredo “‘Sansakroma… a luz da raça, resistência e cultura”, que foi para a avenida com 1.200 componentes, 14 alas e 120 ritmistas. Mas deu uma boa resposta a quem cravou a queda para o terceiro grupo da agremiação do Estuário, que sofreu com brigas internas, falta de dinheiro e uma chuva digna de Noé em seu desfile. Aliás, a única escola que desfilou do início ao fim com chuva.

Terceiro grupo, aliás, que recebe a Bandeirantes do Saboó, rebaixada do Acesso. E que viu a Unidos da Zona Noroeste, com o enredo “Com frio ou calor sentido o perfume de uma flor. Deixem as folhas caírem e meu galo sempre será um vencedor! Meu planeta e as quatro estações”, 700 integrantes, 6 alas e 100 ritmistas.

Como eu sempre faço quando escrevo sobre o Carnaval daqui, penso que as coisas só mudarão de vez pra melhor quando a Liga assumir, de fato, o controle da festa. A falta de dinheiro é desculpa das mais esfarrapadas, de uma gestão que está pouco se importando com a festa.

Não é difícil. A própria rua do Sambódromo abriga o prédio da Secretaria de Cultura, então não se trata de região largada. É perfeitamente possível a construção de arquibancadas (mesmo que de um lado apenas) definitivas, frisas melhores planejadas, cabines para rádios e TVs… e que não deixem um intervalo de mais de 15 minutos entre uma escola e outra só porque a TV que transmite os desfiles quer inflar o próprio ego, se “auto-puxando o saco” e de políticos da região.

Muito do que se deve melhorar são pontos que não necessitam de grana absurda. Basta boa vontade para trazer o Carnaval de Santos e as escolas (que merecem todos os aplausos pela superação) de volta ao patamar que merecem.

Para que, ao final da festa, apenas a festa da campeã seja o principal assunto. Parabéns, União!! “Sou verde e rosa… doa a quem doer…”!

Fotos: Prefeitura de Santos, Jornal A Tribuna e G1 Santos

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3 Replies to “Primeiro lugar, que saudade!”

  1. O carnaval paulistano está mostrando para as Escolas de Samba de todo o Brasil que o melhor a se fazer é ter uma LIGA com muitas Escolas que brigam entre si: Mais gente, mais discussão…e no final, mas autonomia do poder público.

    Espero que o exemplo seja o quanto antes seguido por Santos para que os áureos dias de seus carnavais voltem.
    Aqui no Rio está difícil fazer os dirigentes das agremiações entenderem isso…

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

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