Uma pergunta sincera, caro leitor:

Você tem coragem de levar um filho a estádio de futebol?

É uma pergunta pertinente e ao mesmo tempo inacreditável. Inacreditável porque não estamos falando em levar filho a uma zona de guerra, a mergulhar em mar revolto, pular de paraquedas em meio à tempestade. Nada disso, falamos de algo que devia ser natural porque é um entretenimento como ir ao cinema ou teatro, natural como foi um dia, quando nossos avôs levavam nossos pais e nossos pais a nós como ato de formação de caráter e elo eterno entre pais e filhos.

Acabou isso. Jogo de futebol agora é programa de risco, é ir a um local sem ter certeza de que voltará inteiro ou mesmo com vida. Levar crianças a um jogo hoje, principalmente a finais, é caso para Conselho Tutelar, é expor seus filhos. Acabaram com um dos maiores programas familiares de domingo, com uma de nossas maiores diversões.

O torcedor do Flamengo se orgulha de torcer por um clube que nunca foi rebaixado, mas não precisa cair de divisão para ser humilhado. Nesse meio de semana foi escrita a página mais vergonhosa em 122 anos de Flamengo, seu pior dia, seu maior vexame e nem precisou ir para a segunda divisão pra isso. Parte de sua torcida manchou a história do clube e provocou esse vexame. O resultado em campo foi o que de menos importante ocorreu no Maracanã na última  quarta-feira.

Tudo que a torcida fez foi de envergonhar. Seja na recepção aos argentinos, não que eles merecessem coisa melhor, mas a burrice de sair do papel de vítima e se igualar a eles, até o ocorrido no estádio, mostra a degradação irreversível do ser humano. Brigas, correrias, invasões, depredação, assaltos, tentativas de assassinato, tudo ocorreu num dia que era para ser de entretenimento, diversão.

Porque é isso, o futebol é uma grande paixão, mas na verdade não passa de um entretenimento como outro qualquer. O futebol é o que de mais irracional foi feito pelo homem, o maior entorpecente que tira o ser humano de sua sanidade porque se formos pensar racionalmente, friamente o fato de um time ganhar ou perder muda em nada nossas vidas. O Flamengo ganhar ou perder títulos não me faz ter mais ou menos dinheiro, mais ou menos saúde, não melhora ou piora em nada a vida de meus filhos ou a minha. Acordei na quinta com a mesma situação pessoal de que acordei na quarta com a diferença que o futebol que não influencia em nada minha vida me deixou aborrecido. Por que isso?

É difícil explicar. Tem gente que não chora quando a mãe morre, mas chora pelo time. Qualquer um é capaz de dar a vida pelo seu filho, mas não é capaz de torcer pelo time dele numa final de campeonato se o mesmo estiver enfrentando o nosso mesmo sabendo que isso lhe faria feliz. Em qualquer situação da vida nos dói ver um filho triste, mas se o motivo de tristeza dele for seu time perder para o nosso é capaz ainda de tirarmos uma com sua cara.

O futebol é capaz de deixar irracional até a pessoa mais centrada e esse tipo de comportamento aliado ao momento em que vivemos como sociedade transforma tudo em um barril de pólvora. Junta o fanatismo de certos torcedores, que descarregam todas as frustrações da vida no futebol, a uma certa “liberação” do ódio e da violência que vivemos hoje com o fato de nos sentirmos invencíveis andando em grupos protegidos pelo anonimato.

Isso tudo faz o que ocorreu no Maracanã, ainda tendo o plus da polícia despreparada e covarde do Rio de Janeiro. O Flamengo é culpado do que ocorreu? Juridicamente não sei responder, mas todos esses problemas já ocorreram antes contra Botafogo e Cruzeiro pela Copa do Brasil, então alguma culpa tem e acho que tem que ser punido, tem que jogar com portões fechados para ver se assim tenta fazer alguma coisa e pare de botar o corpo fora.

Que fase do Flamengo, que momento trágico vive o clube e nem rebaixado precisou ser para passar por isso, muito pelo contrário, financeiramente e até esportivamente vive momento de retomada, mas num todo seu momento é trágico, catastrófico. Curioso pensar que reclamaram tanto o ano inteiro de dirigentes, técnicos, jogadores e quem fechou o ano com chave de bosta foi a torcida.

Ir a estádio de futebol virou filme de terror, quem diria…

Atletas de um jogo doente.

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