Está nas últimas semanas a novela das 21h da Globo “A força do querer”. A novela é sem dúvidas um grande sucesso, o maior desde “Avenida Brasil”,  considerando que cada vez é mais difícil a vida das novelas com tantas plataformas concorrentes.

A força do querer é da autora Gloria Perez, novelista de grandes sucessos como “Barriga de aluguel” e “O Clone” e bizarrices como “Caminho das Índias”. Ela é boa sim e traz assuntos interessantes para discussão popular como do transgênero, isto é, pessoas que não se sentem felizes com o corpo que tem.´

É uma discussão importante levantada por Gloria e as cenas que envolvem a atriz Carol Duarte, que aos poucos na trama se transforma em homem, com certeza entrarão para a história das telenovelas. Gloria sempre trouxe a atualidade para suas tramas e campanhas sociais importantes como do desaparecimento de menores feita na novela “Explode Coração”, que ajudou na recuperação de várias crianças e da doação de órgãos na traumática “De corpo e alma”.

Mas essa “necessidade” de mostrar a realidade às vezes me incomoda.

A situação como a novela retrata a violência e o tráfico de drogas é a que mais me incomoda nesse momento. O personagem de Juliana Paes chamado “Bibi Perigosa” é um dos mais populares da novela, uma pessoa que por causa do marido se perde na vida, faz um monte de besteiras e entra para o tráfico. Juliana é uma grande atriz, o personagem é bom e com isso acaba “invertendo as coisas”. Um personagem que faz parte do tráfico é popular, querido e faz com que torçam por ele.

Pô, Aloisio, mas justo você sendo escritor reclamando de algo que é ficcional? Pois é, por mexer com isso sei o quanto a ficção pode ser perigosa. Nós vamos a teatro, vamos ao cinema, nós procuramos por essas artes e novela é diferente, ela entra nas casas há mais de 40 anos todos os dias e são assistidas por 40, 50 milhões de pessoas, e nem todas sabem diferenciar a realidade da mentira.

Você, eu ou qualquer pessoa “normal” sabe diferenciar o que é real de ficção, mas muita gente não sabe, e a maior prova disso a própria Gloria sofreu quando sua filha foi assassinada por um colega de novela que não soube diferenciar.

Fico incomodado com o noticiário que nós temos todos os dia de guerra, pessoas morrendo, tiroteios em favelas, ver o quanto o tráfico de drogas é um mal e logo depois ver o mesmo retratado em novelas. Não é certo ou errado, é entretenimento, eu que simplesmente não curto pela vida já estar tão pesada.

É evidente que na novela os traficantes não são passados por bonzinhos, amigos, mas não adianta, entre eles está a tal Bibi Perigosa que é baseada em uma pessoa de verdade que virou celebridade, posa para fotos com os atores, da entrevistas, ficou famosa. O crime compensa? Para a Bibi real parece que sim.

Nessas horas surge a alegação do “não gostou, use o controle remoto”. É verdade, mas como eu disse, a novela das 21h está enraizada no país, faz parte de nossas vidas e está nos debates, nas conversas, não tem como ignorar. Não sou a favor da censura. sou a favor do discernimento.

Discernimento que eu vi uma vez eu vi um filme antigo sobre um bandido terrível que foi condenado a pena de morte. Ele, tranquilo, esperava a execução da pena quando pediram que ele pelo menos fingisse terror, desespero com a execução da pena para não servir de exemplo para os jovens. Ele atendeu o pedido e quando foi levado para a execução chorou e implorou feito criança para não morrer, decepcionando as crianças que lhe viam como ídolo.

Lembro desse filme e vejo nele a novela. Gloria Perez não pode dar um bom fim a Bibi. Um fim bom, redentor seria um estímulo a crianças e adolescentes que assistem a novela e idolatram o personagem. Se a vida real não tem ajudado muito que a ficção pelo menos mostre que o crime não compensa, mesmo que o personagem seja querido.

A novela da vida real não precisa ser tão real assim.

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