Nesta sexta-feira, causou polêmica a capa do Jornal “Extra” pelo “editorial” no qual a publicação explica por que deixará de chamar o goleiro Alex Muralha pelo apelido, por causa das seguidas falhas nos jogos do Flamengo.

“Em nome da precisão jornalística”, o “Extra” explicou que “o ex-Muralha desmoralizou o vulgo, levando um frango no jogo contra o Paraná”. No fim, o “editorial” diz que promete rever a decisão, caso Alex o faça por merecer.

Quem me conhece, sabe que sou crítico contumaz das atuações de Muralha, sobretudo nesta temporada. De fato, o goleiro falhou no gol do Paraná no tempo normal, e sequer esteve perto de defender alguma cobrança na disputa por pênaltis que eliminou o Flamengo da Primeira Liga. Mas o “Extra” foi extremamente infeliz hoje.

Publicação popular que historicamente até tem pitadas de bom humor, o  “Extra” sempre se notabilizou pelo caráter jornalístico sério e de bons serviços prestados à comunidade carioca.

Recentemente, denunciou os problemas das UPPs no Rio e até criou uma editoria de Guerra por julgar que os problemas da cidade, com uma praticamente incontrolável violência diária, merecem ser tratados como uma autêntica guerra – se é certo ou não, é outro papo.

Mas hoje o “Extra” dedica o espaço superior de sua capa (não a manchete, é verdade) a uma piada em forma de editorial num dia de outros assuntos de maior relevância jornalística, como a soltura de um homem que ejaculou na cara de uma mulher num ônibus e a morte de mais três pessoas por bala perdida no Rio.

A própria manchete em si “Ladrões usam fuzil para roubar em fila de emprego”, algo muito mais importante, está abaixo do “editorial debochado”. Ou seja, uma piada é mais relevante do que uma notícia de extrema gravidade para a população.

Além disso, o tom da crítica a Muralha, nesse caso, ultrapassou o aceitável. Debochou do profissional que treina diariamente para fazer o melhor em campo, e não levou em conta que há um ser humano ali.

Como afirmou o próprio Muralha em nota emitida nesta sexta-feira, “a palavra é humilhação, é uma execração pública (…), um posicionamento de mau gosto e até irresponsável”. Muralha ainda apontou que “vulgo é um termo normalmente usado para designar bandido (…) e pode incitar a violência”.

O “Extra”, como publicação respeitável que sempre foi, com grandes serviços prestados ao povo carioca nos últimos 20 anos, deveria refletir sobre essa atitude. Em respeito a Muralha e seus leitores.

O que deve ser difícil de acontecer, já que o editor responsável defendeu com unhas e dentes a sua posição nas redes sociais e não quer dar o braço a torcer, além de ter ironizado parte das críticas de seus seguidores.

Como diria um dos maiores jornalistas esportivos deste país, o saudoso João Saldanha, “vida que segue”…

P.S.: Logo após a publicação deste post, o “Extra” se manifestou nas redes sociais e pediu desculpas, embora, a meu ver, de forma irônica e arrogante. Aliás, parece que só foi feito porque a maioria absoluta criticou o fato e o próprio Flamengo e o goleiro Alex Muralha repudiaram o periódico.

[N.doE.: minha leitura deste lamentável episódio é que este é mais um caso do que vemos muito nos jornalismos político e econômico: o “assassinato de reputações”. PM]

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