Vivemos tempos sombrios e isso não há como negar seja sua visão de esquerda ou direita. Corrupção, violência, crise econômica, ódio, intolerância, tudo o que quiser nesse cardápio volumoso e triste.

Não temos perspectivas de melhoras e cada vez mais o ser humano dá sinal de que deu errado. Mas espera aí, a vida não pode ser só isso também. Se está tudo tão ruim e não há visão de melhora, por quê continuar vivendo?

Porque no fundo no fundo somos eternos otimistas e, sim, ainda há esperanças.

Como? Com tantas coisas ruins ainda ter esperanças? Sim, dá para ter e tragédias recentes mostram isso, que ainda existe um pouco de humanidade.

A tragédia da Chapecoense, que daqui a pouco completa um ano, nos mostrou isso. O mundo inteiro apoiando a Chape, todas as torcidas. Tudo bem que com o tempo as coisas voltaram a ser “anormais”, as torcidas voltaram a se odiar e a própria Chape virou as costas para as famílias das vítimas, mas durante um tempo, o ser humano ficou mais humano mostrando que existe ali, sim, uma fagulha.

Outro exemplo ocorreu nas últimas semanas com a tragédia envolvendo o filho do treinador Abel Braga. Todo mundo já sabe o que ocorreu, com a morte acidental de João Pedro Braga caindo da janela panorâmica de um banheiro após uma crise de epilepsia.

Morte de filho já causa uma grande comoção por si só, é sair da ordem natural das coisas, um filho que enterra um pai e não o contrário e a maior dor que alguém pode sentir e que nos arrepia só de imaginar é a dor da perda de um filho.

E Abel é um grande personagem do futebol. Franco, verdadeiro, boa praça, de excelentes tiradas, um boleirão a moda antiga que consegue ganhar a todos num bom bate papo, fora que é um grande técnico. A morte de seu filho nos comoveu, nos entristeceu e nos fez novamente ser humanos.

Homenagens da torcida do Fluminense já eram esperadas, afinal, ele é o técnico do time, e em uma hora dessas se esquece qualquer desavença ou crítica ao profissional, mas mais do que isso, Abel conseguiu o apoio das outras torcidas, daquele que “deveriam” ser inimigos. Em um meio em que adversário é visto como inimigo mortal é um feito, comove.

Tudo bem, podemos alegar que a torcida da Ponte Preta tem ligação antiga com Abel por ter treinado a equipe em um péssimo momento de 2003, mas e a do Sport? Qual a ligação que o Sport tem com Abel? Nenhuma, e a torcida do clube de Recife em coro gritou seu nome ao entrar em campo, assim como a torcida da Ponte e a homenagem linda e inesquecível feita pela torcida do Fluminense no sábado passado no jogo contra o Atlético Goianiense.

Pensei em escrever essa coluna para o “Jogando nas Onze”, mas esse assunto vai além do futebol, é a vida, é algo humano. No meio de tanto ódio, se pararmos pra pensar quinze segundos vamos refletir que tudo isso é bobagem, que muitas vezes brigamos por causas e pessoas que valem nada, que não valem um segundo do nosso stress ou uma ofensa em rede social em cima de alguém que nem conhecemos.

A vida é tão pequena, tão minúscula perto de acontecimentos como o ocorrido com o Abel..Momentos como esse nos faz despertar por um momento, ver que a vida é finita, frágil e pode sim acontecer conosco. Perdemos tanto tempo reclamando que não percebemos as coisas boas que nos rodeia e só percebemos quando não temos mais.

Dias depois da fatalidade Abel estava em campo treinando o Fluminense e dizendo que perdeu para a morte, mas não podia perder para a vida. É isso, temos que parar de perder para a vida, chega disso. Como disse a torcida do Fluminense Abel é guerreiro, nós podemos ser também.

Nós também podemos vencer.

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