Escrevo esse artigo algumas horas depois do jogo Flamengo 2 x 2 Palmeiras. A torcida, injuriada, gritou “burro” pera o treinador Zé Ricardo e pediu sua saída. Mais uma vez o presidente Eduardo Bandeira discutiu com torcedores, princípio de crise.

Crise no Flamengo é uma coisa normal. Em três dos últimos quatro Campeonatos Brasileiros conquistados pelo time, ocorreram mudanças no comando técnico. Ontem mesmo estava revendo no youtube Flamengo 5 x 1 Corinthians pelo Brasileiro de 1983 que marcou a estreia de Carlos Alberto Torres no comando, e comentarista dizendo que finalmente o Flamengo jogava futebol de quem disputava título.

O Flamengo de Zico passou por crise, o Flamengo de Junior do começo dos anos 90, também, o Flamengo do ataque dos sonhos mudou de técnico três vezes em 1995… E o Flamengo de 2000 então? Era uma crise permanente com clube falido, sem pagar jogadores e sempre perto das.

O Flamengo vive em crise, isso é natural, mas esse Flamengo de 2017, mais do que uma simples crise, vive um dilema.

Nenhum torcedor com mínimo de sanidade quer a volta de antigos dirigentes e práticas ao Flamengo, e eu diria que essa crise é até, por mais estranha que possa ser essa expressão, muito melhor que dos anos 2000.

O Flamengo hoje deixou de ser um clube zoneado para saneado, pagou boa parte de suas dívidas, tem um CT de primeiro mundo que será melhorado pra 2018, montou um elenco forte, recheado de estrelas sem um sinal de atraso salarial. Provavelmente tem hoje o melhor elenco da América Latina e a expectativa para 2018 é de mais craques. Todos os jogadores querem hoje jogar no Flamengo.

Da um grande orgulho isso, eu não tenho dúvidas em afirmar que a administração Eduardo Bandeira é a melhor que vi do Flamengo. Administrativamente, financeiramente, perfeitos, no futebol um superelenco. Aí começa o dilema.

Esse superelenco não consegue jogar. Desde o fim do ano passado tem atuações inconstantes e parece não conseguir se recuperar da traumática eliminação da Libertadores. O time está virtualmente classificado na Sul americana, tem boa vantagem na Copa do Brasil, está no G4 do brasileiro, mas não convence.

Aí que está a crise melhor que as anteriores. O Flamengo hoje é muito melhor do que naquele período e nenhum rubro negro cogita Z4 ou zona intermediária. A raiva e indignação vem dos poucos títulos de expressão e mesmo do mau futebol. A torcida teve muita paciência de 2013 para cá, mas a mesma está se esgotando. Com tudo isso que o Flamengo tem hoje ele não tem a obrigação de ser campeão, mas tem obrigação de jogar bem e brigar por todos os títulos.

O alvo permanente é Márcio Araújo, mas junto com ele tem agora o treinador Zé Ricardo. Ele tem culpa? Zé é o comandante e a partir do momento que seus comandados não jogam bem em sua maioria ele tem participação, a partir do momento que tem um elenco numeroso e não aproveita isso também.

Por quê Zé Ricardo escala sempre s mesmos 11? Por quê na hora das mudanças são sempre os mesmos 3 que entram? De que adianta ter elenco tão numerosos se usa sempre os mesmos 14? Isso desgasta os jogadores e acredito que vem daí as más fases de Diego e Everton Ribeiro que saíram de contusão e futebol árabe respectivamente direto para “maratonas” de quarta e domingo. Elenco numeroso é formado para rodar e Zé não roda o elenco.

Por quê Ederson foi preparado um ano para voltar e não tem chance nunca? Por quê Mancuello que estava em lista de negociações e não foi ao importante jogo contra o San Lorenzo na Argentina agora sempre é a opção 2 ou 3 para entrar quando o elenco está mais recheado? Por quê Rômulo não tem mais chances nem de entrar? O que acontece com Conca? Por quê ninguém explica?

Muitas perguntas sem respostas num Flamengo muito bem administrado e por ser muito bem administrado passa impressão que seus dirigentes se acham acima do bem e do mal e imunes a críticas e questionamentos. Não acho Zé Ricardo mau treinador e acho que é promissor, mas talvez o elenco tenha ficado grande demais para ele. Fazer o que? Mudar de técnico? Não existe nenhum treinador desempregado confiável no Brasil. O que fazer então?

Esse deveria ser o dilema do Flamengo. Eu iria por dois caminhos. Tentaria Reinaldo Rueda ou Macelo Gallardo agora já pensando em 2018 já que nenhum dos dois conhece o futebol brasileiro suficiente para fazer um time perfeito sem pré temporada e sem ambientação ou iria com o Zé até o fim do ano e reavaliaria no fim do ano.

A certeza é que se em julho já se pensa em 2018 do mais estrelar elenco brasileiro é que tem coisa errada.

Abre o olho Flamengo.

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Fotos: LANCENET! e Globoesporte.com

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