Não é surpresa para muitos que meu sonho de princesa é ser cientista (além de ver o Corinthians campeão, evidente). Fazer ciência nunca foi fácil nesse país, inclusive, o programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou domingo uma matéria sobre a crise na Ciência brasileira.

Nunca foi fácil. Está pior agora. A falta de verbas atingiu um dos setores responsáveis pelo desenvolvimento de qualquer país. Mas como economia não é muito a minha praia, vou me reter à minha proposta de hoje: discutir a apropriação da ciência de forma equivocada pela sociedade.

Há diversos aspectos que se enquadram nesse tema, porém hoje eu quero abordar a forma como a ciência é utilizada para justificar o preconceito de muitas pessoas.

Sim, meus caros, hoje vamos falar de homofobia.

Muitos podem se perguntas: ‘’Mas Fernanda, o que uma coisa tem a ver com a outra?’’Eu lhes explico.

Quem tem twitter, dá um ‘’search’’ em alguns tweets do Feliciano e vocês terão uma amostra grátis de como a ciência pode ser distorcida em 140 caracteres. Um dos principais argumentos para quem não aceita a união homoafetiva é que dois iguais não se reproduzem, que somente XX e XY podem procriar.

Ok, não deixa de estar correto. Mas muita gente fala isso sem saber ao menos o que significa.

Primeiramente, Fora Temer. Segundamente, não é a diferença entre um cromossomo do homem e da mulher. Terceiramente, basta fazer uma fertilização in vitro e depositar o embrião na barriga de uma mulher, no caso de um casal lésbico; e basta fazer o mesmo procedimento e colocar numa barriga de aluguel, no caso de um casal gay.

É lógico que a questão vai muito além disso. Há também o processo de adoção. Muitos casais heteros, tidos como o modelo de família, têm um filho e não o querem. Basta entregar para um casal que queira, seja ele homossexual ou não.

Enfim, há muitas saídas e questões a serem discutidas, mas uma coisa que me revolta bastante é que usam a ciência como lhes convêm.

Você vai falar sobre a teoria de Evolução para uma pessoa como essa e ela vai rebater seu ponto de vista com os piores argumentos possíveis. Aí depois vem falar que dois iguais não reproduzem porque X isso, Y aquilo e blá, blá, blá. Hipocrisia mandou lembranças.

O pior disso tudo é que querem discutir sem o mínimo conhecimento de causa. Eu não devo ter sido a única a ler ou ouvir o seguinte disparate: ‘’Se a gente veio do macaco, porque eu ainda não vi nenhum macaco se transformando em homem?’’

Primeiramente, Fora Temer (nunca é demais, né?) Segundamente, nós não viemos do macaco: temos um ancestral comum com ele. Terceiramente, a evolução demora milhões de anos para ocorrer, você não verá de uma hora para outra.

Eu sou professora, mas não me proponho a ficar discutindo Biologia com quem tem uma mente mais fechada que a defesa do Corinthians – eu não tenho mais idade para isso.

No mais, há muitas questões também que determinam a orientação sexual de uma pessoa além dos cromossomos sexuais. Há psicologia, há contextos sociais, há diversos fatores. Não devemos reduzir uma questão multifatorial há algo simplista.

Mas se é de Ciência que esse povo gosta, então que fiquem com o trecho de uma entrevista do geneticista Sally Lehrman

‘’Reconhecemos novos mecanismos moleculares de determinação do sexo. Em especial, identificamos genes, como o WNT4, ditos feminino-específicos e ausentes nos masculinos, e isso mudou o paradigma de que, para produzir o sexo masculino, bastava ativar um monte de genes pró-masculinos.

Na verdade, é mais complicado. 
Demonstramos que, para produzir o sexo masculino, é preciso sim ativar esse monte de genes, mas também inibir alguns genes antimasculinos. Trata-se de uma rede mais complicada, uma dança delicada entre moléculas pró-masculinas e antimasculinas. E essas moléculas antimasculinas podem ser pró-femininas, apesar de isso ser mais difícil de provar.
 ‘’

O mundo vai muito além da questão XY-XX.

Até a próxima.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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