Na Suprema Corte, o crucifixo fica acima do presidente da casa. No Congresso, ele está junto ao presidente e as salas de comissões são verdadeiros palcos para cultos de determinadas religiões. No Planalto, bispos se revezam para dar a benção ao presidente e tirar dele a fama de “pacto com o diabo”. A Fundação onde dois médiuns incorporam o espírito de um cacique e assina contratos com governos para interferir no clima. Isso sem falar nos milhares de vereadores e prefeitos pastores espalhados pelo país.

A bancada evangélica, no Congresso, é composta de mais de 80 deputados. Se fosse um partido, seria a terceira maior e perderia apenas para o PMDB e PT. Da direita para a esquerda, quase todos os partidos tem membros na Frente Parlamentar Evangélica (FPE), que é presidida pelo deputado federal João Campos (PSDB). Isso sem falar nos católicos que são eleitos graças a ajuda das igrejas, TVs e rádios de fundações.

Uma bancada grande como a FPE já mostrou suas garras e seus poderes ao interferir em políticas públicas para a educação, saúde e direitos humanos.

Se o país hoje consegue realizar pesquisa com células-tronco e reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo, devemos isso ao Supremo Tribunal Federal e não ao Congresso Nacional onde, mesmo aqueles que não fazem parte de bancadas religiosas, acabam votando contra projetos que colocam em xeque a laicidade do Estado com medo de perder voto na próxima eleição.

O discurso de ódio e de quebra do Estado laico já avançou a um ponto de perdermos direitos assegurados. Se até dois anos atrás discutíamos o casamento gay, o nome social para transexuais, hoje discutimos se a Terra é realmente plana (?). Não voltamos ao século XIX. Regredimos à época de Galileu.

Porém, para toda ação há uma reação e no próximo dia 18, milhares de pessoas irão às ruas da maior cidade do país protestar pelo Estado Laico. Com o tema: “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é Lei! Todas e todos por um Estado Laico”, a 21ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo vai lotar a Avenida Paulista prometendo um protesto com luta, mas sem perder a alegria e com muita música, características que já se tornaram da Parada.

É justamente a luta por um Estado que dê direitos a todas as pessoas que os organizadores buscam com a parada do próximo dia 18, segundo presidenta da APOGLBT-SP, Cláudia Regina: “nossos principais inimigos hoje são os fundamentalistas religiosos, grupos de pessoas dentro de algumas religiões que insistem em nos condenar e retirar direitos já adquiridos. No Congresso Nacional, por exemplo, o debate sobre a criminalização da LGBTFobia é repleto de ataques de parlamentares da bancada religiosa e conservadora, muito dos quais utilizando-se de suas imunidades parlamentares para disseminar o ódio a uma parcela da população. Seus argumentos? Alguns citam suas visões de fé, como se estivessem em seus púlpitos e não em uma instituição que deveria garantir e se orientar pela laicidade, preconizada na Constituição Federal de 88.”

A Parada já foi criticada, em 2015, quando uma transexual foi “crucificada” representando os milhares de mortos pela transfobia no país e que já falei aqui. A FPE usou do Congresso Nacional para exalar todo o seu ódio contra a atriz e os LGBTs.

Ter, ou não ter, uma religião, uma crença, uma fé é direito assegurado pela Constituição Federal para todos os cidadãos brasileiros e cada eleitor tem o direito de votar naquilo que ele ache que é o melhor para o país, mas é preciso lembrar, em pleno século XXI, que nossa lei máxima não é a Bíblia e sim a Constituição Federal do país. Não devemos aceitar que palavras escritas há dois mil anos e que parte da população não acredita, seja tratada como lei máxima de um país.

Nem católica, nem judaica, nem evangélica, nem candomblé. Nenhuma religião é lei.

com colaboração da assessoria de imprensa da 21ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo

SERVIÇO:

21ª Edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo
– Tema: “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei! Todas e todos por um Estado Laico”
– Horário: das 10h às 18h
– Concentração: Em frente ao Masp, na Avenida Paulista – São Paulo/SP
– Realização: APOGLBT
– Patrocínio: Skol, Uber e Doritos
– Apoio: Microsoft
– Apoio institucional: Prefeitura de São Paulo
– Agenda completa da APOGLBT: http://paradasp.org.br/agenda2017
– Evento oficial no Facebook: https://www.facebook.com/events/105978123240834

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