Essa semana foi difícil particularmente para mim. No meio da grande alegria de ver minha peça teatral “Dona Carola” percorrendo espaços do Rio de Janeiro, e uma viagem a Ribeirão Preto para ver o sucesso de minha peça “Enganos e desenganos, uma comédia em três atos”, a semana trouxe lembranças de perdas e perdas próximas que abalaram pessoas queridas.

Um dos grandes amigos que a vida me deu, o compositor e cantor de samba-enredo Roger Linhares, perdeu seu filho Rodrigo com apenas 24 anos. Lembro bem do garoto ainda criança vindo aqui em casa ver o pai no período em que ele morou aqui. No dia seguinte dessa perda, fez doze anos que minha mãe morreu.

Perdas, perdas diferentes, mas perdas. O ser humano, em especial nós ocidentais, temos grande dificuldade em nos relacionar com perdas, ainda mais uma traumática como meu amigo teve.

É evidente que sinto saudades de minha mãe e sinto um certo vazio por sua ausência ainda mais um um momento tão bom para mim e que queria que ela visse e participasse, mas tirando o fato de ter morrido jovem, com apenas quarenta e oito anos, é a ordem natural das coisas, o normal é que filhos enterrem seus pais, que a gente enterre nossos pais e depois nossos filhos nos enterrem.

Aí e pego pensando na situação do Roger e me lembro do meu querido amigo também compositor e cantor Cadinho, que perdeu um de seus filhos, de outro querido amigo Alexandre Valle, que perdeu seu neto ainda criança, e não consigo mensurar essa dor de uma perda dessa. Não consigo entrar na alma dos três para tentar avaliar o que sentem como consigo fazer com quem perde um pai ou mãe por ter passado por isso. Mas perder um filho? Neto?

Nós que somos pais e mães nos arrepiamos só de pensar nessa hipótese. Não é lenda, a vida de qualquer ser humano muda quando tem um filho e tudo em torno da vida muda do “eu” para “eles”, por nossos filhos somos capazes de tudo, de matar, de morrer, somos como bichos protegendo nossas crias acarinhando, ensinando, lembando as crias e cuidando para que e tornem adultos melhores que nós.

Então mesmo não conseguindo dimensionar entendo o estrago que faz na vida de qualquer pessoas ver o caixão de um filho descendo a cova. É o tipo de dor que nos faz questionar a vida, Deus e nossa própria existência. Não há palavra que conforte, não há abraço que proteja.

Sabemos que a morte é inevitável e dizem que o ser humano é o único ser vivo que sofre por saber que vai morrer um dia. Mas a morte faz parte da vida, é preciso renovar, é preciso evoluir.

Mas quando ocorre uma ruptura, algo que não vai no sentido natural machuca.

Não foi comigo, mas como pai de três crianças e como amigo do Roger me sinto machucado. Quando soube da notícia me deu uma grande vontade de pegar meus filhos e abraçá-los, viajei ficando dois dias fora louco de vontade de voltar e ficar com eles. O abraço que minha filha mais velha me deu quando retornei foi um dos mais queridos que já recebi.

É clichê dizer isso, mas vamos viver nosso momento. Ficamos tão nostálgicos com o passado e ambiciosos com o futuro que esquecemos do presente, esquecemos de viver e no futuro só resta o arrependimento. Dar mais atenção as pessoas que amamos, os nossos filhos. É legal batalhar, buscar ganhar dinheiro e dar condições para que nossos filhos tenham no futuro o que não tivemos, mas muitas vezes nem é isso que eles querem, eles preferem o pai e a mãe perto brincando com eles do que fazendo serões e reuniões para ganhar dinheiro.

Todo momento com um filho é especial. Seja meu momento recebendo abraço de minha filha ao chegar de viagem seja como sei que o Roger lembra de seu filho criança com microfone cantando com ele na Sapucaí nosso samba no Boi da Ilha em 2002. Todo momento é único e não volta atrás. Se eternizam em nossas lembranças.

Difícil escrever essa coluna de hoje, colocar de forma coordenada um texto sobre, enfim, tudo isso que eu escrevi poderia ser resumido em uma frase “Estou com você, meu irmão Roger”.

Que Deus cuide de nós e de quem amamos.

E a gente saiba aceitar o que nos é reservado.

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