O colunista Leonardo Dahi escreveu recentemente sobre os sambas do Grupo Especial, fazendo uma análise mais detalhada. Bem como o Fortunato sobre o Especial paulista.

Minha ideia nesta semana do Natal é apenas fazer comentários mais gerais sobre as safras carioca (mais) e paulista (menos). Um panorama geral de minhas impressões.

Lembrando sempre que samba na disputa é um, no CD é outro, na quadra é um terceiro, no ensaio da avenida um quarto e no desfile, outro. Também lembrando que não tem gravação que conserte samba mal nascido.

Em tópicos, vamos lá:

A) Eu devo ter sido o único a defender desde o início da disputa o samba vencedor da Vila Isabel, embora reconheça a ótima qualidade do concorrente do genial André Diniz. Mas esta composição é guerreira, tem a cara da escola – e tudo para “varrer” a Sapucaí no domingo de carnaval.

O trecho entre a segunda parte e o refrão principal é de rara felicidade. E Igor Sorriso valorizou bastante o samba na gravação oficial.

B) O tempo passa para todo mundo. E há uns dois carnavais tenho pontuado aqui a rouquidão de Neguinho da Beija Flor na avenida. E o espetacular samba da Beija Flor não ficou legal na voz dele na gravação oficial. Talvez, também, prejudicado pelo andamento lento demais dado.

C) Passando pelo Acesso, outro samba que é melhor que a gravação é o da Império da Tijuca. A contratação posterior do ótimo Daniel Silva vai ajudar bastante.

D) E a Cubango fez um verdadeiro “We Are The World” em sua faixa. Curiosamente, seu intérprete é um dos mais criticados no meio.

E) Parece inacreditável – e é – mas o samba da Estácio sobre Gonzaguinha é bastante limitado, se restringindo a colar trechos de suas composições na letra e com uma melodia bastante burocrática. A gente sabe que a sinopse limitou os sambas, mas a escolha me parece ter sido equivocada.

F) Um bom exemplo da influência das sinopses nas composições é que os sambas que reputo como o melhor e o mais fraco do Acesso carioca – Unidos de Padre Miguel e Inocentes de Belford Roxo, respectivamente – tem o mesmo autor. O ótimo Samir Trindade não “desaprendeu” de um para o outro.

G) A Unidos da Tijuca também teve sua composição bastante afetada pela sinopse extremamente confusa. Uma pena, porque o enredo possibilitaria, a meu ver, voos maiores.

H) Já disse isso em minha última participação no programa “Bar Apoteose”, mas acho o samba da Mocidade bastante superestimado. É bom, merece a nota 10, mas está longe de merecer este frisson que tem recebido no meio.

Talvez a comparação com os anos recentes tenha pesado nesta impressão.

I) Ao contrário, o samba da União da Ilha é bem melhor que suas críticas. O melhor desde 1998, aliás – e um dos três melhores do Especial do Rio a meu ver.

J) Em São Paulo, o samba da Vai Vai perdeu um pouco da pegada na gravação oficial, mas é o melhor com folga. Também gosto de Peruche e Tatuapé.

K) O samba do Águia de Ouro vem sendo duramente criticado – e com razão – mas nada me irrita mais que o samba “CEP” da Nenê de Vila Matilde – minha escola por lá, inclusive. Insuportável.

L) Pare. Ouça o áudio acima. Deleite-se. Isso é Babalotim. No Acesso de São Paulo, a reedição de 1989 é o grande samba do ano – contando lá e cá. A gravação oficial encontrou um andamento bem interessante para a obra.

M) O samba do Salgueiro não é dos que se destacam na safra. Talvez deixe décimos na apuração. Mas vai fazer muito bem o seu papel na avenida – e isso é o que importa.

N) Os melhores em minha opinião: Vila, Ilha e Beija Flor no Especial do Rio, Padre Miguel, Renascer e Cubango Acesso, Vai Vai, Peruche e Tatuapé em São Paulo, Leandro, Camisa e Imperador no Acesso paulistano.

O) São Clemente nem de longe é um dos melhores sambas da parceria, multicampeã na Portela. Mas a gravação oficial ficou muito gostosa de se ouvir. É outra escola que, comparado aos anos anteriores, terá um salto de qualidade neste quesito.

P) Finalizando, 2017 é a prova de que o gênero samba enredo revive. Todos os quatro grupos com sambas que se ombreariam facilmente com os clássicos do gênero nos anos 70 e 80. A revitalização do gênero pós 2010 é inegável.

Q) O samba da Portela era meu preferido na final.

Comentários, críticas? Utilize a área de comentários.

Imagem: Arquivo Ouro de Tolo

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9 Replies to “Sambas Enredo 2017 – Pitacos”

  1. Olá amigos,

    Me chamo Ladislau Almeida, 35 anos, estudante de Marketing e sou de São Paulo. Conheci esse blog no Carnaval de 2016 e de lá pra cá sempre acompanhando as análises, artigos e debates de alto nível.

    Hoje ocupo a Direção de Harmonia da Unidos de Vila Maria e a cada dia aprendendo mais e mais do Carnaval que gosto tanto!

    Sobre esse ótimo artigo do Leonardo, tenho algumas considerações:

    A) Samba lindo da Vila! Não é a “Kizomba” (pois possivelmente nunca haverá um igual), mas passa uma energia de canto intensa. Hoje como Harmonia, sei bem como é importante ter esse “chamamento” guerreiro ao componente. Promete!

    H) O samba da “minha” Mocidade (aprendi a amar o Carnaval com ela em 1991) é maravilhoso. Com passagens melódicas interessantes e letra gostosa de cantar. Eu comparo o “frisson” lembra o samba do Salgueiro de 2016.

    K) O samba da Águia na minha opinião não é um dos melhores que a escola já produziu, mas prevejo que toda essa carga de criticas que ela recebe vai converter em energia para os componentes.

    L) Babalotim é clássico. O andamento eu achei mais rápido do que o original, o que era previsível, mas não tanto do que imaginei.

    O) O samba da São Clemente é uma aula descritiva sensacional! Adorei!!!

    E viva os sambas-enredo. Creio que cada vez mais os compositores e as escolas vão encontrar um ponto comum visando qualidade e respeito.

    Abraços!!!

    Ladislau Almeida

    1. Na verdade este artigo é meu, não do Leonardo rs. E tinha esquecido de citar o samba da Vila Maria entre os melhores de SP. Abraços

  2. Gostei de sua análise, Migão. Chamando atenção para três pontos:

    1) Império da Tijuca é bonito no CD e deve ser só isso, pode até funcionar mas creio que vai passar despercebido.

    2) Discordo quanto a São Clemente. O andamento pra trás deixou o samba insuportável e sonolento – só não é tão chato de se ouvir quanto ao da Imperatriz.

    3) Babalotim é um clássico, e ficou ótimo no CD paulistano, mas chamo atenção para a ótima gravação do Imperador do Ipiranga (também reedição). Meu top-5 do Especial de SP é Vai-Vai, Vila Maria, Dragões da Real, Peruche e Tatuapé.

    Quanto ao Rio não irei me estender mais, apenas recomendo que vá até o Sambario para ver as opiniões deste escriba sobre as safras citadas, hehe.

  3. Ótimo texto Pedro, com um estilo mais informal que complementa muito bem a ótima análise feita pelo Leonardo. Darei meus pitacos em alguns itens:

    A) Concordo que o samba da Vila é muito bom e um dos melhores doa no, mas preferia o samba do André Diniz…

    C) Acho o samba do Império da Tijuca bom, melhor do que a crítica tem avaliado, porém a versão concorrente com o Serginho do Porto era bem superior mesmo. Aliás, acho o Serginho extremamente subestimado.

    D) “We Are The World” da Cubango ficou bem melhor do que a salada do Ivo na Mangueira em 2012…

    H) Sou da turma que acha o samba da Mocidade excelente, não consigo me decidir entre ele e o da Beija-Flor.

    M) Estão deixando o Salgueiro muito quieto, não falam da escola, subestimam o samba, a escola está no canto dela, sem holofotes, sei não hein…

    O) Adoro o samba da São Clemente, deve ser uma delícia desfilar na escola nesse Carnaval!

    P) Acho que é o Aloísio Villar que disse, se não foi desculpe, mas não há gênero no país que tenha tanta qualidade quanto o samba-enredo. Me diga um ritmo com tantas músicas de qualidade e com um mínimo de divulgação lançadas no ano?

    Q) Esse samba da Portela também era o meu preferido NA FINAL, pq me apaixonei instantaneamente pela maravilhoso samba do Eduardo Medrado, o compositor mais injustiçado do Carnaval carioca. Uma curiosidade: qual sua opinião sobre esse samba, eliminado a meu ver precocemente, Pedro, e como ele era visto entre os integrantes na escola?

  4. Migão, estamos precisando conversar, Migão. O samba da Mocidade é de se comer com farrofa e molho a campanha, Migão.

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