(por CASSIUS SILVA, viciado em Olimpíadas e comentarista de resultado)

As Olimpíadas de 2016 trouxeram algumas mudanças relevantes no quadro de medalhas em relação aos dois últimos Jogos Olímpicos. A tabela acima mostra um comparativo entre os quadros de 2016 e 2012, demonstrando as evoluções (ou involuções) tanto no número de ouros quanto nas colocações gerais.

Inicialmente, observa-se que os EUA mantiveram a primeira posição de maneira isolada, aumentando sua vantagem em relação ao segundo colocado, e ainda melhoraram sua performance total – conforme explicado em texto prévio.

A primeira mudança no quadro está justamente na segunda colocação: após superar os EUA em 2008 e disputar a liderança de forma equilibrada em 2012, a China teve uma redução significativa no seu desempenho em 2016 – possivelmente por ter “esfriado” seu incentivo após ter sido sede em 2008 – enquanto que a Grã-Bretanha ainda manteve boa parte dos louros obtidos após ter sediado os Jogos de 2012.

20160821_001949Os chineses até melhoraram nos saltos ornamentais, mantiveram a supremacia no levantamento de peso e no tênis de mesa e conquistaram um brilhante título no vôlei feminino. No entanto, sofreram na ginástica, não repetiram o sucesso na natação e encontraram concorrentes à altura no badminton.

Por sua vez, os britânicos seguiram firmes na liderança do ciclismo e repetiram bons desempenhos no atletismo e no remo. No entanto, ao contrário da China, foram capazes de diversificar seus talentos, aumentando o número de modalidades em que conquistaram medalhas (de 17 para 19) e, principalmente, de ouros (de 11 para 15). Neste sentido, os resultados na ginástica (com duas vitórias de Max Whitlock) e na natação são bastante animadores para o cenário futuro do esporte britânico.

Fica a dúvida: em 2020, os britânicos sofrerão do efeito chinês ou ainda conseguirão se manter na vice-liderança, até mesmo disputando com os americanos em modalidades consagradas? E os chineses serão capazes de se recuperar (ou ao menos não decair)?

20160814_221742Em quarto lugar, fica o destaque para a Rússia: mesmo esfacelada pelas proibições de competir no atletismo (no qual levara 6 ouros em 2012, ainda que alguns estejam sob investigação por testes de antidoping) e no levantamento de peso (5 pratas em 2012) e com os consistentes resultados da Alemanha, os russos mantiveram o posto graças a quatro ouros na esgrima e à manutenção do favoritismo nas lutas, na ginástica rítmica e no nado sincronizado. Ainda assim, o total de medalhas foi reduzido em 21.

A Alemanha e o Japão tiveram as duas melhorias no top 10: os alemães destacando-se com a canoagem (inclusive nas duas vitórias sobre Isaquias) e o tiro esportivo; os japoneses com as lutas (foram três ouros numa só sessão) e o judô, além de dois ouros na natação.

Aliás, os japoneses apareceram em diversas finais da natação – seria uma prévia para 2020? A tendência é que o Japão apareça no top 5 quando for como sede, mas também é uma meta difícil. De todo modo, é fato que os japoneses já estiveram bem melhores em relação a 2012.

20160818_175023Fechando o top 10, França, Coreia do Sul (que seguiu o caminho inverso do Japão), Itália e Austrália (outra que vem em queda livre, em especial por resultados abaixo do esperado na natação, e que pode ficar fora do top 10 em 2020); seguidos por Holanda e Hungria. Eis que chegamos ao Brasil, com seus 7 ouros e 6 pratas.

Apesar de distante do top 10 e de não ter apresentado a evolução média que um país-sede possui, não considero a participação brasileira ruim; ficando de regular para boa.

É fato que o futebol e o vôlei masculino, na reta final, elevaram os resultados; mas a diversidade de modalidades, a quantidade de finais (fato pouco divulgado, mas que é bastante relevante por aumentar as chances de medalhas também para o futuro) e o inédito feito de Isaquias Queiroz devem ser celebrados.

20160820_203517Acredito que, de forma similar ao que ocorreu com a Grã-Bretanha, o Brasil ainda melhorará seu desempenho em 2020, quando talvez atinja seu ápice no desempenho olímpico.

Cabe destacar ainda que, no TOTAL de medalhas, o Brasil ficou em décimo-segundo e que com estas mesmas medalhas teria ficado uma posição acima em 2012. Além disso, até a nona colocada (Itália) também teve apenas um ouro a mais.

Fechando o top 20, a Espanha teve um crescimento idêntico ao do Brasil – com destaque para três ouros da canoagem –; enquanto o Quênia, a Croácia e o Canadá (que cresceu na natação feminina e no atletismo masculino) também adentraram o grupo.

Já Cazaquistão, Ucrânia, Irã, República Tcheca e Coreia do Norte saíram do top 20, sendo que a maior queda foi dos cazaques (eles até aumentaram o número de medalhas, mas sem tantas vitórias no levantamento de peso como em Londres).

20160806_180046Outros destaques positivos: a Argentina, com três ouros (igualando 1948) e a melhor colocação pós-Guerra Fria; a Colômbia, também com três ouros e o melhor resultado na história; e o Azerbaijão , que medalhou 18 vezes – apenas uma a menos que o Brasil –, provando sua diversidade em todas as modalidades de lutas: judô, boxe, livre, greco-romana e taekwondo. Outra decepção foi a Etiópia, com sua pior posição na sua história.

Por fim, tivemos ao todo 87 delegações premiadas – duas a mais que em Londres -, sendo que 59 com pelo menos 1 ouro – cinco a mais que em 2012. Destaques:

  • Fiji, Jordânia e Kosovo, com suas primeiras medalhas na história sendo logo douradas;
  • Kuwait, suspenso pelo COI por interferências governamentais, teve seus atletas acolhidos pela bandeira dos “Atletas Olímpicos Independentes”, mas pode-se dizer que levou seu primeiro ouro na história;
  • Porto Rico, Singapura, Costa do Marfim, Vietnã, Bahrain e Tajiquistão com seus primeiros ouros (sendo que os dois primeiros de certa forma históricos: os porto-riquenhos no tênis feminino, Singapura com Schooling batendo Michael Phelps);
  • Níger e Qatar com suas primeiras pratas.

Imagens: Ouro de Tolo

[related_posts limit=”3″]