Assim como fizemos após Londres, faremos uma breve análise dos resultados brasileiros modalidade por modalidade. Em algumas modalidades nada era esperado e nada foi feito, por isso será dado “sem avaliação” para estas.

Porém, diferentemente da análise de quatro anos atrás, não há como avaliarmos o futuro das modalidades porque sabemos que os investimentos sofrerão muitas mudanças no próximo ciclo olímpico com o fim do projeto Rio 2016 e é muito difícil visualizar o futuro nesse cenário de alta incerteza.

Quanto a participação brasileira, posso classificar como esperada. Eu esperava 6 ouros e 20 medalhas no total. No fim, foram 7 ouros, mais do que o dobro de Londres, mas “apenas” 19 medalhas, uma a menos que o previsto. Uma medalha a mais aqui ou a menos ali é perfeitamente normal. Especialmente pela qualidade das medalhas – foram apenas 6 bronzes, posso dizer que a participação brasileira foi boa nos Jogos Rio 2016.

20160815_235507Atletismo

Medalha: 1 ouro (Thiago Braz no salto com vara masculino)

Finais: sete

Resultado: acima do esperado

Em termos de medalha, o atletismo entregou aquilo que se esperava: apenas uma. O suficiente para não repetirmos a Coreia do Sul, que até hoje é o único país sede que passou zerado no atletismo. Inicialmente esperávamos que a medalha fosse com Fabiana Murer, acabou sendo com Thiago Braz em uma performance memorável.

Memorável por dois motivos: porque ele melhorou sua melhor marca em enormes 10cm e porque foi a 1ª vez que em uma competição importante ele alcançou uma grande marca. Além disso, houve um belo quase com o 4º lugar do Caio Bonfim na marcha atlética.

Mas, apesar de sair uma medalha apenas, coloquei o atletismo como acima do esperado pelos vários resultados individuais. Em muitos casos os atletas brasileiros do atletismo fizeram a melhor marca de suas vidas ou ao menos do ano nos Jogos Olímpicos e é exatamente isso que esperamos dos atletas: que façam suas melhores marcas na competição mais importante do ano e até de suas vidas.

Aqui posso citar o 5º lugar do Darlan Romani, a final inesperada do Altobeli, o 7º lugar da Erika, o decatlo do Luiz Alberto além dos próprios Caio e Thiago como exemplos. Ainda teve a final do Montanha, mas na qual ele não foi bem.

Badminton

Medalhas: nenhuma

Resultado: sem avaliação

Brasil só entrou no badminton pela vaga de país sede e as 4 derrotas em 4 jogos eram esperadas.

20160811_135815Basquete

Medalhas: nenhuma

Resultado: muito abaixo do esperado

O basquete disputa com a natação o posto de decepção brasileira nos Jogos. É verdade que da equipe feminina já era esperada uma desclassificação na 1ª fase, mas nem o mais pessimista dos torcedores pensaria que levaríamos quase 20 pontos do Japão e terminaríamos com derrota em todos os jogos.

Já a masculina ganhou de forma emocionante da Espanha na 2ª rodada, mas depois de deixar a vitória contra a Argentina escapar no fim de tempo regulamentar, de nada adiantou: fomos eliminados também na 1ª fase com vitórias apenas contra Espanha e Nigéria.

Se nada era esperado da equipe feminina, da masculina era esperado mais, mesmo sabendo que tinha ficado em um grupo bem complicado.

Boxe

Medalha: 1 ouro (Robson Conceição no peso leve masculino)

Resultado: acima do esperado

O boxe pela 2ª vez consecutiva foi uma grata surpresa. Esperava-se mesmo uma medalha de Robson no boxe – a única esperada; mas uma de bronze, não de ouro, já que seria muito difícil Robson derrotar o cubano bi campeão olímpico e tri mundial Lazaro Alvares nas semifinais. Porém ele não só derrotou, em luta apertada, como conquistou um ouro inédito no boxe brasileiro.

Além dele o Brasil conseguiu duas quartas de final, com Michel Borges e Andreia Bandeira e 3 oitavas de final. Dos 8 boxeadores derrotados, 2 foram derrotados pelos futuros campões olímpicos e outros 2 por finalistas, ou seja: fosse a chave um tantinho menos cruel poderia ter pintado mais uma ou duas medalhas.

Canoagem Velocidade

Medalha: 2 pratas (Isaquias Queiroz no C1 1000m e Isaquias e Erlon Souza no C2 1000m)

1 bronze (Isaquias Queiroz no C1 200m)

Resultado: acima do esperado

Muitas esperanças eram depositadas em Isaquias, até de um ouro junto com Erlon na C2 1000m. Porém, o ouro, que não era barbada na C2, foi recompensado com um bronze na C1 200m, prova que não é a especialidade de Isaquias.

C1 200m e C1 1000m são duas provas completamente diferentes na canoagem e Isaquias conseguiu medalhar em ambas, conquistando as 3 medalhas que se pode conseguir na canoa. Ótimo trabalho.

Espero que o treinamento com o treinador espanhol Jesus Morlan continue, pois Erlon e Isaquias ainda são jovens e só devem atingir o ápice em Tóquio 2020.

Canoagem Slalom

Medalha: nenhuma

Resultado: dentro do esperado

Da Canoagem Slalom não era esperada muita coisa. Ana Sátila, nossa maior esperança, sequer passou para as semifinais. Mas Pedro da Silva não só foi à final no K-1 como conseguiu um 6º lugar, o que salvou o que se esperava da canoagem slalom

Ciclismo BMX

Medalha: nenhuma

Resultado: sem avaliação

Ciclismo Estrada

Medalha: nenhuma

Resultado: dentro do esperado

Dos 4 brasileiros na prova de estrada, a única de quem ainda se esperava um bom resultado era Flavia Oliveira, o que ela fez terminando a prova em uma honrosa 7ª posição.

Ciclismo Mountain Bike

Medalha: nenhuma

Resultado: sem avaliação

20160811_161539Ciclismo Pista

Medalha: nenhuma

Resultado: dentro do esperado

Nosso único representante no velódromo, após 20 anos, Gideoni Monteiro terminou em 13º lugar na prova do Ominium. Mais ou menos como previsto.

Esgrima

Medalha: nenhuma

Resultado: acima do esperado

Pela esgrima valeu pelas duas quartas de final alcançadas por Nathalie Moellhausen e Guilherme Toldo, as primeiras na história da esgrima brasileira.

Não se pode creditar o resultado de Nathalie a um trabalho brasileiro, já que apesar de ser ítalo brasileira Nathalie teve toda sua formação na Itália, onde chegou a ser campeã olímpica por equipes e veio para o Brasil dentro das várias “naturalizações” feitas para compor equipe em esportes nos quais o Brasil não tinha tradição.

Porém Guilherme Toldo foi um atleta todo formado no Brasil e não há “desculpas” para o resultado dele. Por isso digo até que este foi o maior resultado do Brasil na esgrima em 2016, mesmo que tenha chegado na mesma fase de Nathalie. Inclusive Toldo derrotou na 2ª fase o atual campeão mundial, Yuki Ota.

Quem decepcionou foi Renzo Agresta, de quem se esperava um bom resultado e foi eliminado por 15 a 3 na 1ª fase ainda.

Futebol

Medalhas: 1 ouro (equipe masculina)

Resultado: dentro do esperado

Finalmente o futebol masculino desencantou e trouxe o tão aguardado título olímpico para o Brasil. Valeu tudo, até tirar Neymar da Copa América para disputar os Jogos Olímpicos; mas finalmente a seleção brasileira cumpriu com um favoritismo em torneio olímpico.

Quanto a seleção feminina, o 4º lugar foi uma tristeza por não dar medalha para uma equipe que batalhou tanto, mas foi até um resultado ligeiramente superior ao esperado tendo em vista as últimas competições internacionais desse time.

20160819_104154Ginástica Artística

Medalhas: 2 pratas (Diego Hypólito no solo masculino e Arthur Zanetti nas argolas)

1 bronze (Arthur Nory no solo masculino)

Resultado: acima do esperado

Na ginástica artística, as chances reais de medalha eram duas: Diego e Arthur, ambas concretizadas com uma prata. Além dessas ainda teve um bronze surpresa de Nory no solo, que contou com erros inacreditáveis de Mikulak, Uchimura e Shirai na final.

O ouro no solo não era esperado, mas depois do que ocorreu era bem possível, já que a nota de Diego pode até ser considerada um pouco baixa para o que ele apresentou e a diferença entre ele e o campeão Whitlock foi de um décimo apenas.

Já quanto a Zanetti se sabia que o ouro até era possível, mas improvável, pois precisaria de erros de Hao e Petrounias. O primeiro errou feio a saída – o que deixou a prata livre, mas o segundo cravou toda a série e tirou uma inacreditável, porém merecida, nota 16.

Se há algo que se pode reclamar da ginástica é apenas perguntar o porquê que Rebeca não arriscou um 2º salto para tentar ir à final do aparelho. Do jeito que a final transcorreu uma medalha era bem possível.

Amanhã, a segunda parte.

Imagens: Ouro de Tolo

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3 Replies to “Desempenho Brasileiro na Rio 2016: Parte I”

  1. Uma série com nota de partida um pouco mais alta e execução mais limpa levariam a Flavia Saraiva ao pódio na final da trave. A arbitragem pegou leve com a Biles mas a própria americana disse que achou a série da brasileira mais merecedora do bronze do que a dela. O atletismo não trouxe grandes resultados, como era esperado (infelizmente) mas ficou uma fagulha de esperança nas provas de campo. Na pista precisamos rever muita coisa.

    1. Gil,

      Sem dúvidas a Flavia poderia ter beliscado o bronze, mas seria um extra e a trave sempre é traiçoeira. Por isso eu nunca conto um resultado como esperado lá. A trave é tão complicada que essa sequer foi a primeira vez que eu vi Biles errando nesse aparelho.

      Eu também não conto a medalha da Flavia como roubada porque, mesmo descontando a “ajuda” para Biles, para mim a verdadeira dona da medalha de bronze foi a francesa Boyer, que também teve uma mão pesada dos julgadores.

      A Flavia cometeu dois erros médios e realmente fica difícil pedir uma medalha com isso.

      Sobre o atletismo nosso trabalho de pista está errado desde sempre. Até mesmo na época da geração de prata estava errado. O resultado espetacular apenas mascarou os erros. Concordo plenamente.

  2. Ótimo post! Partilho do mesmo ponto de vista, exceto pela canoagem slalom. Nunca imaginaria torcer por um brasileiro brigando por medalha como fiz vendo o evento pela tv… Mesmo que esperássemos um bom papel da Ana Sátila.

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