Eu poderia falar mais uma vez sobre arbitragem aqui. Poderia, porque essa foi a pior rodada do campeonato para os árbitros, com atuações abaixo da crítica em pelo menos cinco (metade) partidas. Mas, ao longo dessas 22 rodadas, eu acho que já falei demais sobre o assunto. É só dar uma olhada nos outros textos para ver o que eu penso. Sobre os erros em si, falo durante os parágrafos relativos aos jogos.

Hoje eu vou falar de uma coisa que já vem me incomodando faz um tempo, mas, nesse Brasileirão frenético de tantos assuntos sempre, acabou ficando para a rodada seguinte. Eu não me considero uma pessoa tradicionalista em excesso. Acho que os laços entre os torcedores e seus times se renovam de geração para geração e, por isso, não dá para querer que as coisas sejam sempre iguais. Fiquei sim triste ao ver o velho Maracanã morrer, ao ver o Corinthians abandonando o Pacaembu, o Grêmio deixando o Olímpico, mas não consigo lamentar as novas identidades criadas com o novo Mário Filho ou as Arenas do Timão e dos gaúchos. É natural, faz parte e só trouxe benefícios para quem torce.

Agora, existe uma tendência moderna de inovar em coisas que nada melhoram a vida de ninguém. A moda das camisas 3, por exemplo, chegou ao Brasil há uns sete ou oito anos e, nos últimos dois ou três, se intensificou. Eu não sou contra. Gera renda, é novidade e tal. Tudo certo. Agora, não dá para aceitar muito bem a dimensão que as coisas tomou. Uniforme 3 virou uniforme 1.

O Fluminense joga mais de verde que de tricolor; o Grêmio jogou boa parte do campeonato com aquela camisa que parece estar suja de barro; o Sport, depois de abandonar as listras horizontais, inventou uma camisa laranja e também usa e abusa do direito de usá-la; o Palmeiras, na Copa do Brasil, é azul; e o Corinthians, agora, criou uma terceira camisa que na verdade é a segunda: laranja. Não tem mais camisa preta. Ou joga de branco, ou de laranja. É o tal mundo moderno, em que alguém um dia entendeu que se uma camisa vende, tem de ser usada. Se não vende, tem de ser usada mais ainda para ver se vende. Eu entendo. Só não me peçam para gostar.

Joinville 0 x 0 São Paulo

Esse é o popular “zero a zero bom de ver”. O São Paulo enfrentou um Joinville surpreendentemente cauteloso em sua Arena e fez um primeiro tempo muito movimentado. Ganso jogou bem mais uma vez e comandou o setor de criação com precisão nos passes e ótima visão de jogo. O São Paulo, mais organizado, atacou com competência, usou muito bem das laterais e criou boas chances. O time vem enfrentando alguns problemas na hora de definir a jogada – ou demora demais para finalizar, ou finaliza mal.

O Joinville, mesmo com a proposta mais contida, fez ótimo primeiro tempo. Se organizou muito bem, marcou muito bem e investiu em saídas inteligentes no contra-ataque. No jogo aéreo, levou perigo. Foi um jogo intenso, bastante intenso. No segundo tempo, embora o ritmo tenha caído um pouco, apareceram as melhores chances, já que os dois times deram um pouco mais de espaço. Os dois goleiros foram bem e a trave também manteve o zero a zero até o fim. A defesa de Agenor em chute de Alexandre Pato no último lance da partida foi uma das mais incríveis do campeonato.

622_fe345e98-9bd4-3af8-af2b-d60b28a1319dInternacional 6 x 0 Vasco

Que vexame. Que vergonha. Que coisa bizarra. Não me parece interessante avaliar que a vitória do Vasco na Copa do Brasil seja apenas motivação por enfrentar o Flamengo. Tenho, na verdade, outra teoria. O Vasco começa um duelo na Copa do Brasil com o zero a zero no placar. Matematicamente, tem 50% de chance de passar e 50% de chance de perder. No Brasileirão, entra em campo sabendo que não importa o que aconteça. Ele vai, fatalmente, fechar a rodada na lanterna. O Vasco quer pular direto da última para a décima sexta posição. Quer mostrar em um jogo só que está pronto pro milagre.

Um milagre desses não se constroi em um jogo. É preciso fazê-lo jogo a jogo, dando um passo de cada vez. E o Vasco não consegue fazer isso. Com o pior time de sua história e completamente perdido, o Vasco é presa fácil para qualquer um. Como desgraça pouca é bobagem, pegou o Inter que fez um de seus melhores jogos no ano. Rápido, eficiente, de toques precisos e movimentação brilhante. Eficiente no jogo aéreo, pelo qual marcou o primeiro gol, perfeito na infiltração, pela qual saiu o segundo. Voltou para o segundo tempo com um ritmo impressionante, e achou o espaço para fazer o terceiro.

Inter que tem o talento de Valdívia para fazer do quarto gol um golaço. Que tem um jogo aéreo capaz de aproveitar bobagens na zaga adversária e fazer o quinto. Que arrisca, que chuta pro gol e marca o sexto. Um passeio de um Inter que talvez pague um preço alto demais por uns 40 dias de cochilo. O Vasco, por sua vez, coleciona números impressionantes: são oito gols marcados no Campeonato e 10 sofridos só nas três primeiras rodadas do segundo turno. São 13 pontos, terceira pior marca da história do atual formato, superando apenas os 10 do América de Natal de 2007 e do Náutico de 2013. É o pior ataque e a pior defesa desse formato. São seis jogos sem marcar gol. É um vexame de proporções impressionantes.

Ponte Preta 1 x 2 Cruzeiro

Aqui começa a questão da arbitragem. Vamos falar um pouquinho de futebol e dizer que o Cruzeiro jogou bem. Estava mais animado, foi eficiente, tranquilo, criou, chutou. Ainda dá muito espaço lá atrás, mas nada que seja fora do comum. A Ponte Preta foi mais uma vez muito mal. Definitivamente o desmonte no elenco destruiu o time e não sei se ele irá se recuperar. Ainda ia arrancando um empate, mas levou um gol nos acréscimos. Palmas para a persistência do Cruzeiro e para a trapalhada da defesa campineira.

Só que não dá para falar muita coisa desse jogo sem citar a arbitragem. A Ponte Preta teve um gol mal anulado em um lance que nem era tão difícil assim. Agora, o pênalti não marcado para a Macaca foi uma das coisas mais impressionantes que eu já vi nesse Campeonato. Foi “muito pênalti”. O Cruzeiro não tem nada com isso e até fez por merecer a vitória. Mas que a Nega Véia foi prejudicada, foi.

622_f1fedd8e-74c9-3303-bee9-54a5053f5c69Flamengo 3 x 0 Avaí

Eu não sou de ficar apontando dedo e dizendo que eu já sabia que tal coisa ia acontecer. Mas, nesse caso, sou obrigado a abrir uma exceção: eu avisei. Eu avisei que esse time do Flamengo ia dar caldo no Brasileirão. Futebol, isso eu sempre digo, é muito mais simples do que parece. Um bom time, hora ou outra, se acerta. Não se enganem com esse papo vazio de que “Flamengo é Flamengo”, “é time de chegada”. O time está crescendo e vai brigar por G-4 porque é o processo de evolução natural de um bom time. Se não tivesse tido tanto técnico ruim ao longo do ano, podia estar brigando por título.

O Flamengo mandou o jogo em Natal, o que me irritou à beça, e começou sendo surpreendido por um Avaí bastante animado. Logo o Flamengo neutralizou o adversário dominando o meio campo e as jogadas começaram a aparecer. O gol no início ajudou, deu mais tranquilidade e confiança, e também esfriou um pouco os catarinenses. O Flamengo venceu com naturalidade ainda não vista nesse Brasileirão. O segundo gol, por exemplo, foi resultado de toda uma boa atuação no jogo. O popular gol que era “questão de tempo”. E assim foi o terceiro. Vitória tranquila, praticamente sem ameaças. Agora eu quero ver quem segura.

atleticosAtlético Mineiro 0 x 1 Atlético Paranaense

A briga é boa, concorrentes não faltam, mas Marcelo de Lima Henrique e companheiros conseguiram fazer no Independência a pior atuação de um trio de arbitragem no Brasileirão de 2015. Foram, contando apenas lances capitais, seis erros inacreditáveis. Isso mesmo. Seis erros em lances capitais. Recorde absoluto. O primeiro, contra o Galo, ao expulsar Marcos Rocha por uma reclamação perfeitamente normal. Os mineiros ainda foram prejudicados com dois impedimentos mal marcados em lances promissores e com uma falta não marcada no lance que geraria o gol do adversário. Já o Furacão, teve um pênalti escandaloso não marcado a seu favor e uma expulsão ainda mais escandalosa não confirmada para Jemerson, dos donos da casa.

Falar do jogo depois de tudo isso é praticamente impossível, mas vamos lá. O Atlético Paranaense veio todo desmontado, com seis jogadores reservas. Até por conta disso, o time da casa dominou o primeiro tempo e perdeu um caminhão de gols. A zaga rubro-negra ia se virando do jeito que dava, mas estava difícil. Depois da expulsão, no fim do primeiro tempo, o jogo deu uma mudada. O Atlético Paranaense conseguiu sair mais pro jogo, bem mais, e foi chegando, chegando, chegando, até ter um pênalti (em um raro acerto do árbitro) e fazer o gol da vitória. Vitória que mostra que o time vai sim brigar por G-4, onde está no momento. Já o Galo, vai se complicando cada vez mais na briga pelo título.

Coritiba 0 x 0 Sport

Eu me recuso a gastar muitos caracteres com esse jogo horroroso. O Sport, mesmo que tenha jogado melhor, parece ter dado de ombros para o Brasileirão. É um time estranho, sem gana, sem vontade. Ficou nítido que, quando forçou, foi imensamente superior ao adversário. O problema foi justamente esse: praticamente não forçou. O Coritiba também não viveu o seu dia mais glorioso e o resultado foi o pior jogo da rodada.

corinthiansfluCorinthians 2 x 0 Fluminense

Embora esse jogo tenha tido uma interferência grave da arbitragem, prefiro começar dizendo que foi um jogão. O Corinthians fez um primeiro tempo brilhante. Aula de contra-ataque no golaço do garoto Marciel e um domínio pleno do meio para frente. Pelo volume das chances criadas, dava para tranquilamente ter ido para o intervalo vencendo por três ou quatro gols. Por outro lado, do meio para trás falhou muito, deu muito espaço para o Fluminense e também não seria de todo injusto ter levado o empate.

No segundo tempo, a segunda parte se manteve, mas a primeira não. O Fluminense dominou completamente o jogo, sufocou o Corinthians e jogou sozinho. Aí veio o empate em um gol inacreditavelmente mal anulado. Cícero estava em condição legal. Ou o bandeira viu muito mal o lance, ou interpretou erroneamente que Wellington Paulista participou da jogada. Noves fora o erro que decidiu o jogo, chamou a atenção mais uma vez a frieza do Corinthians, que soube responder bem à pressão, recuperou o controle do jogo e matou a parada com um gol de cabeça em uma sequência de erros infantis da zaga adversária. Vitória justa pelo que foi o jogo, mas que pode ser colocada na conta do bandeirinha. Erro decidiu o jogo.

Goiás 1 x 0 Palmeiras

E vamos seguindo falando de arbitragem. O primeiro tempo foi nível Marcelo de Lima Henrique no Independência. Foram dois gols mal anulados do Palmeiras (um ainda teve um pênalti não marcado para o Verdão) e um pênalti escandaloso não dado para o Goiás. No que sobrou do jogo, o Palmeiras foi muito bem. Faltou sorte na hora de concluir (Dudu não esteve bem) e o Goiás pouco ameaçou. O Palmeiras usou bem os espaços do enorme campo do Serra Dourada e parecia estar com a vitória encaminhada.

Mas quem voltou melhor para o segundo tempo foi o Goiás. Mais intenso, bloqueou o setor de criação do Palmeiras e foi pra cima. O gol fez justiça à superioridade esmeraldina na segunda etapa e o Palmeiras não teve mais forças para reagir. O Goiás segue com um aproveitamento impressionante contra os paulistas – 16 pontos conquistados em 18 disputados (lembrando que o time tem 25 no Campeonato todo), com 10 gols marcados e um sofrido (quando vencia o Santos por 4 a 0). O Palmeiras tem mais um tropeço. Ainda está firme na briga por G-4, mas é o tipo de coisa que não pode mais acontecer.

Santos 3 x 1 Chapecoense

Mais uma grande vitória do Santos, que em nenhum momento foi ameaçado. Jogando o mesmo futebol eficiente das últimas partidas, o Santos dominou completamente uma Chapecoense preguiçosa, tímida e conformada. O primeiro gol saiu pelo jogo aéreo, com Ricardo Oliveira. No mesmo ritmo, controlando o jogo, o Santos teve o pênalti mais absurdo da rodada, mas o mesmo Ricardo perdeu (é o quarto seguido). No segundo tempo, Geuvânio fez um golaço e encaminhou a vitória.

O Santos tem vencido suas partidas, especialmente na Vila Belmiro, com tranquilidade espantosa. Depois do terceiro gol, mais um de Ricardo Oliveira, o Peixe ainda se deu ao luxo de entrar em coma e ver a Chapecoense criar algumas poucas e boas chances, chegando a levar o gol de honra dos catarinenses. Terminar o Brasileirão no G-4 vai ser difícil, mas é cada vez mais possível.

Figueirense 0 x 2 Grêmio

Provavelmente o placar mais enganoso da rodada. O Figueirense começou animado, propondo o jogo, mas teve um descuido ainda antes dos 10 minutos e acabou saindo atrás no placar. A partir daí, dominou completamente o jogo. O Grêmio teve muitas dificuldades para propor o jogo, não criou praticamente nada e se viu encurralado no campo de defesa. O Figueirense perdeu pelo menos meia dúzia de chances. Três delas foram impressionantes – a mais impressionantes delas com Marcão, sem goleiro. Quem não faz… Toma

O Grêmio encaixou um contra-ataque de rara felicidade e definiu o jogo com Pedro Rocha. Vitória importante pensando em G-4, mas a própria atuação da equipe deixa evidente que brigar pelo título não parece condizer com a realidade do Imoral para este 2015. Com o Figueirense, é justamente o contrário. O Z-4 está logo ali, mas tem time para fazer mais que isso.

Classificação

Essa é a classificação do Brasileirão a 16 rodadas do fim.

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Público e Gols

– Rodada ruim em termos de público, com média inferior a 14 mil torcedores por partida. A média do Campeonato voltou a baixar de 17 mil e agora está em 16.924 torcedores por jogo. Eis aí o comparativo com os outros anos: 11.572 em 2006, 14.517 em 2007, 15.067 em 2008, 15.428 em 2009, 13.853 em 2010, 13.681 em 2011, 12.001 em 2012, 14.128 em 2013 e 14.974 em 2014.

– Ainda não foi dessa vez que chegamos aos 500 gols. Com os 22 dessa rodada, são 498 no Brasileirão. Nos outros anos, os gols foram 593 em 2006, 607 em 2007, 567 em 2008, 640 em 2009, 530 em 2010, 601 em 2011, 545 em 2012, 557 em 2013 e 471 em 2014.

Palpites para a 23ª rodada

Vasco x Atlético Mineiro – Sábado, 5/9, às 19h30, no Maracanã, no Rio de Janeiro

Não tem nem muito o que falar. Apostar no Vasco a essa altura do Campeonato seria loucura demais até para mim. 2 a 0 para o Galo.

São Paulo x Internacional – Sábado, 5/9, às 19h30, no Morumbi, em São Paulo

Grande jogo entre dois times que viveram altos e baixos na temporada e agora estão firmes na briga pelo G-4. Por jogar em casa, aposto no Tricolor. 2 a 1 para o São Paulo.

Atlético Paranaense x Joinville – Sábado, 5/9, às 21h, na Arena da Baixada, em Curitiba

Em ótima fase, o Furacão tem mais um jogo para seguir firme no G-4. O resultado natural é uma vitória. 3 a 1 para o Furacão.

Chapecoense x Ponte Preta – Domingo, 6/9, às 11h, na Arena Condá, em Chapecó

Outro jogo sem muito mistério. Jogando em casa, com um time melhor e em melhor fase, tudo se encaminha para mais uma vitória da Chape. 2 a 0 para os catarinenses.

Cruzeiro x Figueirense – Domingo, 6/9, às 11h, no Mineirão, em Belo Horizonte

O Cruzeiro tem sido um time bastante irregular, mas com a chegada de Mano Menezes tende a ter um fim de Brasileirão tranquilo. Isso, claro, se não desperdiçar pontos como esses de domingo. 1 a 0 para os donos da casa.

Grêmio x Goiás – Domingo, 6/9, às 16h, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre

Está muito mole apostar nessa rodada. A menos que volte a jogar mal como contra o Coritiba, o Grêmio deve vencer sem sustos. 2 a 1 para o Imortal.

Palmeiras x Corinthians – Domingo, 6/9, às 16h, no Allianz Parque, em São Paulo

O grande jogo da rodada. São dois dos grandes times do Brasil no momento, sendo o Corinthians o time mais regular no momento. Por jogar em casa e pela dificuldade que o rival vem tendo contra times mais fortes, aposto numa quebra na sequência vencedora do Timão. 2 a 0 para o Palmeiras.

Fluminense x Flamengo – Domingo, 6/9, às 16h, no Maracanã, no Rio de Janeiro

O Flamengo tem mais time, vive momento melhor, está mais empolgado e tal. Mas, já diz o outro, clássico é clássico e vice-versa. Jogo difícil para apostar, de modo que fico em cima do muro. Empate em 1 a 1.

Avaí x Coritiba – Domingo, 6/9, às 16h, na Ressacada, em Florianópolis

Jogo fundamental para os dois times na briga pela manutenção na Série A. O Coritiba vem jogando bem, mas a Ressacada é sempre difícil para quem joga lá. Assim sendo, vou com o Leão. Vitória avaiana por 2 a 1.

Sport x Santos – Domingo, 6/9, às 18h30, na Ilha do Retiro, em Recife

Como eu disse, o Sport anda muito estranho. É um jogo equilibrado, entre dois bons times, com o Santos estando em um momento muito melhor. Sem muita segurança, vou apostar no fator casa. 2 a 1 para o Sport.

Simulador

A novidade do simulador é a inclusão do Santos no G-4.

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