O editor chefe e fanfarrão Pedro Migão pediu a todos os colunistas que fizessem colunas sobre as Olimpíadas. Fazer o quê né…

Não sou especialista em nada olímpico; sou apenas um torcedor como a grande maioria e não tenho vontade nenhuma de ser especialista. Vejo companheiros entusiasmados porque vão assistir final de golpe feminino, eliminatórias de luta livre, esgrimas e eu to nem aí pra essas coisas. Tenho vontade nenhuma de sair de casa para assistir eliminatória de frescobol por equipes. Mas fico em casa de boa vendo tv e assistindo algo. Desde que não seja na hora de um filme ou novela boa, que acabo preferindo.

Minha experiência olímpica toda é de sofá e continuará sendo e do sofá tive a experiência olímpica mais forte e que é o retrato da vida.

Gabrielle Andersen.

Ok, você não sabe quem é Gabrielle Andersen, eu não sabia quem era até olhar o Google. Mas todo mundo que tem perto dos 40 anos conhece essa mulher. Ela é a imagem das Olimpíadas de 1984.

Lembrou, né? Sim. A mulher cambaleante cruzando a linha de chegada.

Gabrielle foi uma maratonista suíça. Não tenho a mínima ideia de seus resultados anteriores ou posteriores na carreira. Também não tenho a mínima ideia de quem venceu a maratona. Mas ela eu sei. Vi ao vivo aqueles longos minutos de agonia com a atleta cambaleante praticamente se arrastando até a linha de chegada. Gabrielle teve todos os problemas possíveis. Desidratada, desorientada pelo calor, câimbra na perna esquerda. Foi terrível.

Quem estava fazendo alguma outra coisa parou pra ver; todos foram à frente da TV. O mundo inteiro se mobilizou e arrastou Gabrielle até a linha de chegada. Empurrou a maratonista para cruzar a linha daquela que era a única maratona olímpica que correria na vida. Correr? Não, ela não correu. Ela flutuou para a história.

Gabrielle Andersen é uma das maiores vencedoras da história dos esportes, mesmo acabando em 33° entre 44 competidoras.

E por quê ela é, se fracassou?

Porque nós somos feitos de fracassos. Mesmo as pessoas mais vitoriosas fracassam muito. O que você planejava ser criança quando se transformasse em adulto? Conseguiu? Quando vai deitar faz isso com a sensação que conseguiu fazer exatamente tudo que queria ao acordar?

Não se engane, caro leitor. O ser humano foi feito para fracassar. A maioria dos planos que fazemos dão errado. Mas o que difere uma pessoa vitoriosa de uma derrotada é a forma que ela lida com o fracasso.

Tem gente que se deprime, tem gente que desiste.

maratona_Gabriela_AndersenTem gente que se arrasta até a linha de chegada.

Gabrielle soube lidar com o fracasso e entrou para a história.

Wanderley Cordeiro de Lima teve uma carreira de pouco brilho e em uma prova teve chance de ser campeão olímpico. Um padre maluco não deixou, lhe arrastando para fora da prova. Teria sido campeão? Não sei. Ainda faltava um bom pedaço de prova e apesar dele liderar não tinha nada ganho.

Mas perdeu essa chance. Poderia ter socado o padre, sentado no meio fio e chorado, mas seguiu em frente para buscar o terceiro lugar.

Quem ganhou aquela prova? Sei lá. Mas todo mundo conhece a história de Wanderley e a injustiça que sofreu. O terceiro valeu demais. Para toda a existência Wanderley será lembrado como o cara que iria vencer as Olimpíadas e foi impedido, mesmo a gente nunca tendo a certeza se realmente venceria.

O fracasso que valeu ouro.

Ter se arrastado foi a melhor coisa que ocorreu para Gabrielle Andersen, ser puxado pelo padre a Wanderley Cordeiro de Lima porque eles nunca foram tão grandes quanto no momento em que foram expostos em dificuldades.

Se pensarmos que Olimpíadas têm por trás daquele lema pra boi dormir “importante é competir” (isso é besteira, todo mundo quer ganhar) gente como Ben Johnson e outros que até violentam o corpo para vencer, o feito deles cresce ainda mais.

Nós idolatramos os super heróis, mas nos identificamos mesmo é com os “fracassados” que se superam. Nós não somos Michael Phelps, somos Gabrielle Andersen.

Porque não há nada mais humano que o fracasso.

Não há nada mais humano que a superação.

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