O Brasil foi eliminado da Copa América mais cedo do que se imaginava e, mais uma vez, estamos aqui discutindo soluções para tirar o nosso futebol do buraco. Todo mundo, aliás, sabe o que fazer. Uns querem acabar com a CBF, outros acham que a saída é deixar o Dunga desempregado; uma parte acha que convocar o Kaká resolve tudo, outra pensa que a saída é proibir os jogadores de usarem fones de ouvido. Mas uma solução comum para muitas dessas pessoas é o tal do técnico estrangeiro. Não um técnico estrangeiro específico, mas sim um técnico estrangeiro.

“Técnico Estrangeiro” virou sujeito definido. É ele e pronto. Eu até entendo, pois também sou a favor de uma mudança na filosofia do nosso futebol e acho que ela só seria alcançada através de um “teacher” e não de um “professor” (não exatamente por ser “teacher” mas porque “professor” não tem filosofia nenhuma). Só que de vez em quando a realidade teima em atrapalhar nossos planos. O São Paulo, por exemplo, contratou um técnico estrangeiro dos bons, o Juan Carlos Osório. Domingo foi o segundo jogo dele, o primeiro clássico. E ele foi expulso.

Por que? Bom, vou tomar a liberdade de transcrever a súmula do árbitro da partida: “o mesmo aguardou a passagem da equipe de arbitragem, vindo em minha direção com o dedo em riste, dizendo: ‘a advertência do meu jogador foi injusta, você errou, você está equivocado'”. Sim, foi por isso. Aqui no Brasil, dizer que o juiz está errado é crime. É de um surrealismo tão grande que o juiz ainda tem a cara-de-pau de dizer que Osorio estava com “o dedo em riste” para tentar justificar o abuso. O treinador são-paulino mostrou uma sincera perplexidade com a situação. Não, não foi indignação. Foi perplexidade mesmo. Não entra na cabeça dele, como não deve entrar na de nenhum estrangeiro, que as coisas funcionem assim. Aí eu pergunto: será que “O Técnico Estrangeiro” vai conseguir trabalhar aqui? É melhor cortar o dedo. Só por precaução. Vamos aos jogos da rodada.

Chapecoense 1 x 1 Sport

No fim de semana em que muito se concluiu que o futebol brasileiro está morto e enterrado, temos bons motivos para sorrir. Chapecoense x Sport foi um deles, por exemplo. Não são dois gigantes do futebol brasileiro, nem tem elencos milionários ou estádios espetaculares, mas fizeram um jogo de altíssimo nível técnico. São dois dos times que mais me agradam taticamente no Brasil hoje e vão contra tudo aquilo que se fala do nosso futebol: jogam para frente, tocam bem a bola, marcam bem. Dá gosto de ver.

O jogo começou com o Sport assumindo as rédeas. Melhor na tabela e melhor tecnicamente, se impôs e chegou ao gol em uma cobrança de falta que na verdade deveria ter sido marcada para a Chapecoense. Depois do gol, os catarinenses despertaram, adiantaram um pouco a marcação, fecharam os espaços e impediram que o Sport chegasse. A equipe catarinense foi melhor na segunda etapa, criou boas chances de gol, mas seus homens de frente não pareciam viver um dia inspirado. Quando a vitória pernambucana parecia encaminhada, veio o gol de um justo empate que manteve o Sport na ponta e não esfriou muito o ânimo da Chapecoense após a vitória contra o Cruzeiro.

img_9789_3Avaí 1 x 2 Grêmio

Os 10 primeiros minutos foram um jogo à parte. Com 30 segundos, o Avaí dormiu e o Grêmio fez 1 a 0. Com 10, em uma bela cobrança de falta, 2 a 0. Depois, foi um jogo bem equilibrado. É bem verdade que a boa vantagem deixou o Grêmio tranquilo para controlar o jogo e o Avaí desesperado para descontar rapidamente, o que, é claro, deixou os catarinenses mais tempo no ataque. Ainda assim, dá para dizer que, não fosse aquele começo tão ruim, a história do jogo poderia ter sido outra.

O Avaí, como eu já disse algumas vezes, é uma das boas surpresas do Brasileirão. O time tem alguns problemas, deve brigar para não cair, mas tem chamado minha atenção, sobretudo no campo de ataque. Ataca com muita consciência e é bastante veloz. Méritos, diga-se de passagem, do treinador Gilson Kleina. No segundo tempo, o azul-e-branco de Florianópolis diminuiu com um gol de pênalti e até pressionou no fim, mas acabou pagando pelo início ruim. Boa vitória do Grêmio, que também faz um Campeonato muito acima do que se esperava.

Corinthians 2 x 1 Figueirense

Como eu também já escrevi aqui, o Brasileirão do Corinthians deve ser essa montanha russa. Joga bem um dia, joga mal em outro. Sonha com título em um dia, faz conta para chegar aos 46 pontos no outro. No fim das contas, não é time nem para uma coisa, nem para outra. Como tem muito time forte decepcionando, pode até brigar por vaga na Libertadores e vem fazendo uma campanha para tal. Sábado, na Arena Corinthians, jogou bem contra o Figueirense, mas, mesmo vencendo, mostrou que tem limitações.

O jogo começou todo do Corinthians. Rodando bem a bola, usando as laterais, atacando. Atacando mal, mas atacando. Até criou uma chance ou outra, mas não foi nada muito espetacular. Só que na segunda metade da etapa inicial quem dominou o jogo foi o Figueirense. A zaga do Corinthians mostrou estar em uma fase terrível e o Figueira, que tem um time bem melhor do que sua posição pode sugerir, teve boas chances de abrir o placar. No segundo tempo, porém, o Timão se acertou e encaminhou a vitória tendo em Jadson e Malcon seus principais nomes, fazendo 2 a 0. O Figueirense ainda diminuiu no fim, mas já era tarde.

Atlético Mineiro 1 x 0 Joinville

Até o técnico Levir Culpi disse que o Atlético jogou mal, então não sou eu que vou falar o contrário. Mas, para ser bem sincero, não acho que o Galo tenha merecido uma vitória tão simples não. Durante quase todo o jogo, foi amplamente superior ao Joinville. Impulsionado pela Massa que lotou o estádio, o time mineiro atacou, pressionou, teve grandes oportunidades, sobretudo na primeira etapa, e chegou ao merecido gol com Leonardo Silva. Podia ter feito mais ainda no primeiro tempo, mas faltou pontaria.

Também é preciso dizer que o Joinville, dentro de suas limitações, foi bem. Marcou bem, fechou os espaços e só não complicou a vida do Galo porque não teve uma boa saída no contra-ataque. No segundo tempo, de fato, o Atlético deixou a desejar. Mas não foi nada desesperador. Venceu, é vice-líder e cada vez mais se coloca como um dos maiores postulantes ao título. Pode não dar show o tempo todo, mas é um grande time.

jogadores-do-palmeiras-comemoram-gol-de-leandro-pereira-contra-o-sao-paulo-1435522293652_956x500Palmeiras 4 x 0 São Paulo

Rapaz, que coisa hein? Que surpresa. Tem muita gente tirando sarro do Rogério Ceni por ele ter dito que o placar não representa o que foi o jogo, mas eu devo dizer que ele está certo. Muito embora o Palmeiras tenha feito seu melhor jogo em sabe lá Deus quanto tempo, a história poderia sim ter sido bem diferente. O São Paulo começou muito bem. Alexandre Pato estava inspiradíssimo, Luis Fabiano também vinha bem e as chances foram saindo. E foi justamente aí que o Palmeiras teve seu grande mérito: não só resistiu, como soube dar a resposta.

Quando respondeu, ainda contou com a sorte. Um desvio que enganou o arqueiro Tricolor deixou o Palmeiras em vantagem. O São Paulo novamente foi pra cima, criou boas chances, podia ter empatado… e o Palmeiras fez o segundo em um cochilo da zaga rival. Ali, o jogo acabou. O São Paulo até tentou reagir na etapa final, mas logo perdeu as forças e o Palmeiras, com um show de frieza e precisão, transformou a vitória em goleada. Um 4 a 0 impiedoso que de fato não representa o que foi o jogo, mas que não chega a ser injusto. Em resumo: o São Paulo não merecia o 4 a 0, mas o Palmeiras mereceu. Se jogar assim, tem tudo para fazer uma boa campanha. O São Paulo, por sua vez, está longe de viver um Inferno. Ainda é um dos grandes favoritos.

Ponte Preta 2 x 1 Atlético Paranaense

Outro jogo para a gente ficar mais tranquilo quanto ao futuro do nosso futebol. O jogo em Campinas foi muito bem jogado. O Atlético começou muito bem, surpreendendo a Ponte e abrindo o placar. Depois, a Macaca campineira passou a controlar a partida. Não chegou a ser um domínio, mas foi superior. A Ponte, que tem como virtude centralizar muito bem as jogadas, usou mais as laterais, que é uma fragilidade do Atlético Paranaense.

Assim, com certa naturalidade, os dois gols saíram. Perdendo o jogo, o rubro-negro do Paraná até ensaiou uma pressão no fim, mas não conseguiu atacar com a competência habitual. A Ponte Preta, por sua vez, marcou com a competência de sempre e voltou a vencer. Mais até do que o líder Sport, a Macaca deve ficar por ali, sempre entre os primeiros, durante todo o Campeonato. Já o Atlético, mesmo sem motivos para arrancar os cabelos, deve ser um time para meio de tabela.

CORITIBA X CRUZEIRO 15JCCoritiba 1 x 0 Cruzeiro

Coitada da bola. Apanhar assim por 90 minutos não deve ser fácil não. Que jogo tenebroso… O Cruzeiro é o mais novo mistério desse Brasileirão. Simplesmente não dá pra entender o que se passa com esse time que mais uma vez foi muito mal. Nem assustar o péssimo time do Coritiba conseguiu. O Coxa, por sua vez, mesmo aos trancos e barrancos, foi bem. Mais na base da vontade do que na técnica, criou suas possibilidades de gol e achou um golzinho para vencer o jogo. Para sair do buraco em que se enfiou vai precisar de mais do que isso, mas pelo menos está se acertando.

Goiás 1 x 2 Fluminense

Muito boa vitória do Fluzão. O time pagou caro por uma estratégia totalmente equivocada do treinador Enderson Moreira, a de povoar excessivamente o meio campo e deixar o homem de frente isolado. Isso fez o Fluminense perder sua ligação com o ataque e, ao mesmo tempo, deu chance para o Goiás ganhar a bola no meio de campo e atacar. Em um ataque rápido, por exemplo, que começou já no campo de defesa do Flu, os goianos abriram o placar. Com a saída de Gerson, que não estava bem, no intervalo, e a entrada de Lucas Gomes, o Fluminense ganhou campo no ataque e tomou o controle do jogo.

O empate do Fluminense veio em uma boa jogada realizada pelo lado direito. Depois, quase que o Gum pôs tudo a perder sendo expulso em um pênalti totalmente infantil. Mas Cavalieri pegou o pênalti e depois o Fluzão conseguiu a virada. Vitória importante, que dá moral e ratifica o bom momento da equipe carioca. O Goiás desperdiçou pontos preciosos que podem fazer falta lá na frente. Poderia ter matado o jogo e acabou perdendo.

Internacional 1 x 0 Santos

Foi outro dos bons jogos dessa rodada. O Internacional, mesmo com preguiça e não dando a mínima importância para o Brasileirão, é melhor que a maior parte dos times do Brasileirão. Não necessariamente que o bom time do Santos, que foi melhor durante parte considerável da primeira etapa e só não foi pro intervalo em vantagem por falta de pontaria. O Internacional equilibrou um pouco mais o jogo no segundo tempo e, com o passar do tempo, foi tomando o controle do jogo. Mais na sorte do que no jeito, Valdívia fez um golaço e deu a vitória ao Colorado. O Santos, que logo em seguida perdeu David Braz (pelo mesmo motivo que o São Paulo perdeu Osorio, embora o Braz tenha sido um pouco mais grosseiro), não conseguiu se recuperar.

CV_Vasco-e-Flamengo-Arena-Pantanal-Brasileira-2015_280620150001-850x474Vasco 1 x 0 Flamengo

O jogo mais lamentável da rodada e talvez o mais lamentável de todo o Brasileirão. Um dos piores times da história do Vasco contra um Flamengo desesperado, que não consegue trocar três passes. Pior: jogando em Cuiabá para menos de 15 mil pagantes. Um desrespeito completo à história e à grandeza dos dois times. O Vasco foi menos pior no primeiro tempo e conseguiu o gol, o que deu ao cruzmaltino a liberdade de passar os 45 minutos finais dando bicões desesperados para onde apontava o nariz. O Flamengo, impotente e sem nenhuma confiança, praticamente não assustou. Vitória do Vasco em um jogo onde todos perderam. O alvinegro da Colina ainda respirou um pouco no Campeonato e ficou um pouco mais perto de sair do Z-4. O Fla, mesmo com um ponto a mais, vai ter dias difíceis pela frente. A tão almejada Libertadores, pelo menos via Brasileirão, está ficando distante demais.

Classificação

Passado quase metade do primeiro turno, está aí a Classificação do Campeonato Brasileiro.

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Público e Gols

– Em média, mais de 18.300 pessoas foram aos jogos da nona rodada do Brasileirão, o que é bastante superior ao que costumamos ver por aqui. Com isso, a média de público passou a ser de 14.188 torcedores por jogo, ligeiramente inferior a 2007 (14.901) e 2009 (14.502), adotando as nove primeiras rodadas como parâmetro, e superando 2006 (10.738), 2008 (13.403), 2010 (11.767), 2011 (12.353), 2012 (11.510), 2013 (13.545) e 2014 (12.289).

– Com muito sufoco, passamos dos 200 gols no Brasileirão. São 204 agora, média de 2,27, superando apenas as nove primeiras rodadas do ano passado, quando tivemos média de 2,12, mas apanhando e muito dos demais anos na Era dos Pontos Corridos com 20 clubes: 2,63 em 2006, 2,87 em 2007, 2,37 em 2008, 2,88 em 2009, 2,59 em 2010, 2,57 em 2011, 2,54 em 2012 e 2,6 em 2013.

Palpites para a 10ª rodada

Sport x Internacional – Quarta-feira, 1/7, às 19h30, na Ilha do Retiro, em Recife

Jogo difícil para palpitar. Vai depender muito da vontade do Internacional, mas acho que a força da Ilha do Retiro vai jogar a favor dos pernambucanos. 2 a 1 para o líder do Brasileirão.

Vasco x Avaí – Quarta-feira, 1/7, às 19h30, em São Januário, no Rio de Janeiro

Ano passado o Avaí enfiou 5 a 0 no Vasco em pleno São Januário pela Série B. Mas acho que, pelo incrível que pareça, o Vasco vai conseguir embalar no Brasileirão. 2 a 0 para o Vasco.

Atlético Mineiro x Coritiba – Quarta-feira, 1/7, às 21h, no Independência, em Belo Horizonte

Mais uma vitória tranquila para a conta de Levir Culpi e cia. Galo faz 2 a 0.

Palmeiras x Chapecoense  – Quarta-feira, 1/7, às 21h, no Allianz Parque, em São Paulo

Bom jogo e bom teste para esse Palmeiras do Marcelo Oliveira. Principalmente pela boa vitória no clássico, acho que o Verdão conquista mais três pontos. 2 a 1 para o Palmeiras.

Atlético Paranaense x São Paulo – Quarta-feira, 1/7, às 22h, na Arena da Baixada, em Curitiba

Outro jogo dos bons. O Atlético vem de três jogos sem vencer, o São Paulo de dois e de uma surra num clássico. Acho que vai dar empate para os dois saírem insatisfeitos. Tudo igual, 1 a 1.

1434597444_430628_1434597968_noticia_grandeJoinville x Flamengo – Quarta-feira, 1/7, às 22h, na Arena Joinville, em Joinville

Tempos atrás, ao palpitar num jogo do Corinthians (também contra o JEC), falei em “roteiro da crise” corinthiana e que esse roteiro envolvia uma derrota em Santa Catarina. Com o Flamengo, é mais ou menos a mesma coisa. 1 a 0 para o time da casa.

Grêmio x Cruzeiro – Quarta-feira, 1/7, às 22h, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre

Esse jogo está com cara de 1 a 0, só não consigo ter certeza de quem vai vencer. Meio no escuro, acho que vou ficar com o Grêmio. Tricolor vence por 1 a 0.

Corinthians x Ponte Preta – Quinta-feira, 2/7, às 19h30, na Arena Corinthians, em São Paulo

Outro dos grandes jogos da rodada. Se quando o Corinthians estava em sua melhor fase a Ponte já jogou de igual para igual e perdeu por acaso, agora seria até lógico que vencesse. Em todo caso, vai ser um jogo equilibradíssimo. Empate em 1 a 1.

Figueirense x Goiás – Quinta-feira, 2/7, às 19h30, no Orlando Scarpelli, em Florianópolis

A tabela do Figueirense nesse começo de Brasileirão foi um tanto ingrata. Agora começa a ficar mais interessante para os catarinenses. Figueira vence por 3 a 1.

Fluminense x Santos – Quinta-feira, 2/7, às 21h, no Maracanã, no Rio de Janeiro

Talvez a boa fase do Fluminense se explique pelo fato de eu sempre apostar contra. Nesse grande jogo de quinta, tiremos a prova dos nove. Fluminense faz 2 a 1.

Simulador

Se não me falha a memória, o resultado do meu simulador foi bem parecido com o da rodada passada.

Captura de tela 2015-06-29 às 18.22.38Imagens: Atlético Mineiro, Ge.com, Uol, Gazeta do Povo