Na última postagem feita por mim, falei um pouco da história dessa agremiação que competia a popularidade com a União da Ilha do Governador no bairro. Passando desde a sua transformação de bloco em escola de samba, o crescimento, o auge do Boi da Ilha e seu declínio.

A esperança da Nação Boiadeira eram as eleições. A mudança dos rumos da agremiação, superar os problemas, corrigir os erros, pagar dívidas, trazer a comunidade da Freguesia de volta ao Boi, criar uma identidade com a cara do auge de seus desfiles. A eleição que deveria ter ocorrido no dia 12 Abril não foi divulgada no edital do jornal do bairro. A prestação de contas da agremiação não foi feita. Logo, não se sabe quanto de dinheiro do Boi da Ilha foi gasto, quanto foi angariado, se houve rombo ou algo to tipo.

A inscrição de chapas foi anunciada de boca em boca para impedir que outras forças, insatisfeitas com a gestão do presidente Gino Mandriola ficassem de fora da disputa. Porém, o grupo de oposição Reage Boi da Ilha teve conhecimento do evento. Ocorreu 5 dias antes da eleição e contou com a presença da chapa de situação e opositores. Todos estavam presentes desde a primeira chamada de inscrição. Não houve problemas a não ser provocações e argumentações. A lista de sócios fundadores e contribuintes foi apresentada e apesar de algumas ressalvas tudo ficou em ordem.

No dia em que iria ocorrer a eleição na data e hora combinadas entre ambas as forças eis que, na porta do local onde ocorreriam as votações, estava colada a lista de sócios com direito a voto completamente alterada. Nomes da lista que foi apresentada no dia da inscrição de chapas haviam desaparecido e outros haviam surgido. Além disso, a lista ainda foi reduzida. Integrantes do grupo Reage Boi da Ilha foram impedidos de adentrar o local sujeitos a repreensão de um segurança contratado pelos candidatos da situação.

A Polícia Militar estava no local a pedido do grupo da situação liderado por Mestre Arerê e Gino Mandriola com o argumento que a oposição havia feito agitação e desordem no dia da inscrição de chapas. A viatura da polícia logo partiu ao perceber que ninguém ali causou ou causaria qualquer tipo de confusão.

Membros da LIERJ estavam no local para intermediar a situação e entender o que estava ocorrendo. Os únicos a poderem entrar no local sem o nome na lista foram Aloísio Villar, candidato a presidência da oposição e a imprensa. Enquanto isso, senhoras e senhores de idade, sócios fundadores do Boi da Ilha do Governador, aguardavam de pé, do lado de fora, por uma resolução do problema que havia surgido.

Não houve o mínimo de respeito a essas pessoas que tanto fizeram pela escola de samba. O que foi decidido de todo aquele impasse era que as eleições não iriam ocorrer naquele dia. Teria de ser postergada e o conselho fiscal e deliberativo iriam se reunir para que contas fossem prestadas e a nova data fosse remarcada.

Nesse meio tempo o Mestre Arerê já era apresentado como presidente da agremiação como se já tivesse sido votado.

eleiçãoboi-300x168A nova data de eleição foi estabelecida: Dia 31 de Maio. Desta vez com divulgação do edital no jornal do bairro. Agora todos poderiam ter conhecimento do que estava ocorrendo e quem quisesse se organizar para disputar as eleições poderia se movimentar ou se juntar a uma das duas forças. A inscrição de chapas iria ocorrer no mesmo dia das eleições algumas horas antes.

E a inscrição só poderia ser feita por sócios da listagem que somente o presidente em exercício, Gino Mandriola, detinha. Para surpresa de muitos (ou somente para quem não faz parte do grupo da situação), a listagem de sócios aptos a votação estava ainda menor. O presidente do conselho deliberativo foi impedido de adentrar o local da eleição e nenhum membro do grupo Reage Boi da Ilha constava como apto para pleitear a vaga na lista completamente enxuta que foi divulgada.

Por fim, a eleição ocorreu da maneira que um determinado grupo de pessoas outorgou, que se encaixam somente em um nicho específico. Resultado desse problema: A chapa da situação encabeçada por Mestre Arerê foi eleita com míseros 14 votos. Sendo 10 votos de pessoas da própria chapa e 4 que não tinham outra alternativa ou que já estavam certos em insistir na chapa que trouxe ao Boi três rebaixamentos consecutivos e algumas notas zero dos jurados, ou que não tinham outro alternativa se não a única chapa que estava inscrita.

A agremiação que já pensou em beliscar uma vaga entre as escolas do Grupo Especial parece que se resumiu a 14 pessoas. 14 votantes de 46 aptos a votar. Não há interesse em mobilizar o restante dos sócios? O Boi que de mais de 1.000 componentes em um desfile, passou a desfilar com dezenas de pessoas e atualmente amarga a posição desfavorável de quase seguir a liga de blocos de enredo do Rio de Janeiro. Os boiadeiros não devem conseguir enxergar um futuro tão brilhante de acordo com o retrospecto dos últimos três anos. A maior dúvida que deve pairar na mente dessas pessoas pode ser de como um diretor de barracão que não colocou uma alegoria no desfile, consegue se eleger presidente? Vale ressaltar que a alegoria que iria para o desfile estava abandonada a alguns metros da Intendente Magalhães somente na estrutura de ferro e mais nada. Sem adereços algum, sem vida. Como uma gestão que não abriu suas contas insiste em se perpetuar no poder? Como eleger uma gestão que aumentou as dívidas da agremiação e conseguiram ser despejados do ateliê onde fabricavam suas fantasias?

Essas perguntas devem ferir muitos foliões e torcedores do GRES Boi da Ilha do Governador. Muitos não devem querer acreditar que tudo isso que ocorreu não foi por má fé. Se isso é amor pela agremiação, não é o amor de Luís de Camões. Se o amor é ferida que dói e não se sente, o amor de quem foi eleito é uma ferida que dói, se sente, se percebe.

Mais surpreendente é disputar uma agremiação que atualmente é minúscula, com quase R$200.000,00 (duzentos mil reais) em dívida, sem quadra de ensaio, sem ateliê, sem subvenção, sem componentes e sem raça. Não há com uma gestão que perdeu tanta coisa recuperar do dia para a noite. Nem em escolas gigantes do carnaval carioca existe uma chapa que tenta se perpetuar após incontáveis insucessos. Enquanto isso há pessoas que não têm mais relação alguma com o Boi da Ilha por perceberem o tamanho do buraco onde a escola se enfiou. Não querem mais desfilar, não querem deixar seus nomes marcados no declínio.

Segundo o próprio Mestre Arerê, a alegoria já está pronta, enredo já está definido eo samba será encomendado. O carnavalesco será Paulo Proença, do Bloco do Tubiacanga, do bairro da Ilha do Governador. Esperamos que não seja uma adaptação do Boi da Ilha aos moldes de bloco de enredo.

BoicampanhaO grupo Reage Boi da Ilha entrará na justiça para tentar invalidar essa eleição. O grupo que no ano passado entendeu as dificuldades da agremiação e correu para realizar uma feijoada para reduzir as dívidas do Boi da Ilha. O grupo que era composto por mais de 60 pessoas com nomes como Roger Linhares, Marquinhus do Banjo, Nelio Marins, Severo Luzardo, Fernando Marins, Mestre Riquinho, Junior Nova Geração, Cadinho da Ilha, Manoel Junior. Que tinha como intenção criar um setor somente para renegociação das dívidas da agremiação, estabelecendo relações com poder publico e privado. Reestruturar um estatuto defasado, programa de sócio contribuinte em parceria com o comércio local do bairro, fornecendo descontos aos associados.

Unidos da Ponte e Acadêmicos do Dendê já haviam se comprometido com o Reage Boi da Ilha de doar material para a agremiação. Pensava em um local fixo de ensaios e não somente na rua. O projeto respeitoso de aproximação com os fundadores da escola, valorizando e prestando homenagens em eventos. Tinha intenção da criação de um fundo de investimento para manter a escola mensalmente. E era apoiado por Luizinho, ex-presidente do GRES Boi da Ilha do Governador, Mestre Odilon, Quinho, Guilherme Alexandre, Mestre Riquinho, Mestre Chula, a Ala Melodia da União da Ilha do Governador, Acadêmicos do Dendê, Bloco Batuke de Batom, o empresário Paulo Guimarães e o intérprete Ito Melodia.

Esse grupo sim demonstrou força e respeito para garantir esses apoios e monta esse grupo grande e disposto a reerguer o Boi da Ilha. O mundo do samba tem de olhar o passado, o presente e o futuro dessa escola. É o pior momento que a agremiação passa, com toda a certeza. Não há motivos para tranqüilidade ou comemorações. E vamos aguarda a batalha judicial.