O Draft da NHL, que acontecerá nesta sexta e sábado, é bem similar ao da NBA em sua estrutura. Dentre as diferenças estão que a ordem restante do draft – 15ª à 30ª escolhas – são definidas conforme a ordem que as equipes vão sendo eliminadas nos playoffs, não conforme o recorde da temporada regular. Além de serem realizadas sete rodadas, ao invés de apenas duas como na NBA – até pela diferença no tamanho dos elencos.

Os jogadores elegíveis são estadunidenses e canadenses com mais de 18 anos e menos que 21 anos completos e qualquer outro jogador do mundo que tenha se autodeclarado elegível ao draft. Geralmente esses jogadores mundiais vêm de países europeus que foram ligados às extintas Iugoslávia e União Soviética, grandes potências do hóquei no século passado.

476142044_stdAntes de falar um pouco do sobre o draft desse ano que acontecerá nesse próximo fim de semana, vejo a necessidade de explicar como funcionam as posições no hóquei no gelo.

Os times jogam normalmente com dois defensores – o que seria o zagueiro do nosso futebol –, três atacantes e um goleiro. Dos atacantes, dois são pontas – o ponta-direita e o ponta-esquerda – e um é o central, o centroavante.

Outra peculiaridade do draft da NHL em relação ao da NBA é que os times não buscam titulares imediatos. Há todo um processo de desenvolvimento dentre o que pode ser chamado de “categorias-de-base” das franquias. Dito isso esclareço que é ainda mais difícil prever as infinitas possibilidades desse estilo de draft.

Um time pode ser deficiente em goleiro no nível principal, por exemplo, e não escolher um goleiro nesse draft. A franquia pode ter goleiros em desenvolvimento dentro das categorias de base e que podem não estar prontos ainda para jogar no nível mais alto do hóquei mundial. Especialmente por isso focarei em falar mais dos dois jogadores que todos os olheiros estão considerando como os mais talentosos em anos: os centrais Connor McDavid e Jack Eichel.

mcdavid_102214_672Connor McDavid tem 18 anos, é canadense, canhoto, tem 1,85m de altura e 88kg. Não é necessariamente o maior ou o mais forte para sua posição ou esporte, mas certamente tem um tamanho bom para um central. Considerado como um “talento de uma geração”, ele tem as habilidades necessárias para mudar o rumo de uma franquia – assim como Eichel, mas falarei disso mais a frente –. McDavid não só faz jogadas no ataque, marca pontos ou gols, mas ele defende bem e no hóquei isso é extremamente valioso. Ele definitivamente é o catalisador de jogadas na zona de ataque, zona de defesa ou no meio do ringue. Ele reconhece chances de marcar ao longo que as jogadas se desenvolvem e acha espaços onde não há.

Com mãos suaves, consegue manusear o disco com leveza, além de patinar facilmente. É dominante na maioria das jogadas que disputa e tem as intangíveis de um grande jogador. É um exímio passador e ainda está em evolução.

A primeira escolha desse ano é do Edmonton Oilers e depois que o resultado da loteria foi anunciado, a cidade entrou em festa. Edmonton é apaixonada pelo hóquei – na verdade, o Canadá todo é – e muito fanática pelo Oilers que possui muita tradição, mas vem tendo dificuldades de se manter relevantes desde a saída de Wayne Gretzky, o “Pelé do hóquei no gelo”. Gretzky mesmo disse que McDavid é um dos melhores jogadores que ele viu nos últimos 30 anos de NHL e um elogio desses vindo dele vale mais do que qualquer palavra que eu ou qualquer um escrever.

Eichel_BU4_672x412A segunda escolha desse ano pertence ao Buffalo Sabres. Buffalo também tem grande paixão pelo Sabres e a proximidade com o Canadá influencia o esporte na cidade. Porém, assim como os Oilers, os Sabres também têm passado por um longo período de irrelevância no cenário do hóquei e esse ano tem a chance de adquirir uma potencial estrela em Jack Eichel para coroar o longo processo de reconstrução da franquia.

Eichel é estadunidense, destro, tem 18 anos, 1,85m de altura e 85kg. O jogador da Universidade de Boston joga com muita velocidade, incomum para sua posição, e é capaz de apostar e vencer uma corrida com qualquer um na briga pelo disco no gelo. Um ponto forte, certamente, já que gols são escassos no hóquei e velocidade e habilidade para marcar gols de contra-ataque é uma arma perigosa.

Consistente ofensivamente e com alto coeficiente de inteligência, Eichel definitivamente já possui o QI para jogar na NHL na próxima temporada. Seu tamanho natural e habilidades já bastante desenvolvidas, o fariam o melhor jogador de qualquer classe de draft anterior, mas esse ano acabou ficando “atrás” de McDavid. Dominante na força e que não se contém no ataque e na defesa, é incansável na briga por discos livres. Central dinâmico, veloz e forte, combinação que tem tudo para ser letal por anos afora.

644magnuscellyObviamente não há apenas estes dois jogadores em todo o draft. Há alguns jogadores que, na situação certa, podem se tornar futuras estrelas ou jogadores de impacto. Como, por exemplo, o defensor estadunidense Noah Hanifin ou o ponta-esquerda canadense Lawson Crouse. Olhos também nos goleiros, já que defender é a parte mais importante no hóquei: o russo Ilya Samsonov, o canadense Mackenzie Blackwood e o tcheco Daniel Vladar podem causar impacto se desenvolvidos corretamente e com paciência.

Sabres e Oilers têm a oportunidade de coroar dois longos e desgastantes processos de reconstrução com duas futuras estrelas e isso seria bom não só para ambas as cidades, mas para a liga como um todo. Todos ganhamos com mais paridade entre as equipes e a liga ganha por poder vender Eichel como uma grande estrela estadunidense – a maioria das estrelas vêm do Canadá ou da Europa – e isso será fundamental para o crescimento do esporte dentro dos Estados Unidos.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo (Capa) e NHL.com