Limitar o futebol a uma penca de resultados e, assim, tentar analisa-los simplesmente a partir do número de vezes que um time consegue chutar uma bola dentro de um gol é um erro. É claro que o que vale é bola na rede, mas existem resultados muito melhores do que o desempenho necessário para alcança-los, enquanto, em outros casos, o desempenho é bem melhor do que os resultados são.
Digo isso porque, durante algumas rodadas, o Atlético Paranaense esteve na liderança do Brasileirão. Embora o Furacão estivesse – e ainda esteja – jogando um grande futebol, muito melhor do que o que se esperava antes da disputa começar, era visível que a liderança era coisa passageira. Eu mesmo brinquei aqui semana passada “que o elefante caiu da árvore” e a tendência é que em breve o Atlético saia da briga pelo título.
Mas agora o Campeonato tem novo líder. Um líder que já esteve em primeiro lá no início do Campeonato e agora volta ao primeiro posto. É o Sport. Eu não acho que o Sport tenha time para ser campeão brasileiro, nem acho que vá brigar pelo título. Mas, ainda assim, o time pernambucano desponta como um dos melhores times do torneio.
O elenco, que já era bom, vem se reforçando apesar da saída de Joelinton e, embora ainda seja cedo para falar em briga por Libertadores, é visível que o time vai ficar sempre ali, entre os seis ou sete primeiros. Aconteça o que acontecer daqui para frente, vendo o Sport jogar, me vem à cabeça a música imortalizada pelos pernambucanos na conquista da Copa do Brasil de 2008: essa turma é mesmo boa, é mesmo da fuzarca…
Figueirense 0 x 0 Internacional
A rodada começou lá na semana passada, quinta-feira, com um jogo bem modorrento entre Figueirense e Internacional. O frio intenso de Floranópolis se juntou a uma ventania impressionante que tornou praticamente inviável a prática do futebol. Quem se arriscou mais foi o Figueirense, que, jogando em casa, atacou bem, tentou bastante de fora da área (aproveitando o vento), mas teve dificuldade para criar jogadas mais rebuscadas. O Inter, que segue com o freio de mão puxado no Brasileirão, também tentou alguma coisa, mas foi pouco. Empate sem gols foi o resultado mais justo para dois times que ainda não despertaram em definitivo no Campeonato. Para os gaúchos, caso o despertador só toque após uma virtual eliminação na Libertadores, será tarde demais.
Sport 2 x 1 Vasco
Mais uma vez o Vasco não me pareceu ter motivos para perder as esperanças. Mesmo com Doriva, que finalmente foi demitido, o time cruzmaltino se apresentou bem, na medida do possível, contra um time muito superior tecnicamente. É preciso pontuar que, hoje, quando Sport e Vasco jogam em Pernambuco, a lógica é que o Sport vença. Partindo desse princípio, o Vasco fez um bom jogo. Até porque me pareceu consciente de sua inferioridade e se preocupou mais em marcar do que em atacar.
O que mais me chamou a atenção foi que, depois da bobagem que resultou no gol do Sport, o Vasco não sofreu o abatimento que vinha sofrendo após sair atrás no placar. Pelo contrário, reagiu e chegou ao empate, aproveitando-se de um Sport um pouco abaixo do que costuma render. Plenamente satisfeito com o empate e sem condições de ir buscar algo muito maior que isso, o Vasco recuou um pouco e, assim, chamou os pernambucanos ao ataque. Era óbvio que viria uma pressão, mas o time até que suportou bem.
Só que, no finzinho, em mais uma pane geral na zaga, o Sport foi lá e fez o gol da vitória. Eu sei que para o vascaíno não há luz no fim do túnel, mas, pelo que se vê em campo, mesmo devendo sofrer bastante até o fim com o time limitado que tem, o Vasco tem como sair dessa.
Flamengo 0 x 2 Atlético Mineiro
Quem vem rendendo muito menos do que pode, mas ainda assim um pouco mais do que parece, é o Flamengo. Diante de um Maracanã cheio o rubro-negro decepcionou, mas também não vejo motivo para pânico. Mesmo tendo um dos seis ou sete melhores times do Brasil, o Flamengo é muito inferior ao Atlético – como 14 dos outros 18 times também são – e, portanto, deu a lógica.
Achei o começo de jogo do Flamengo interessante, até. Rápido, com bom toque de bola, ainda tentando achar um padrão com treinador novo. O começo já seria difícil de qualquer forma e mudando de treinador será mais ainda, mas já vejo um rubro-negro mais ligado, mais dedicado e mais criativo. É que de repente o Samir fez um gol contra bizarro e o Lucas Pratto fez um golaço, o que deixou a vida dos cariocas muito difícil. Jogar o segundo tempo todo com um 2 a 0 contra no placar fez a perna pesar e o Fla não criou mais nada. O Galo, por sua vez, administrou a vitória com muita competência e mais uma vez provou porque é um dos melhores times do Brasil. Ganha bem sem fazer força.
Santos 1 x 0 Corinthians
Santos e Corinthians tem times muito parecidos em termos técnicos. A classificação que colocava o Timão no G-4 e o Peixe na zona de rebaixamento enganava. O Santos também devia estar por ali, em quarto ou quinto, mas desperdiçou muitos pontos desnecessários. Isso talvez tenha dado ao Corinthians um favoritismo que não existia, ainda mais na Vila Belmiro. Foi mais um resultado perfeitamente normal. Até porque Corinthians e Santos tem bons times, mas com um problema crônico que atrapalha muito. No clássico da Vila, porém, só um deles apareceu.
O problema do Corinthians é do meio para frente. Embora o sistema defensivo também não ande lá grande coisa, o grande problema está na hora que a bola chega nos atacantes. Jadson e Renato Augusto vem recuperando o bom futebol, mas os homens responsáveis por botar a bola na rede – sejam eles Love, Mendoza, Luciano ou Romero – não o fazem. Isso novamente ficou evidente em Santos. Em muitos momentos, o Corinthians esteve no campo de ataque, mas pouco chutou. Os atacantes são facilmente escondidos pela zaga adversária e o time fica rodando a bola esperando um espaço que não encontra. Só no fim houve alguma criatividade na hora de pensar as jogadas.
Já o problema do Santos, que é a zaga, não apareceu. Marcelo Fernandes já armou um time menos vulnerável e, a partir daí, o Santos pôde mostrar sua competência no ataque com jogadas muito rápidas que enlouqueceram a dupla de zaga rival, formada por Edu Dracena e Gil. Ricardo Oliveira fez o único gol do jogo, mas podia ter sido muito mais. Particularmente, acho que o Peixe correu riscos desnecessários recuando demais o time e atraindo o Corinthians pro ataque. Em minha visão, o Timão teve dois pênaltis claros não marcados (um é certeza, o outro é questão de interpretação), o que evidencia que, mais uma vez, o Santos podia ter perdidos pontos preciosos de maneira desnecessária. Para sorte dos santistas, não perdeu. Agora é embalar de vez.
Grêmio 1 x 0 Palmeiras
Foi um jogo feio como se esperava entre dois times que ainda estão procurando seu melhor futebol. Como eu já dizia em minha última coluna, acabou levando a melhor aquele time que está mais entrosado, que está há mais tempo em evolução, que é o Grêmio. Durante todo o jogo, o Grêmio foi melhor, enquanto o Palmeiras não conseguiu se encontrar. O Grêmio de Roger Carvalho é um time que cria jogadas interessantes, roda bem a bola e, mesmo com algumas limitações técnicas, consegue jogar bem. A vitória magra por 1 a 0 foi justa e acende o alerta vermelho no Palmeiras. O time tem, por motivos óbvios, um trauma de lutar contra o rebaixamento e, se entender que esse é o objetivo do time para 2015, mesmo não sendo, pode se complicar.
Cruzeiro 0 x 1 Chapecoense
A grande surpresa da rodada. A Chapecoense fez o jogo que pode fazer, jogou como pode jogar, mas como não vinha jogando. Depois de um início bem abaixo do esperado, a equipe de Chapecó mais uma vez surpreendeu um grande fora de casa, como fez com o São Paulo ano passado. Para muita gente, a vitória catarinense vem da péssima atuação do Cruzeiro – e, de fato o Cruzeiro foi muito mal -, mas o grande mérito é da Chapecoense, que marcou muito bem, tocou muito bem a bola e conseguiu um belo gol no segundo tempo para calar um excelente público no Mineirão. Foi uma vitória para deixar os torcedores da Chapecoense esperançosos de que o time faça uma campanha tranquila no Campeonato. Já o Cruzeiro, esfria o momento de reação no torneio e volta a lidar com a desconfiança. Vamos ver como Luxemburgo e companhia reagem.
São Paulo 1 x 1 Avaí
Esse time do São Paulo tem um problema sério desde o ano passado: a vocação absurda para desperdiçar pontos inacreditáveis. A superioridade do São Paulo para o Avaí é tão grande, que o time simplesmente não acreditou que pudesse não vencer. Jogou o primeiro todo com preguiça, criando jogadas esporádicas e muito eficientes. O Avaí mal passava do meio campo. E o São Paulo lá, tocando, rodando, criando pouco, esperando o gol sair.
No segundo tempo, foi a mesma coisa, mas o gol saiu. E, ao invés de apertar um pouco mais para matar logo o jogo, o São Paulo continuou com o mesmo futebolzinho sem vergonha. Só que, como diz o outro, “perdido por dois, perdido por dez…”. O Avaí, que agora não tinha mais ponto ganho para evitar se expor, foi se assanhando, acreditando que podia empatar. E empatou logo com André Lima, que há não muito tempo jogava pelo São Paulo. Empate frustrante para o Tricolor, que agora sai da liderança, e ponto importante conquistado pelo Avaí. Mais um.
Atlético Paranaense 2 x 2 Coritiba
O Atletiba foi, de longe, o melhor jogo da rodada. Intenso, disputado, com estádio cheio e com as duas torcidas dando show. O Coritiba surpreendeu e fez seu melhor jogo no Brasileirão contra um Atlético que esteve longe de ser brilhante. O Coritiba abriu o placar com um lindo gol e podia até abrir vantagem maior, mas o Atlético reagiu rápido e empatou. Mesmo longe de figurarem entre as melhores equipes do Brasil, Atlético e Coritiba mostraram um futebol interessante (o Coritiba pela primeira vez no ano), produtivo, ofensivo, gostoso de se assistir.
No segundo tempo, que foi mais equilibrado, o Coritiba fez 2 a 1 e, naturalmente, cedeu um pouco de campo ao Furacão, que foi para cima tentar o empate. Achei apenas que o time foi um pouco óbvio, sem aquela criatividade apresentada em outros jogos. Atacou bem, usando bem os fundamentos básicos, mas sem surpreender muito o Coxa na maior parte do jogo. Quando conseguiu fazer isso, empatou, já no fim do jogo, com um belo gol de Edigar Junior. Empate justo, apesar do Coritiba ter sido ligeiramente superior, e que esfria um pouco a euforia do torcedor atleticano. Já o alviverde vê uma luz no fim do túnel, embora a situação no Campeonato ainda seja bem complicada.
Joinville 2 x 1 Goiás
O começo de jogo do Joinville foi um negócio trágico. O Goiás dominou boa parte do primeiro tempo, esteve quase o tempo todo no ataque e chegou ao gol em um ataque rápido e muito bem armado. O torcedor do JEC certamente via mais uma derrota a vista, o mais pessimista já tinha a certeza de que a Série B era um fato, mas aí o time acordou. Ainda no primeiro tempo, aproveitou duas bobeadas da zaga do Goiás para virar o jogo. O segundo tempo foi bem ruim, muito ao contrário do primeiro, e os catarinenses chegaram à primeira vitória no torneio. A briga para não cair vai ser dura até o fim, mas ficar na Série A é um sonho possível. Talvez mais até do que para o Goiás.
Fluminense 2 x 0 Ponte Preta
Apesar do público bizarro, foi um jogo muito interessante para fechar mais uma rodada do Brasileirão. O Fluminense é, dos grandes, o time que mais me surpreendeu positivamente nesse início de Campeonato e tem se portado muito bem no Maracanã. Não tem jogado um futebol de encher os olhos – eu mesmo disse semana passada que o Flu faz os jogos mais modorrentos do Brasileirão -, mas tem jogado de acordo com seu adversário.
A Ponte, por exemplo, é um time tecnicamente mais forte que o Fluminense. Até por conta disso, foi melhor no primeiro tempo. Sem a inspiração dos outros jogos na hora de atacar, usou mais as laterais e o jogo aéreo e levou perigo. A marcação foi competente como sempre e não deixou o time da casa sair muito para o ataque. Mas, no segundo tempo, tudo se inverteu. O gol logo no início deu força ao Flu, que tomou conta da partida e não deixou mais a Macaca campineira se expor. As jogadas, assim, foram saindo naturalmente e os cariocas mostraram trocas rápidas de bola, criatividade. Foi uma atuação muito interessante, coroada com um belo gol já nos acréscimos. Aos poucos, o Flu vai se distanciando do grupo que olha para a parte baixa da tabela e vai se colocando ali, sempre entre os primeiros. Já a Ponte vive o seu momento mais delicado no ano, mas ainda vai muito bem e em breve deve voltar a vencer.
Classificação
Agora a classificação do Brasileirão ficou assim.
Público e gols
– Depois de calcular as médias das oitavas rodadas ao longo dos anos, descobri que cometi um erro primário na matemática na hora de calcular as médias de público nos textos anteriores. Ou seja, esqueça todos os números que você viu nas colunas referentes as rodadas 3, 4, 5, 6 e 7. Agora, com os cálculos refeitos, digo que o Brasileirão tem, até aqui, uma média de 13.654 pagantes por jogo. Comparando com as oito primeiras de 2006 para cá, perde só para 2007 (15.084) e 2009 (14.132) e supera 2006 (11.143), 2008 (12.774), 2010 (12.070), 2011 (12.000), 2012 (11.207), 2013 (12.672) e 2014 (12.544).
– Com os gols, tudo certo nas minhas contas e nada certo com a edição de 2015. Até aqui, foram 182 gols, uma média de 2,27 por jogo. Nas oito primeiras rodadas de 2006 para cá, a média só foi inferior em 2014, quando foi de 2,11. O recorde é de 2007 (2,94), seguido por 2009 (2,9), 2006 (2,7), 2011 (2,67), 2010 (2,59), 2013 (2,57), 2012 (2,49) e 2008 (2,4).
Palpites para a 9ª rodada
Chapecoense x Sport – Sábado, 27/6, às 16h, na Arena Condá, em Chapecó
Belo jogo. Os dois times já fizeram ótima disputa na Copa do Brasil (o Sport levou a melhor nos pênaltis) e devem repetir a dose. Palpite difícil, mas acho que os donos da casa levam a melhor. Chapecoense 2 a 1.
Avaí x Grêmio – Sábado, 27/6, às 16h, na Ressacada, em Florianópolis
O Grêmio, apesar de estar evoluindo, ainda tem problemas e creio que vá tropeçar. Empate em 1 a 1.
Corinthians x Figueirense – Sábado, 27/6, às 21h, na Arena Corinthians, em São Paulo
Jogo difícil pro Timão, mas, mesmo com o fantasma da inauguração de seu estádio – que veio com derrota para o Figueira, lá em 2014 -, acho que dá para vencer. 2 a 0 para o Corinthians.
Atlético Mineiro x Joinville – Domingo, 28/6, às 11h, no Mineirão, em Belo Horizonte
Mais uma atuação de gala dos mineiros contra um time bem inferior tecnicamente. Galo vence bem por 3 a 0.
Palmeiras x São Paulo – Domingo, 28/6, às 16h, no Allianz Parque, em São Paulo
Clássico interessante. Embora bem mais frágil tecnicamente, o Palmeiras joga em casa, o que equilibra um pouco as coisas. Tudo igual, 1 a 1.
Ponte Preta x Atlético Paranaense – Domingo, 28/6, às 16h, no Moisés Lucarelli, em Campinas
Depois de dois jogos sem vitória, o torcedor do Furacão vai mais uma vez ficar de cabeça inchada. Ponte vence por 2 a 0.
Coritiba x Cruzeiro – Domingo, 28/6, às 16h, no Couto Pereira, em Curitiba
O Coritiba vai seguir jogando bem e vai vencer o Cruzeiro, que verá os primeiros questionamentos ao seu novo treinador. 2 a 1 para o Coxa.
Goiás x Fluminense – Domingo, 28/6, às 16h, no Serra Dourada, em Goiânia
Mesmo sem jogar nada, o Goiás vai conseguir mais três pontos importantes na luta contra o rebaixamento. 3 a 1 para os goianos.
Internacional x Santos – Domingo, 28/6, às 18h30, no Beira-Rio, em Porto Alegre
Nessa história de jogar com preguiça o Brasileirão, o Inter vai ganhando um jogo aqui e outro ali. 1 a 0 para os gaúchos.
Vasco x Flamengo – Domingo, 28/6, às 18h30, na Arena Pantanal, em Cuiabá
Clássico carioca em Cuiabá. Que desgraça. Enfim, vai ser um jogo horrível entre dois times desesperados e só no finzinho vai sair um gol. E vai ser do Vascão, que vence por 1 a 0. O editor dirá que estou prevendo um pênalti…
Simulador
Depois de algumas rodadas bancando o Atlético Mineiro como campeão, meu simulador agora diz que o título ficará com o São Paulo após uma intensa disputa pela taça.
Imagens: Uol. Gazeta, Sites Oficiais de Grêmio e Goiás