Não sou fã de carteirinha de surfe, tampouco estou familiarizado com os aspectos mais técnicos da modalidade, embora sempre tivesse achado um esporte interessante plasticamente e bacana pelo contato com a natureza. Convenhamos, são imagens espetaculares, de encher os olhos, e o que esses caras fazem é fantástico!

Feito esse preâmbulo, queria desde já elogiar e dar os parabéns ao Gabriel Medina pelo inédito título mundial, derrotando dois dos expoentes do surfe, Kelly Slater e Mick Fanning, surfistas com 15 campeonatos somados. Mais: Gabriel foi o único a tirar uma nota 10 na etapa decisiva no Havaí.

Portanto, foi uma conquista simplesmente arrebatadora, merecida e que não suscita qualquer tipo de contestação e discussão. Gabriel, que já era tido como o surfista mais talentoso da nova geração, foi lá e ganhou dos melhores.

O filme que vimos foi o de sempre: mídia em cima, público vibrando até em bares (eu estava num deles no exato instante em que Medina soube que havia sido campeão) e euforia por um esporte de “nicho”. Não vejo absolutamente nenhum problema nisso. Acho bacana o público vibrar com algum atleta brasileiro.

A advertência vem agora: por favor, mídia e público, exaltem, elogiem e guardem para sempre essa conquista, mas não massacrem Gabriel em caso de alguma derrota futura. Gabriel já está com seu nome na história dos grandes esportistas nacionais. Nunca antes na história deste país, vimos um brasileiro campeão mundial de surfe.

Ganhar o campeonato é muito difícil, ainda mais nessas circunstâncias, e ganhar outro será mais difícil ainda. Antes de Gabriel, 35 dos 37 campeões foram surfistas de Austrália ou Estados Unidos. Portanto, por mais que Gabriel tenha potencial para muito mais, não cobrem dele uma fila de dez ou quinze campeonatos seguidos.

Vivemos infelizmente num país em que não se gosta de esporte, mas sim de brasileiros que conquistem vitórias e títulos. Isso nunca vai mudar 100%, mas penso que essa é uma oportunidade para que se exercite um novo olhar sobre o esporte.

Gabriel está lá fazendo o que ama e ninguém mais do que ele quer vencer. Todos os demais atletas querem vencer também, mas ou não são capazes ou há alguém melhor. Isso faz parte do esporte, e nenhum desses caras que compete em alto nível merece ser massacrado. Criticado, sim, se merecer, mas execrado e mutilado, nunca.

Voltando no tempo, até Gustavo Kuerten foi vítima de covardia por parte de público e imprensa. Depois de ganhar em Roland Garros em 1997  sem que ele mesmo soubesse como, os resultados não vieram tanto em 1998, e todo mundo batia nele sem piedade, mesmo ele tendo feito história no ano anterior. E olha que em 1998 ele era o número 23 do mundo…

copersucarNos anos 70 e início dos 80, a equipe Copersucar Fittipaldi foi covardemente perseguida pelo público e imprensa porque não vencia corridas. E, apesar de a equipe ter conquistado pódios, o sonho acabou porque os patrocinadores queriam retorno de vitórias a qualquer custo. E olha que em 1978 (foto) a Fittipaldi terminou à frente de McLaren e Williams, e em 1980 derrotou Ferrari e McLaren…

Então, não façamos Gabriel Medina de gato e sapato daqui para a frente. Torçam à vontade, acompanhem as competições e curtam esses momentos. Mas deixem-no em paz fazendo o que ama. Não sejamos covardes de novo…