No último domingo foi disputada a terceira edição das Seis Horas de São Paulo, no circuito de Interlagos. Na prova vencida pelo trio da Porsche formado por Neel Jani, , o outro carro da equipe alemã, que era pilotado por Mark Webber, acabou destruído num fortíssimo acidente na Curva do Café. Ela mesma que já tirou vidas de pilotos e continua sendo o ponto nevrálgico de Interlagos.

Voltemos sete anos no tempo: no mesmo local Rafael Sperafico perdeu a vida após bater na Curva do Café e ter seu carro atingido na sequência. Avancemos mais três anos e meio: Gustavo Sondermann também pereceu no local num acidente de dinâmica parecida; prometeu-se imediatamente uma reforma no local e a adoção de uma ampla área de escape.

Uma antiga chicane que estava desativada seria usada como gambiarra enquanto tais reformas saíssem do papel. Mas a tal área de escape jamais foi criada. Isso porque a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) não julgou necessária tal obra para aprovar o autódromo visando à Fórmula 1. Ou seja, chicane para todo mundo e pista normal para a F-1.

acidentewebber2003F-1 aliás que viu cinco acidentes naquele local antes das mortes citadas: Ricardo Rosset, com Arrows em 1996, Stephane Sarrazin, com Minardi em 1999, Mark Webber (foto ao lado) e Fernando Alonso, com Jaguar e Renault em 2003, e Nico Rosberg, com Williams em 2006, e Paul di Resta, com Force India em 2012. Ou seja, mesmo que a FIA não ache, a Curva do Café também é um ponto crítico para a F-1.

O máximo que foi feito no local, e que aliás deve ser louvado, foi a adoção de uma safer barrier, um muro feito de um material que absorve de forma mais eficiente os impactos. Isso merece ser aplaudido, sim, porque absorveu muito da pancada de Webber. Mas uma tragédia poderia ter acontecido se outro carro atingisse o que sobrou do Porsche de Webber. Como nos casos de Sperafico e Sondermann.

O acidente de Webber
https://www.youtube.com/watch?v=aGbFMGMo8Qg

Por isso, apesar da nova barreira ter feito muito bem essa função, ficou evidente que, com ou sem safer barrier, com ou sem recomendação da FIA, uma área de escape precisa, sim, ser feita na Curva do Café. É, sim, um local perigoso para qualquer tipo de carro. É, sim, um dos pontos mais críticos de qualquer autódromo do mundo.

Disse isso com todas as letras na transmissão da prova pelo SporTV e insisto. Não podemos nos conformar com o que vem acontecendo. Existe o risco inerente ao esporte a motor, mas os pilotos estão lá para fazer o espetáculo e não para correrem riscos acima do recomendável. Se nada for feito, outros pilotos podem não conseguir escapar ilesos de acidentes no Café.

Sob a competentíssima administração de Chico Rosa, um dos baluartes do nosso automobilismo, Interlagos vem evoluindo ano após ano – diga-se de passagem, foram muito bem executadas as reformas no autódromo para este ano, com novo asfalto e uma área de escape maior na saída do S do Senna. Mas Chico não pode fazer tudo sozinho.

acidentesperaficoAno que vem uma reforma de grande magnitude deixará Interlagos livre dos problemas de espaço nos boxes e paddock para as equipes de Fórmula 1, e outras categorias serão beneficiadas com a construção de mais um prédio de boxes no trecho em que ficavam as curvas 1 e 2 do antigo traçado.

Por isso mesmo, uma reforma definitiva precisa ser feita na Curva do Café, para que a Catedral do nosso automobilismo fique definitivamente livre dos fantasmas que vira e mexe assolam Interlagos.