Semana passada o basquete brasileiro foi da euforia à decepção em questão de dias. Primeiro, a espetacular atuação no segundo tempo da partida contra a Argentina. Mas depois, o descalabro (também no segundo tempo) no confronto diante da Sérvia, pelas quartas de final. No fim, chegamos à conclusão de que a campanha foi boa mas a eliminação, vergonhosa.

Há anos que esta geração formada por Nenê, Leandrinho, Varejão, entre outros, é considerada talentosa mas vacilante nos momentos decisivos. Mas, para este Mundial da Espanha, a expectativa era boa, apesar de a vaga ter sido conseguido por um convite – leia-se depósito para a Fiba. Afinal, no papel era um bom grupo e o técnico, experiente e vitorioso.

De fato, os comandados de Rubén Magnano tiveram uma primeira fase sem sustos. Perderam apenas para a Espanha, num jogo em que o Brasil já estava classificado e jogou muito abaixo das suas possibilidades. Antes, havia mostrado muito empenho e determinação nos momentos culminantes de cada partida.

Depois de avançar em segundo lugar no grupo, a Seleção encarou um velho rival e algoz, a Argentina. Um time enfraquecido, diga-se de passagem, com as ausências de Ginobili e Noccioni, mas que ainda tinha força com os veteranos mas excelentes jogadores Scola e Prigioni, além do rubro-negro Laprovittola. Enfim, não seria um jogo fácil, até pelo traumático retrospecto de competições anteriores.

De fato, o jogo começou complicado para o Brasil e o time chegou a estar perigosamente atrás no marcador. Mas depois do intervalo tudo mudou, com uma grande atuação coletiva, mas com participações monstruosas de Anderson Varejão e do jovem Raulzinho, que ofuscou o discreto Marcelinho Huertas ao longo da competição.

O triunfo contra os argentinos parecia ter colocado o Brasil no caminho da medalha. Até porque o adversário seguinte seria a Sérvia, que a Seleção havia derrotado na primeira fase. O primeiro tempo foi normal: um jogo equilibrado, sem que nenhuma das seleções se distanciasse no marcador.

basquete1Mas o que aconteceu no segundo tempo foi algo grotesco, absurdo e assustador. Jogadas de ataque precipitadas, defesa frouxa e descontrole emocional jogaram por terra qualquer possibilidade de vitória. Os sérvios deitaram e rolaram, enquanto restou à torcida lamentar.

O que aconteceu não foi apenas uma questão técnica. Está cada vez mais evidente que apagões como os que ocorreram no baquete e, meses antes, na Copa do Mundo, são oriundos de uma endêmica falta de capacidade psicológica de nossos atletas em lidar com certas situações de jogo. Vejam bem, nem estou falando de pressões extra-jogo, mas de descontrole no próprio jogo.

Até porque, apesar das esperanças de medalha, não havia uma grande pressão de torcida e imprensa em cima dos nossos jogadores neste Mundial de Basquete. Mas, pela enésima vez, um time brasileiro se perdeu completamente em questão de minutos por causa de alguma adversidade.

Reparem também que não estou dizendo que o Brasil deveria ter ganho da Sérvia obrigatoriamente. Isso porque, sabemos bem, a Sérvia tem um bom time. Mas uma coisa é perder por uma curta ou média distância num jogo sem domínio flagrante. Outra é o time fazer uma partida equilibrada e de repente parar de jogar, recebendo em seguida um massacre.

Deixo claro também que, apesar das críticas ao que aconteceu no jogo contra a Sérvia, jamais se deve crucificar esses jogadores, que, insisto, fizeram uma boa campanha, a melhor em muitos anos. O que proponho é que a psicologia do esporte seja efetivamente levada a sério e um estudo profundo seja realizado nos nossos jogadores.
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Vocês hão de dizer: “ah, mas essas seleções têm psicólogos, não?” Sim, essas seleções têm psicólogos, mas falo na verdade de um trabalho muito mais amplo, desde a infância dos atletas, já que todos começam a praticar esportes muito cedo. O resultado final em quadra é apenas o fim de um processo, mas um jovem precisa de orientação desde o começo.

Senão a pressão natural que existe no esporte vai continuar massacrando a cabeça desses meninos e no futuro eles poderão protagonizar novos apagões…