Continuando nossa revisão do projeto olímpico para 2016 (1ª parte aqui), hoje abordaremos a Zona Copacabana, que dará ao mundo as imagens mais estonteantes já vistas em Jogos Olímpícos e a Zona Maracanã.

Zona Copacabana

Esta Zona será composta em sua maioria por esportes de rua e ao ar livre, que não exigem estruturas fixas, apenas temporárias.

Assim será com o Vôlei de Praia (foto-projeto ao lado), que terá uma estrutura temporária para 12mil pessoas no local tradicionalíssimo da Praia de Copacabana, em frente à Av. Princesa Isabel. Tal estrutura, provavelmente de arquibancadas tubulares, só deverá começar a ser montada no início de 2016. A prefeitura já montou e desmontou várias vezes tal arena e não será problema mais essa montagem.

Outra estrutura totalmente temporária será a do Parque do Flamengo. Nela acontecerá a largada e a chegada do ciclismo de estrada, além das marchas atléticas. Também pelo Parque do Flamengo passará a maratona, que irá até a praia de Copacabana e retornará ao ponto de partida, o Sambódromo. Aqui, também tudo será temporário e pode ser construído em uma semana, se necessário.

Outro local já existente e que apenas deverá receber uma estrutura temporária para o Jogos é o Forte de Copacabana. O Forte será a base para a competição da maratona aquática, que ocorrerá nas águas mais calmas da praia de Copacabana e do Triatlo, que também terá sua parte de natação nas águas em frente ao Forte e os circuitos de ciclismo e corrida na Av. Atlântica, contiguamente ao Forte.

As duas únicas estruturas fixas, Marina da Glória e Estádio de Remo da Lagoa, desta zona inspiram muitos cuidados.

O Estádio de Remo da Lagoa ainda permanece sob responsabilidade financeira e executiva do governo estadual , mesmo após a sucessiva inércia deste nível de governo desde o início do projeto olímpico que vem apenas se enrolando cada vez mais e nunca cumprindo sua parte, o que fez com várias de suas responsabilidades fossem passadas ao governo municipal.

Finalmente o estudo básico foi concluído, mas até agora não houve lançamento do edital nem há qualquer previsão de início ou término das obras. A modernização não é gigante, mas é absolutamente necessário que, ao menos o processo licitatório já esteja em andamento até o fim do ano. É outra obra com luz amarela, tendendo a vermelha.

Para encerrar esta Zona, outra grande polêmica: a Marina da Glória (foto ao lado). Já houve vários projetos de modernização da Marina, todos eles vetados pelo IPHAN e pelo Ministério Público por afetarem o espelho d´água da Marina, que é tombado.

Após muita discussão, finalmente o projeto feito pelos donos da concessão foi aprovado e seria executado pelos mesmos. O problema é que a concessão pertencia ao grupo EBX, de Eike Batista, que após a crise na OGX não tinha a menor condição de investir na obra estimada em R$ 45 milhões – e a obra continuou atrasando. A solução finalmente foi dada em julho quando a concessão foi repassada para a BR Marinas.

A BR Marinas é talvez a empresa com maior expertise na administração de Marinas no Brasil, tendo em seu atual portfólio as três mais badaladas marinas da Costa Verde (região de Angra dos Reis, no litoral sul do Rio). O projeto de reforma proposto pela empresa já está sendo avaliado pelo IPHAN e, parece, será aprovado sem problemas.

A proposta deverá aumentar as vagas existentes, e provavelmente alguns piers temporários deverão ser necessários para receber os barcos olímpicos. A Marina se tornaria pública, mas isso enfrenta a forte resistência de alguns sócios. O mais importante é que as obras finalmente estão a caminho de começar e devem terminar antes de março de 2016, já contanto eventuais atrasos. A luz que estava vermelha, já voltou ao amarelo.

A Marina sediou muito bem o evento teste ocorrido na primeira semana de agosto, que apenas foi manchado pelo excesso de detritos da Baía de Guanabara. Quanto isso, o tempo é curto demais para se fazer algo. Infelizmente serão altos os riscos de haver notícias do tipo “caixote de madeira flutuante tira campeão mundial da regata olímpica” ou “Velejador x reclama que foi atrapalhado por um pedaço de plástico que ficou agarrado em sua quilha durante a regata” durante os Jogos.

Zona Maracanã

Com o perdão do trocadilho, esta zona é uma zona. Diferente das outras três zonas, que concentram sedes e modalidades em um curto terreno, a Zona Maracanã é um apanhado de várias sedes isoladas e bastante separadas entre si.

A vedete desta Zona e que lhe empresta o nome é o Estádio Olímpico, o glorioso Maracanã (foto ao lado), que receberá as semifinais e finais do futebol, além das Cerimônias de Abertura e Encerramento. Note-se que o plano carioca aqui é ousado, pois será a segunda vez na história que o Estádio Olímpico não será o estádio do atletismo (a outra vez foi em 1900 em Paris, segunda edição dos jogos, quando as cerimônias ocorreram no Velódromo de Vincennes)

O mesmo já foi amplamente reformado para a Copa do Mundo e só deverá passar por rápidas adaptações em 2016, tais como alargamento dos portões de acesso, para as alegorias da cerimônia de abertura, e a instalação da pira olímpica, a qual não se sabe até agora como será feita. Há duas maiores possibilidades: uma pira bem ao lado do estádio ou uma pira móvel para ser exposta fora do Maracanã logo após a cerimônia, como ocorreu em Vancouver 2010, Londres 2012 e Sochi 2014.

Logo ao lado do Maracanã, fica o Maracanãzinho, que mais uma vez será a casa do vôlei durante os jogos. Aqui houve um problemão: para cumprir a exigência da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) em relação à construção das quadras de aquecimento ao lado do ginásio seria necessário demolir a escola pública que funciona dentro do complexo do Maracanã. Porém, após os protestos de junho de 2013, o governo estadual decidiu não demolir nenhuma construção do complexo, nem a escola. O impasse foi resolvido no famoso “jeitinho brasileiro” com o auxilio do presidente da FIVB, o brasileiro Ary Graça, que aceitou uma redução nas exigências das quadras de aquecimento.

O Maracanãzinho em si está pronto para os Jogos, só as quadras de aquecimento precisam ser construídas. Apesar da obra ainda não ter tido o processo licitatório iniciado e não ter qualquer cronograma, não é algo complexo e pode ser feito de forma rápida; não é algo que preocupe.

Ainda dentro da área do Maracanã, o Julio de Lamare se salvou da demolição direto para os planos Olímpicos. Inicialmente, se imaginava que o Maria Lenk poderia dividir a realização do polo aquático com o novo Centro Aquático, porém depois se descobriu que não haveria como o Maria Lenk receber toda a fase inicial do polo aquático, o que fez o Julio de Lamare não só se manter de pé como se tornar sede olímpica.

Serão necessárias algumas obras de adaptação, especialmente a demolição do centro de saltos, mas apesar de também ainda não haver qualquer cronograma de obras, também é um projeto que se resolve rapidamente. Sem motivos para preocupação ainda.

Também faz parte dessa Zona o Sambódromo (foto ao lado) que receberá a largada e a chegada das maratonas e, na Praça da Apoteose, o Tiro com Arco. As obras de ampliação e reforma do Sambódromo já estão prontas desde o carnaval de 2012 e a chegada da maratona em um corredor de quase 700m apinhado de torcedores também deverá ser um momento marcante dos Jogos Olímpicos.

Por fim, mesmo distante, faz parte desta Zona o Engenhão (foto abaixo), que receberá o atletismo. Aqui a situação é delicada. Além das obras de reurbanização no entorno do Estádio, que já estão sendo realizadas pela prefeitura em bom ritmo, as reformas de adaptações do estádio serão muito maiores do que o inicialmente imaginado. Isso explica porque a prefeitura quis fechar logo o Engenhão alegando os polêmicos problemas de instabilidade de sua cobertura.

Quando o projeto básico foi lançado, quem acompanha o andamento da Rio 2016 tomou um susto. A lista de coisas a se fazer no Engenhão é gigante; entre eles, além da expansão da arquibancada para 60 mil lugares como já esperado, ampliação de sanitários, total reforma da pista de corrida para passagem de cabos sob a pista, total reforma das áreas de aquecimento, adaptação para passagem de cabos de transmissão televisiva e grande reforma na parte de energia elétrica. Ou seja, será uma reforma profunda.

O projeto executivo está em elaboração e após isso, a licitação ainda terá que se feita. O tempo está passando e a obra não é simples. Na melhor das hipóteses, as obras começarão no fim deste ano ou início do ano que vem para término apertado em algum momento do meio de 2016. Luz vermelha.

Obs: para quem quiser uma lista completa das intervenções necessárias no Engenhão, veja aqui. Alias, recomendo bastante o blog do Michel Castellar para quem quiser se informar sobre os preparativos para a Rio 2016.

Ainda foi englobada na Zona Maracanã a nova área portuária do Rio, no centro da cidade, que está sendo alvo de uma enorme reurbanização pela prefeitura, talvez a maior obra na cidade desde a grande reforma de Pereira Passos em 1904-1906.

Inicialmente a mesma não constava do projeto olímpico, porém logo na primeira revisão do projeto, logo após a vitória do Rio, o prefeito modificou o projeto e alocou várias estruturas de logística nesta área, as mais importantes eram a Vila de árbitros e mídia e o Centro de Mídia para não credenciados.

Porém, para total irritação do COI, após a quadra de braço de 2009 para retirar essas estruturas de logística da Barra rumo ao Porto, Paes criou uma nova queda de braço no início deste ano para devolver essas estruturas para a Zona Barra.

A situação beira o absurdo, mas é verídica. O resultado é que 4,5 anos foram perdidos para o planejamento e construção desses setores de logística e, salvo a Vila de Árbitros e Mídia (que será um condomínio do Minha Casa, Minha Vida em Curicica) todas as outras estruturas estão sem um local definido a menos de dois anos dos jogos.

Com as licitações da Zona Deodoro finalmente resolvidas, atualmente este problema é o maior gargalo da organização dos jogos, sem uma solução divulgada até o momento. Amanhã, na parte 3, Deodoro será o foco.

Imagens: Rio 2016 (volei de praia, Maracanã e Engenhão), BR Marinas (Marina da Glória) e Archdaily (Sambódromo).