Como assisti a três partidas em um espaço de quatro dias, acabei não colocando os relatos anteriores com a presteza necessária. Hora de começar a recuperar o atraso.

Depois das avalanches argentina e chilena, que já contei nesta revista eletrônica, resolvi chegar cedo para o duelo entre a Bélgica e a Rússia, pela segunda rodada do Grupo H. Seria a oportunidade de ver a chamada “nova geração belga” em confronto contra aquela que, teoricamente, era a segunda força do grupo – e se preparando para ser a próxima sede.

20140622_104055Por volta das dez e meia da manhã já estava desembarcando na Estação São Cristóvão do metrô, de forma a chegar de maneira tranquila ao estádio. Já ao sair da estação me chamou a atenção o contingente policial, muito maior e mais reforçado que o das partidas anteriores. Precisou haver os problemas de roubos na partida da Argentina e da invasão à sala de imprensa no caso chileno para reforçarem o efetivo (ao lado), mas antes tarde que nunca.

Desde a estação tínhamos de apresentar nossos ingressos aos policiais, tendo de repetir isso a cada fila de PMs que atravessávamos. Além disso, como eu estava com a camisa da seleção belga, a solicitação era sempre feita em inglês, ao que respondia com um sonoro “bom trabalho”… No jogo entre Equador e França apelei para um boné do Flamengo, e ao que parece resolveu esta questão. É engraçado, mas denota o esforço da organização em receber bem os turistas.

20140622_121152Estava um pouco preocupado, pois meu ingresso não estava em meu nome, mas não houve verificação e adentrei normalmente ao estádio. Ao contrário das duas primeiras partidas, nas quais houve domínio esmagador de uma das torcidas, desta vez havia mais belgas que russos, mas a esmagadora maioria era de brasileiros. Os “belgicanos” – como dizia o saudoso ex-árbitro Mário Vianna – se concentraram em sua maioria atrás do gol à esquerda das cabines, enquanto os russos estavam mais espalhados.

Algo a se comentar é que são duas torcidas “boas de copo”. Especialmente os russos, cujo estado normal deles parece ser o de embriaguez. Faltando umas duas horas para o início do jogo – que, lembro aos leitores, se iniciou a uma da tarde de domingo, 22 – não se avistava um súdito de Putin sóbrio onde eu estava. Outra particularidade é que os torcedores russos são quase que em sua totalidade homens – posso contar nos dedos de uma das mãos as russas que vi.

Por outro lado, os belgas são bastante divertidos e sociáveis, se esforçando em interagir com os brasileiros. Também conversei em um dos bares com pai e filhos, galeses – fora da Copa, mas com grande interesse pelo futebol e pelo Rio de Janeiro. Aliás, todos os estrangeiros com quem conversei estão aprovando amplamente tanto a cidade como a organização da competição – e pretendem voltar.

20140622_114934Rivalizando com as torcidas dos países em jogo estavam os americanos. Eram muitos, muito animados e muito simpáticos. Fiquei bem perto de uma família de americanos – na foto, com o pai – com direito a gozações envolvendo a NFL, porque ele, texano, é um sofredor do Dallas Cowboys… Também conversei um tempo razoável com um casal de californianos sobre a nova formação ofensiva do NY Giants. Coisas que somente uma Copa do Mundo comporta.

Vale ressaltar minha performance cantando os nomes das cervejarias trapistas belgas durante o hino do país, já que não sabia a letra. Ainda bem que não registrei…

20140622_114900Desta vez atentei para o fato que os copos da Brahma, ao contrário da Budweiser, estavam personalizados com o jogo daquele dia (foto) e tratei de garantir meu copo para a coleção. Na verdade, precisei comprar dois, pois o primeiro foi surrupiado de baixo do meu assento por algum colecionador. Estes exemplares estão acabando rápido nas partidas, aliás.

A venda de bebida e comida melhorou muito em relação às partidas anteriores. Tirando o momento do intervalo, no qual isso se torna inevitável, as filas diminuíram bastante. Adotei as estratégias de comprar duas cervejas de cada vez e de ir durante o jogo, nos dois tempos, o que me poupou de grandes filas – talvez tenha sido o jogo em que mais bebi até agora, foram facilmente umas dez cervejas.

20140622_132832Sobre o jogo em si, dos que vi – ao vivo ou na televisão – foi o pior de todos. O time russo é extremamente desprovido de criatividade ou de força ofensiva; sinceramente, a não ser que esteja machucado, não consigo entender a ausência do jogador Arshavin na convocação. O time belga tem alguns bons jogadores, como Hazard, Feillaini e Lukaku, mas me pareceu bastante aquém de toda a badalação feita em torno.

A partida caminhava para um zero a zero que seria um retrato fiel do jogo, apesar de um apetite belga um pouco maior, quando a estrela do “time da cerveja” Hazard fez bela jogada e deu passe açucarado para o gol da vitória, já nos momentos finais da partida. O resultado classificou a Bélgica e deixou os russos em situação bastante delicada – escrevo antes da definição deste grupo – mas não acredito que nenhuma das equipes possa aspirar a algo mais que uma eventual quartas de final – a Rússia, se obtiver a classificação, nem isso, porque seu mais provável adversário seria a Alemanha.

Consegui retornar de forma até rápida ao metrô, voltando sem problemas ao shopping Nova América para pegar meu carro – não sem antes almoçar um suculento cozido. E volta para casa a fim de descansar – teria Brasília no dia seguinte.

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