Tá tendo Copa para caralho.

Quanto mais o tempo passa, mais a realidade é cruel com os catastrofistas, que passaram meses a fio enchendo, com o perdão da má palavra, a porra do saco, ao preverem que tudo daria errado e que sequer Copa haveria.

Inimigo da Copa agora é igual a eleitor do Fernando Collor em 1990: você sabe que eram milhões, mas estão todos desaparecidos, nenhum deles aparece agora para reafirmar em público suas certezas.

Se você não mora em Marte, já deve ter visto o vídeo dos ‘Yellow Blocs’, endinheirados paulistanos que se reúnem em festas pagas para torcer pelo Brasil e falar mal da Copa. Arrumaram um espaço para se indignar com o fato da FIFA não pagar impostos por conta da realização da Copa.

Pois até isso não é uma verdade absoluta – sim, até nisso a Turma do Contra consegue se equivocar.

A FIFA paga tributos como PIS e COFINS sobre os ingressos vendidos. E seus parceiros pagam impostos normalmente. Isso faz com que apesar da isenção de impostos de importação, do IOF e do imposto de renda, a Copa represente um acréscimo projetado de mais de R$ 16 bilhões em tributos – afinal, aquela Budweiser meio quente que a gente compra nas carrocinhas não está isenta. Quem diria, o Brasil vai faturar em impostos praticamente o dobro do que gastou em estádios. A vida não está fácil para os Constantinos…
Porto Alegre está em êxtase com a Copa. Nunca, nunca mesmo, a cidade recebeu tantos turistas e tão diversificados.

E além dos turistas, tem outro lado bem bacana nessa Copa: o reencontro dos imigrantes com as tradições e culturas de seus antepassados.

coreia x argeliaEu, que sou emotivo por natureza, chorei lendo no Facebook o depoimento de meu amigo de tantos anos, o chileno Alejandro, sobre o jogo do Chile no Maracanã. Estavam ele e o pai abraçados, o pai um senhor bem franzino e com um aspecto de alegria represada, celebrando o fato de pela primeira vez poderem acompanhar a seleção do país de onde precisaram sair às pressas em busca de paz e liberdade, algo impossível nos tempos do sanguinário Pinochet.

Como é maravilhoso o futebol, por permitir esses reencontros mágicos.

No jogo de domingo, também acabei vendo de perto um episódio parecido, porque desde cedo fui para um churrasco de outro amigo, filho de coreanos. Ele alugou uma van e providenciou camisas da Coreia para todos nós, estavam lá seus parentes vindos do outro lado da Terra. Chegamos ao estádio junto com outros ônibus de coreanos, cantando, bem alto, Daehan Minguk, que me disseram ser Coréia no original  – não é algo especial estar cercado de dezenas de coreanos, que viajaram tanto para torcer para um improvável sucesso de sua equipe mediana?

E argelinos, então? Confesso, um tanto envergonhado, que precisei checar informações na Wikipedia sobre a Argélia, eu não sabia quase nada sobre esse país e sigo sem saber muita coisa. Mas como pode tantos argelinos terem tamanha fé em sua seleção?

Na fila do raio-X fiquei imprensado entre um grupo de coreanos e um grupo de argelinos. Um dos coreanos falava português com extremo esforço e ficou muito feliz de ver os dizeres nas camisas que ganhamos, embora não tenha conseguido me explicar o que, afinal, estava escrito (era uma frase longa, preciso até checar isso depois).

Enquanto tirava foto com eles, fiquei refletindo como o futebol tem uma dimensão muito maior do que aquela a que nos acostumamos. Como flamenguista e brasileiro, não consigo me imaginar realizado com um fracasso desportivo – ou, melhor dizendo, para mim só basta a conquista, nada menor do que isso me satisfaz. Mas para todos os povos que vi até agora, a vitória, em si, é secundária, o que realmente conta é o sentimento de pertencimento daquela coletividade e a certeza de estar fazendo parte de um momento ímpar.

Claro que ganhar é bom. Os coreanos, ao seu jeito, ficaram tristes com a derrota acachapante (embora tenham aplaudido a seleção) e os argelinos em estado de êxtase puro. Eu fiquei particularmente aborrecido com os seguranças particulares da FIFA, os tais stewards. Um argelino, mais exaltado, queria assistir ao jogo em pé e comandando os gritos da torcida, mas a todo momento vinham uns chatos obrigando-o a se sentar.

Que gente mais babaca, futebol é alegria pura e, em certos momentos, tem que ser visto de pé mesmo. Torço para que no próximo jogo aquelas malas sejam obrigadas a tentar fazer sentar os milhares de argentinos, que virão em peso para alentar la selección. Duvido que consigam.

ZueiraOs argelinos pareciam minoria, mas desceram a rampa do Beira-Rio como se fossem uma multidão, aos gritos de “One, Two, Three, Vive la Algérie.”

Uma coisa louca, porque afinal é um grito bilíngue, mas que rapidamente foi adaptado pelos brasileiros para “One, Two, Three e Viva a Lingerie!”, o que fez o coro engrossar rapidamente sem que os argelinos se dessem conta da zoeira – afinal, como virou meme, a zoeira não tem limites.

Para mim a Copa é um bálsamo, uma espécie de férias de futebol no resort all inclusive mais fodástico da face da Terra e eu lamento que só me restam mais dois jogos.

Falta pouco para ser despertado desse sonho e me lembrar que a próxima vez que o Beira-Rio reabrir eu vou estar lá também, só que ao invés de Robben e Benzema, são André Santos e Elano que me esperam, quiçá Matheus ou Negueba se não ajustarem a medicação do Ney Franco.

Por isso, eu imploro: #CopaForever!