Eu estou para escrever essa coluna faz muito tempo, mas tanta coisa acontece que só agora consegui. A ideia dessa coluna tem mais ou menos um mês, quando fui ao cinema. Fui com a Hellen, minha namorada, assistir ao filme “SOS Mulheres ao Mar”. Um filme engraçadinho com artistas globais e, lógico, feito pela “Globo Filmes”.

Eu gosto de ver filmes de comédias e filmes nacionais de comédia. Havia acabado de assistir “Copa de Elite”, paródia de alguns filmes nacionais e curti. Fui assistir esse a pedido da Hellen. Assisti, curti também, mas me incomodou.

Incomodou pelo vazio que aquele filme representava. O filme contava a história de uma mulher que tomou um ‘pé na bunda’ e resolve embarcar em um cruzeiro com a irmã e a empregada. História batidaça que me lembrou um filme da década passada americano, “Cruzeiro das loucas”. Mas o que me chamou mais a atenção foi a semelhança com “Meu passado me condena” lançado por Fabio Porchat no fim do ano que também passava em um cruzeiro.

Não. Não acho que ocorreu plágio, apenas coincidência. Mas uma coincidência que vem da falta de imaginação. Estavam lá as mesmas velhinhas dançando perto da piscina, os mesmos cenários, as mesmas aulas, os mesmos diálogos e até o destino era o mesmo. A Itália.

Filme vazio, história vazia; feita apenas para fazer rir durante uma hora e meia e ser esquecido logo depois. Gastam dinheiro, contratam gente para fazer um roteiro, atores, parte técnica, movimentam-se um monte de coisas para fazer algo a ser esquecido.

Tudo  bem. Como eu disse, eu gosto de ver às vezes histórias assim, gosto de rir, tem seu valor, mas o problema é que hoje o cinema nacional se resume a isso.

O cinema brasileiro tem história. Temos a época da Atlântida, Vera Cruz, Cinema Novo. Época dourada com grandes bilheterias e prêmios. Nos anos 70 vieram as pornochanchadas, mas até essas tinham motivo. Era uma época em que não podíamos falar o que pensávamos.

luciofMas também tínhamos bons filmes policiais como “Lúcio Flávio, passageiro da agonia” e “Barra pesada”. Tínhamos Os Trapalhões explodindo e nos anos 80 segurando o cinema quando a crise surgiu e os “Blockbuster” como “Dona Flor e seus dois maridos” e “Bye bye Brasil”.

Depois da crise o cinema  nacional parecia ter conseguido o caminho, lançando filmes marcantes como “Carlota Joaquina”, “O que é isso companheiro”, “Cidade de Deus”, “Central do Brasil” os dois “Tropa de elite” e tantos outros. Só que aí surgiu a “Globo filmes” e a coisa foi mudando, mudando, até que deu nisso de hoje.

Filmes protagonizados por globais com histórias rasas e feitos apenas para bilheteria. Acredito que nunca nossos filmes foram tão vistos. Frequentemente vemos os mesmos passando da marca de um milhão de espectadores. Mas nunca mais tivemos um filme premiado, nunca mais nem cogitado a concorrer um Oscar.

Por quê isso acontece?

É difícil entender o motivo, ainda mais quando pensamos que nunca tivemos tanta liberdade criativa quanto agora. Podemos falar do que quiser, não tem mais censura, não existe mais ameaça de uma ditadura.

Mas o Brasil mudou e para pior em alguns aspectos. O lado bom é que o poder de compra do brasileiro aumentou. Pessoas da classe C e D que antes eram limitadas em suas opções culturais agora podem assistir sua novela em uma tv de plasma ou ir ao cinema.

O lado ruim é que não entendemos que não precisa baixar o nível do que é produzido para alcançar essas pessoas, temos é que levar a elas oportunidade de conhecimento. Mas ninguém está preocupado com isso – e sim com faturamento.

Como eu disse várias vezes nessa coluna não acho ruim, eu gosto de filmes assim e não sou idiota de dizer que antigamente não produzíamos filmes rasos, rasteiros, só para garantir público. Mas antigamente existia um leque de opções que hoje não tem.

O que é uma pena porque nunca fomos tanto ao cinema, nunca nos interessamos tanto pelos filmes produzidos aqui e justo na hora em que não temos nada para mostrar. Até temos, mas não nos interessa mostrar.

anittaE quando analisamos que não é só o cinema, mas toda a nossa arte hoje está engraçadinha, seja na música com seus funks, axés e sertanejos universitários, seja na televisão onde humoristas viraram os principais apresentadores e isso é sentido até nos gols da rodada de domingo, seja no geral a impressão que passa é que o brasileiro tem preguiça de pensar. Só quer aquilo que vem mastigado.

Ninguém quer um país chato, um país sem riso, até porque não é necessário ser burro para rir.

Talvez o problema seja que o Brasil só sabe fazer filme sério no Nordeste e na favela e nesses lugares não passam cruzeiros para a Itália.

Corta!!