Nesta quinta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, aborda o sinal amarelo aceso na Red Bull depois dos inúmeros problemas na primeira semana de testes em Jerez de la Frontera e relembra carros que se tornaram fracassos históricos na Fórmula 1.

Grandes fracassos na Fórmula 1

Evidentemente ainda é muito cedo para cair na tentação de dizer que a Red Bull será um fracasso na temporada-2014 da Fórmula 1. Mas fato é que os diversos problemas encontrados pelo modelo RB10 do mago Adrian Newey nos primeiros testes em Jerez de la Frontera acenderam o sinal amarelo na tetracampeã mundial de construtores.

O diretor esportivo Christian Horner não titubeou quando perguntado sobre o mau começo da Red Bull nos testes: “Este é, de longe, o maior desafio que estamos enfrentando”.

De qualquer forma, apesar de não ser um fracasso consumado, vale a pena relembrarmos alguns carros que se tornaram decepções históricas na Fórmula 1. E reparem que até mesmo Newey teve seus maus momentos quando pegou a prancheta para desenhar seus projetos.

lotus1974Lotus 76, em 1974

O grande Colin Chapman fizera em 1970 o fantástico modelo Lotus 72, que revolucionou a Fórmula 1 e ganhou os títulos de construtores em 1970, 1972 e 1973. Mas era preciso evoluir, e o engenheiro bolou o modelo 76, que tinha uma dupla asa traseira para melhorar a estabilidade do carro nas curvas, uma embreagem elétrica acionada por um botão na alavanca de câmbio, além de um pedal a mais que servia para acionar tirar o carro da inércia. Mas a embreagem deu muitos problemas, além de a distribuição de peso ter sido mal planejada. O modelo de cara se mostrou pouco competitivo e a Lotus voltou ao modelo 72. Foram sete provas com o 76 e apenas uma terminada, com um quarto lugar de Ronnie Peterson no GP da Alemanha, em Nürburgring.

copersucar1979Copersucar F6, em 1979

A única equipe brasileira na história da Fórmula 1 vinha em franca evolução, a ponto de ter levado Emerson Fittipaldi ao pódio no GP do Brasil de 1978. Para o ano seguinte, os irmãos Fittipaldi decidiram investir ainda mais no time e contrataram o projetista Ralph Bellamy (ex-Lotus) para conceber um novo carro seguindo o conceito-asa desenvolvido pela escuderia inglesa com sucesso em 1978. Infelizmente houve erros nos cálculos estruturais e o carro, apesar de ser muito veloz nas retas, tinha problemas seriíssimos para fazer as curvas devido a falhas na rigidez estrutural do chassis. A equipe ainda tentou fazer modificações, mas a temporada estava irremediavelmente perdida. No fim, a Copersucar não aguentou e suspendeu o patrocínio.

ferrari1980Ferrari 312T5, em 1980

Depois do título de 1979 conquistado graças à confiabilidade, a Ferrari resolveu não mexer muito para o ano seguinte e apostou numa evolução, o 312T5. No começo do ano, até que Gilles Villeneuve brigou pelo pódio no GP da Argentina, mas o carro foi perdendo competitividade a ponto de o campeão mundial Jody Scheckter não ter se classificado para o GP do Canadá. Explica-se: com o motor boxer de 12 cilindros, era difícil conceber um carro baseado no conceito asa que vinha sendo adotado pela maioria das equipes. Então, enquanto os outros times só cresceram, a Ferrari parou no tempo e não conseguiu evoluir o carro. A equipe italiana ficou numa terrível décima colocação no Mundial, atrás até mesmo da Fittipaldi.

brabham1986Brabham BT55, em 1986

O sempre inventivo Gordon Murray radicalizou para a temporada de 1986: concebeu um modelo com perfil baixíssimo para baixar o centro de gravidade do carro (sempre um desafio para os projetistas) e melhorar a penetração aerodinâmica. Na teoria, tudo lindo, mas foi um fracasso retumbante por uma série de fatores. Para começar, o problema mais grave: o motor BMW teve de ser readaptado para ficar mais baixo e isso gerou problemas de lubrificação. Além disso, o câmbio de sete marchas (outra inovação) nunca funcionou 100%. Por fim, os pilotos tinham de guiar o carro praticamente deitados. Com apenas 88 centímetros de altura, o BT55 marcou apenas dois pontos no Mundial (no pior ano da Brabham até então) e ainda foi o carro do acidente fatal de Elio de Angelis em Paul Ricard após quebra da asa traseira.

lotus1988Lotus 100T, em 1988

A Lotus vinha de um problemático carro com suspensão ativa e Gerard Doucarouge preferiu um modelo mais convencional para 1988. Mas houve erros crassos nos cálculos de torção do chassis e o modelo guiado por Nelson Piquet era rígido como uma maria mole. Logo na segunda etapa, em Imola, o Lotus 100T ficou três longos segundos atrás dos McLaren pilotados por Ayrton Senna e Alain Prost, com o mesmo motor Honda. Com isso, os pilotos ora e meia eram confrontados, para não dizer superados, por carros com motores aspirados, como Williams e March. Piquet ainda conquistou três pódios na base da experiência e categoria. Doucarouge recebeu o bilhete azul no fim daquele ano.

ferrari1992Ferrari F92, em 1992

Esperava-se muito da equipe de Maranello depois da apresentação do carro para 1992. Com linhas arrojadas, um assoalho bem diferente em relação aos outros carros e entradas de radiador em formato revolucionário, o carro acabou se revelando inguiável e foi sumariamente batido por Williams, McLaren e Benetton, que estavam muitos degraus acima. Jean Alesi ainda arrancou pódios graças à sua habilidade, mas estava claro que a Ferrari não iria a lugar algum. E Ivan Capelli, contratado como esperança, foi o bode-expiatório.

mclaren2003McLaren MP4-18, em 2003

O Mago da Prancheta Adrian Newey resolveu revolucionar para tentar derrotar a poderosa Ferrari. Concebeu um carro de frente muito fina e outras dimensões compactas. Tudo em nome da aerodinâmica, claro. Mas o modelo não passou nos testes de impacto obrigatórios, além de ter sofrido outras falhas eletrônicas e ficou na fábrica para ser aprimorado. No fim das contas, o MP4-18 nunca disputou um grande prêmio e apenas o revisado MP4-19 correu, com resultados fracos. Só mesmo depois que uma nova evolução (MP4-19B) foi para a pista, a equipe voltou a disputar as primeiras posições.

ferrari2005Ferrari F2005, em 2005

A Ferrari atrasou muito a entrega do carro para a temporada de 2005 e os pilotos Michael Schumacher e Rubens Barrichello começaram o ano com um carro de 2004 adaptado. A despeito de os pneus Bridgestone terem sido um handicap bem desfavorável, o novo carro tinha uma anacrônica miniasa à frente da asa dianteira e ainda teve falhas eletrônicas constantes. Só a partir do meio da temporada o carro teve um desempenho um pouco mais aceitável, mas ainda assim foi atropelado principalmente por Renault e McLaren, que tinham os pneus Michelin e carros muito mais rápidos.

honda2007Honda RA107, em 2007

A equipe japonesa teve um sólido desempenho no campeonato anterior e esperava-se muito de Jenson Button e Rubens Barrichello em 2007. Mas o modelo desenhado por Shuhei Nakamoto e Loic Bigois só chamou a atenção pela exótica pintura de globo terrestre e mostrou sérios problemas na aerodinâmica – a ponto de os pilotos dizerem que nas retas o carro parecia ter um paraquedas na traseira. Button conseguiu apenas dois oitavos lugares e um quinto (este sob chuva) e Barrichello passou em branco na contagem de pontos pela primeira e única vez na carreira.

renault2009Renault R29, em 2009

No último ano em que houve uma severa mudança de regulamento, a Renault foi uma das quatro equipes que apostaram no Kers, que estreava na Fórmula 1. Deu com os burros n’água, pois a aerodinâmica foi um desastre absoluto (o bico era feio de dar dó, diga-se de passagem) e a distribuição de peso, devido aos 30 quilos extras da bateria do Kers, foi equivocada, além de o próprio sistema não ter sido considerado eficaz o suficiente para compensar a adoção. A equipe acabou desistindo do Kers e fez mudanças às pressas e isso acabou gerando uma enorme crise. Explica-se: como as melhorias só foram para o carro de Fernando Alonso e Nelsinho Piquet ficou a ver navios, a situação do brasileiro no time foi ficando insustentável. Após a demissão de Nelsinho por Flavio Briatore, veio à tona o Cingapuragate.