Nesta sexta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, debate o atual valor dos Campeonatos Estaduais de futebol, colocados em xeque nos últimos anos.

É possível a manutenção dos Estaduais?

Como estou de férias e recém-chegado ao Rio de Janeiro, resolvi ir ao Maracanã no último domingo para assistir à partida entre Flamengo e Audax pelo Campeonato Carioca. Por não conhecer direito o novo Maracanã e por um amigo ter cedido os ingressos de cadeira cativa, decidi na véspera assistir à partida.

Vendo em campo um time cheio de reservas e uma partida sem graça, me lembrei de uma velha discussão que volta a cada início de temporada no futebol brasileiro: vale a pena que os Campeonatos Estaduais continuem existindo?

pet2001Os detratores afirmam que são torneios deficitários, com públicos baixíssimos (exceto nas finais) e que o nível técnico dos times não justifica as realizações destes. Os defensores garantem que ainda existe o charme devido às rivalidades locais.

Sou da segunda vertente, mas, por outro lado, frontalmente contra os Estaduais da forma como vêm sendo realizados. Explico abaixo, me atendo inicialmente à questão esportiva – sobre a questão política, discorrerei mais adiante.

Penso que os Estaduais precisam na verdade de uma readequação à realidade do futebol nacional com o Brasileiro mais longo (séries A e B). Para começar, é urgente a redução do número de datas, e isso só se consegue reduzindo o número de clubes. Em São Paulo, por exemplo, ter 20 clubes é um absurdo. No Rio, ter 16, também.

Como em todos os estados existem clubes mais tradicionais e com mais torcedores, estes poderiam entrar em fases mais adiantadas dos Estaduais. Isso proporcionaria uma pré-temporada mais adequada e eliminaria a chatíssima situação de clubes escalarem reservas.

RENATO1995Os chamados pequenos, que na maioria já iniciam a pré-temporada antes mesmo por não disputarem as séries principais do Brasileiro no fim do ano anterior, entrariam em campo já nas fases iniciais, com os melhores avançando na competição e se juntando aos grandes.

Daí os clubes de maior investimento jogariam sempre partidas decisivas (e, mais importante, jogariam diversos clássicos) e teriam mais público nos estádios, sem contar que os jogos ganhariam em importância, já que qualquer tropeço poderia ser fatal.

Já os pequenos que avançassem também teriam chances de aparecer na mídia em jogos mais importantes e, por estarem em ritmo de competição, até mesmo aprontar alguma zebra, quem sabe.

Além do mais, uma primeira fase dos Estaduais poderia render índices técnicos para a Copa do Brasil e à Série D do Brasileiro, o que geraria uma competitividade extra para os pequenos, além da questão da classificação para a reta final do torneio local.

Admito que há uma interrogação para essa linha de raciocínio para os Estaduais: como ficaria a captação de patrocinadores para os clubes pequenos numa primeira fase sem os grandes? Imagino que, com uma negociação bem conduzida, um “title sponsor” (ou um conjunto de patrocinadores) da competição poderia preencher essa lacuna. Mas sem dúvida é algo a ser analisado.

Mauricio1989Mas as duas maiores barreiras são midiáticas e políticas. Para começar, como a TV aberta vai aceitar exibir menos jogos dos grandes? E como essa nova divisão de forças influiria nas eleições das federações estaduais?

cocada88É, meus amigos, o caminho é longo. Mas para mim, e muitos amigos, alguns dos grandes momentos como torcedores foram vividos nos Estaduais. O tricolor não esquece do gol de barriga do Renato. O vascaíno, do gol do Cocada. O botafoguense, do gol do Maurício. E o rubro-negro, do gol do Petkovic.

Por que ninguém trabalha para manter os Estaduais de uma forma rentável e exequível? Acho que ainda dá tempo.

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