Neste início de semana uma foto teoricamente banal atraiu atenções de toda a imprensa brasileira. Tratava-se do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva junto à Presidenta Dilma Rousseff. A diferença é que o ex-presidente voltou a cultivar a barba que usara a vida toda e que perdera quando do tratamento contra o câncer de laringe.

Teoricamente, uma foto banal, mas que atraiu olhares e comentários raivosos não somente na imprensa como e setores da denominada elite nacional, cada vez mais incomodada com o processo de inclusão social realizado nos últimos anos – mas este é assunto para outro post. Ao que me parece, demonstra algum tipo de medo de ver o ex-presidente de volta à vida política ativa, após certo recolhimento devido à doença que o acometeu e da qual a princípio está curada.

Contudo, minha idéia neste post é menos analisar este movimento por parte de setores oposicionistas e imprensa idem e mais voltar a fazer um exercício de futurologia: qual será o legado deixado por Lula após sua passagem pela Presidência? Como a figura dele estará sendo lembrada daqui a trinta, quarenta anos – quando eu serei um vetusto senhor na terceira idade?Lula's_presidential_inauguration,_2007Em termos econômicos, o Brasil que emergiu de seu mandato e que foi continuado por Dilma Rousseff é bem diferente do que havia em 2002. A economia não somente cresceu como assistimos a um movimento inédito de formação de um mercado interno consumidor de massa – que era o sonho dos economistas da minha geração.

Ao contrário do que muitos analistas expõem, ainda há espaço para ampliação deste mercado consumidor. A empresária Luiza Trajano em entrevista ao programa “Manhattan Connection” – e encarando uma bancada de comentaristas francamente hostil ao governo, para escrever o menos – deixou claro que este modelo de crescimento da economia baseado na ampliação do consumo de massa está longe de esgotado.

Como a empresária lembrou, apenas 7% da população possuem TVs de tela plana e 54% máquinas de lavar. Ou seja, ainda há muito espaço para expansão. Vale lembrar que a dona do “Magazine Luiza” está longe de ser petista ou apoiar o governo (era filiada inclusive ao PSDB, não sei se ainda o é), mas sabe que está ganhando muito dinheiro com este modelo econômico.

Socialmente, assistimos a um trabalho consistente de diminuição da desigualdade e da concentração de renda nunca vistos antes, bem como o resgate de milhões de brasileiros da fome e da miséria absolutas. Este movimento significou um verdadeiro “choque de cidadania” no país, com uma trajetória de ascensão social em massa nunca antes observada.

A reação raivosa e preconceituosa de setores da “velha classe média” a este movimento é uma boa medida de seu sucesso. Percebe-se um crescente inconformismo desta elite a este processo, expresso em uma perda de “exclusividade” e que tem esbarrado fortemente em demonstrações de racismo e no que eu chamaria de “xenofobia social”. Pretendo voltar ao tema em breve.lula-com-meninoNo que tange à política, Lula exerceu até o limite a ideia de consenso, buscando conciliar, negociar, ceder a fim de alcançar seus objetivos. Ressalte-se que ele governou os dois mandatos sem maioria no Congresso, mas sem jamais recorrer a medidas autoritárias ou rasgar a Lei Magna brasileira – ao contrário de seu antecessor, que mudou a Constituição  se utilizando inclusive da compra de votos no Congresso a fim de se perpetuar no poder.

Lembro também que Lula sofreu uma oposição encarniçada de parte da grande imprensa brasileira, que decidiu comportar-se como um partido político de oposição – e golpista, acrescento eu. Ainda que criticado, caluniado, ofendido sem trégua jamais se viram medidas de restrição à liberdade de imprensa ou ligações às redações pedindo demissão de jornalistas.

Basta lembrar que isto não é regra: esta semana mesmo se prendeu um jornalista em Minas Gerais por ter feito críticas ao senador e pré candidato à Presidência Aécio Neves.

Digressões feitas, voltamos ao tema: qual será o legado de Lula ? Como a História se lembrará dele?

Certamente, como um presidente que simultaneamente olhou para os mais pobres – como Vargas – e proporcionou crescimento econômico e empresarial ao país – como Juscelino.

Como um político que enfrentou uma campanha midiática golpista sem tréguas e ainda assim saiu vitorioso três vezes – sim, amigos: a eleição de Dilma Rousseff foi uma vitória política expressiva dele, que na ocasião transformou uma gerente do governo em política de 55 milhões de votos.

Ou por tacadas como a eleição do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Lula enxergou antes de todo mundo que a única chance de retomar uma das “jóias da coroa” tucanas era lançando um nome novo, que não fosse identificado com os vícios e rejeições anteriores por parte do eleitorado. Na comparação com o candidato tucano José Serra, Haddad representou o novo e a renovação, e foi decisivo.

De certa forma se tentará repetir a estratégia com o lançamento do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo paulista: um nome novo, cuja gestão é elogiada por todo mundo que eu conheço da área. Vale lembrar que muitos dos problemas da saúde brasileira (que são enormes), embora creditados ao Ministério, são na verdade responsabilidade de estados e municípios.

Outro ponto que chega a ser engraçado são setores da elite chamando Lula de “analfabeto” e “burro”. Ninguém sai da miséria absoluta, passa pelo sindicalismo na época da ditadura, funda um partido e chega ao poder se for burro, analfabeto ou coisa do gênero. Obviamente, este tipo de pensamento denota, uma vez mais, uma espécie de “xenofobia social”: Lula não pode ser presidente porque “não é um dos nossos, não é bem nascido”.

Lula também será lembrado por sua vitoriosa história de vida pessoal, saindo de retirante nordestino para Presidente da República. Isso é façanha para poucos, pouquíssimos. Pela capacidade de absorver derrotas, aprender com estas e se fortalecer para combater o bom combate.

Eu me arriscaria a dizer que daqui a trinta, quarenta anos, Lula será lembrado não somente como um dos três maiores presidentes da história do Brasil – ao lado de Vargas e Juscelino – como talvez o maior político, no sentido estrito do termo, já visto por estas bandas em todos os tempos. Com lugar de honra na História.

Se tudo correr bem, estarei vivo para ver este reconhecimento e contar aos meus netos a história que vi e vivi.discursodepossedelula(Imagens: Ricardo Stuckert e reprodução da internet)

3 Replies to “Lula, a barba e seu legado”

    1. Prezado, saiba que está sujeito a ter que provar na Justiça este seu comentário. Grato

  1. RESPOSTA: COMO O MAIOR EMBUSTE DA HISTÓRIA DESTE PAÍS! É ASSIM QUE ELE SERÁ LEMBRADO PELA POSTERIDADE!

Comments are closed.