Nesta quarta-feira, a coluna Made in USA, do advogado Rafael Rafic, comenta a eleição da sede Olímpica de 2020, Tóquio, e ainda os desdobramentos do pleito que elegeu também Thomas Bach como novo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI).

COI – Ecos de Buenos Aires

Continuando meu “pagamento de dívidas” com assuntos antigos esquecidos por causa da disputa portelense, hoje é dia de comentar sobre os resultados da importantíssima sessão do COI ocorrida em Buenos Aires entre os dias 7 e de 10 de setembro que foi alvo de coluna minha ainda em junho.

Começo analisando o que sempre tem de mais importante em qualquer sessão ocorrida em ano ímpar: a eleição da sede olímpica dos jogos a se realizaram daqui há 7 anos (apesar dos Jogos Olímpicos serem de 4 em 4 anos, temos eleições de sede olímpica de 2 em 2, uma para os jogos de verão outra para os de inverno).

Na disputa entre Toquio (Japão),  Madrid (Espanha) e Istambul (Turquia), a cidade japonesa, como previsto por mim, levou a melhor e será a sucessora do Rio de Janeiro na realização dos Jogos Olímpicos. Porém a facilidade foi maior do que a imaginada: na 2ª e última rodada de votação Toquio ganhou de Istambul por 60 a 36, após esta ter que ir para o desempate com Madrid após a 1ª rodada de votação para ver quem iria passaria junto com Tóquio.

Obs: o COI utiliza um sistema muito interessante para suas eleições. Há várias rodadas de eleição até que alguma opção tenha a maioria absoluta dos votos. Após a 1ª rodada, caso ninguém tenha conseguido a maioria absoluta, elimina-se apenas o pior votado e há uma 2ª rodada. Se não houve maioria absoluta, elimina-se novamente o último colocado e se procede uma 3ª rodada. Assim ocorre sucessivamente até que se sobre apenas 1 escolha ou se alcance a maioria absoluta. Caso haja empate na última colocação, há uma eleição desempate apenas entre aqueles que empataram em último lugar, exatamente o que ocorreu com Madrid e Istambul, que ficaram cada uma com 26 votos contra 42 de Tóquio.

Os japoneses, sempre muito precavidos já criaram, ainda na fase de campanha, um fundo de bilhões de dólares para garantir as obras necessárias para a realização dos Jogos Olímpicos, já tem projetos prontos para serem executados entre outras medidas bastante pró-ativas.

Por isso a piada que mais se ouviu em Buenos Aires na continuação da sessão foi a de que Tóquio teria avisado ao Rio (que anda com alguns problemas de atrasos em obras, mas fora o Galeão, nada grave) para não se preocupar com 2016, que já está tudo pronto. O Rio deveria se preparar para 2020.

Porém o que ninguém comenta é que o Estádio Olímpico de Tóquio para os Jogos de 2020, que estava orçado em US$ 2,9 no dossiê de candidatura, feito em fevereiro deste ano, já realizou um belo salto com vara e já foi reajustado para US$ 6,7 bilhões menos de 1 mês depois do anúncio da vitória japonesa. Não nos esqueçamos que a tragédia nuclear de Fukushima ainda causa muita dor de cabeça e gasto de dinheiro ao governo japonês, mesmo sendo o principal motivo de propaganda para alardear o futuro legado dos Jogos em Tóquio. Ahh se fosse no Brasil…

Logo no dia seguinte, ocorreu o esperado e as Lutas Associadas (ou Luta Olímpica como ainda é chamada por alguns) conseguiu ainda na 1ª rodada o direito de continuar sendo esporte olímpico. Foram 49 votos para ela, contra 24 do baseball/softball e 22 do squash. Essa a Federação Internacional de Lutas Associadas está devendo ao UFC que entrou de corpo e alma na campanha.

Apesar da vitória de primeira, esperava um domínio maior da votação para as Lutas Associadas, não esperava que o meu querido baseball sequer atingisse 10 votos, quanto mais os 24 alcançados e muito menos que ficasse a frente do squash que vem se preparando para ser esporte olímpico há muito tempo e tem feito um ótimo trabalho nos últimos 4 ou 8 anos.

Isso muda completamente meus pensamentos para a próxima revisão do programa olímpico que deverá ocorrer em 2017 para vigorar a partir 2024 e mostra que o lobby silencioso pró-baseball em causa própria dos países que tem bons times é fortíssimo. Hockey na grama que se cuide. O que não deixa de ser triste, pois o baseball não está fazendo por onde merecer o status olímpico, ainda mais se comparado com o squash.

O último dia, tradicionalmente reservado para resolver as questões administrativas do COI que precisam ser levadas a plenário marcou o começo de uma nova era: a eleição do sucessor do presidente Jacques Rogge.

Apesar de 6 candidatos terem se apresentado, a eleição foi rápida e o alemão Thomas Bach (foto acima) confirmou o favoritismo se elegendo ainda na 2ª rodada com 49 votos. Carrion ficou com 29 votos, Miang teve 6 votos, Oswald, 5 e Bubka 4. CK Wu foi o eliminado na 1ª rodada após desempate com Miang.

Ou seja, apesar do quadro de indefinição a eleição ocorreu mais ou menos como delineei na coluna de junho. O único erro grosseiro foi a pífia votação de Denis Oswald, porém isso foi resultado de 2 péssimas entrevistas dele em jornais europeus pouco após a divulgação da coluna nas quais ele falou muito mais do que devia e perdeu qualquer terreno que houvesse conquistado na disputa.

O que esperar do novo presidente Bach? Pelo que conheço dele e por suas declarações logo após sua eleição espero dele algo próximo ao mote da última eleição de Aloisio Teixeira para a reitoria da UFRJ: “Continuar, ousar, mudar”.

Ao mesmo tempo que Bach não deverá alterar bruscamente a forma do COI de se organizar e organizar os Jogos, ele pretende fazer reformas em pontos localizados, mas chaves na administração do COI nas quais pequenas mudanças podem resultar em grandes alterações.

Bach há tempos é crítico da forma do COI se organizar em inúmeras comissões, especialmente as comissão de avalição de cidades candidatas e as de acompanhamento de preparativos para os Jogos Olímpicos e mais recentemente tem atacado a forma como o COI realiza o procedimento de escolha das cidades-sede dos Jogos Olímpicos Esperem mudanças nesses dois pontos para 2014 e 2015.

Quanto as pessoas de confiança do novo presidente dentro do COI, algumas figuras começam a se destacar como o novo presidente da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais, Sheikh Ahmad Al-Fahad Al-Sabah (Kuwait), e a ex-atleta Claudia Bokel e a prórpia Nawal El-Moutawekel.

Por fim, mas não menos importante. neste último dia o problema brasileiro da falta de representatividade no COI também foi solucionado com a aceitação da indicação de Bernard Rajzman (o Bernard do Volei) para ser membro pleno do COI. Admito que foi um nome gestado e que ficou fora do meu radar. Após sua indicação fiquei sabendo que Nuzman já estava trabalhando há bastante tempo para a escolha deste nome.

Particularmente fiquei surpreso porque, apesar dos legados deixados por ele na área esportiva enquanto foi deputado federal e secretário estadual de esportes do Rio de Janeiro, Bernard chegou a ter seu nome envolvido em denúncias de corrupção e com a atitude de “não basta ser ético, tem que parecer ser ético” que o COI vem assumuindo nos últimos anos, achei que seu nome estivesse inviabilizado. Mas dentre as opções brasileiras era a melhor mesmo.

Obs: de verdade isso não era problema desde o dia seguinte da publicação da coluna citada acima, pois nesse dia a comissão de avaliação de novos membros do COI divulgou a sua lista de nomes a ser aprovada no plenário de Buenos Aires.  Por mais que a Carta Olímpica exiga a aprovação dos nomes indicados por essa comissão pela Sessão do COI, tal votação é mera formalidade, não lembro de alguém que tenha sido rejeitado.

Bernard tem 57 anos de idade e só estoura a idade limite para ser membro do COI em 2027, esta nossa problemática está resolvida por um bom tempo. Esta coluna deseja sorte para Bernard no cumprimento desta nova missão.

(Foto: COI – Divulgação)