A coluna do jornalista especializado Fred Sabino discorre sobre este fenômeno chamado Sebastian Vettel.

Desmerecer Vettel é injusto

Antes de entrar no tema da coluna desta semana, queria deixar aqui o agradecimento ao Pedro Migão pelo espaço aqui no Ouro de Tolo. Afinal, nesta semana completo um ano como um dos colunistas deste ótimo time do blog. Por estar trabalhando em TV, coincidentemente também há um ano, o Ouro de Tolo é o espaço ideal para manter vivo o meu prazer em escrever textos mais longos e elaborados, e, principalmente, sobre diferentes temas.

Mas, antes de ser um colunista, sou na essência um leitor do Ouro de Tolo muito antes de escrever nele. O Migão, parceiro da época em que eu morava no Rio ainda, sempre se notabilizou por dar espaço a diferentes correntes de opiniões e temas. E isso sempre me fez curtir o blog e me fez aceitar o convite de escrever.

Bem, entrando no tema da semana, queria destacar as vaias recebidas por Sebastian Vettel após vencer de forma categórica o Grande Prêmio de Cingapura, no último domingo. Isso já havia ocorrido em Monza, no Grande Prêmio anterior, bom que se diga.

Na verdade, vaiar Vettel por ele vencer uma corrida facilmente é até normal se levarmos em conta a passionalidade do torcedor. Mas dizer que ele é tetracampeão (já é, convenhamos) só por causa do excelente carro da Red Bull é uma tremenda injustiça. O automobilismo sempre foi, ainda é, e sempre será, regido pela combinação piloto/carro/equipe. Raras as vezes só um grande carro, só um grande piloto ou só uma grande equipe ganharam isoladamente. É preciso juntar todas as pontas.

Piloto não carrega o carro nas costas [1], bem como um grande carro não vence se o piloto não for competente para explorar o máximo de um conjunto na pista. E uma equipe pode jogar tudo fora se não gerir bem carro e piloto.

Senão vejamos: em 1986 a Williams tinha o melhor carro, o piloto mais técnico (Nelson Piquet) e o piloto mais arrojado (Nigel Mansell), mas se perdeu na gestão e a melhor equipe, a McLaren, e um piloto também muito técnico (Alain Prost) aproveitaram para levar o título, com um carro que se não era o melhor, era muito bom. A McLaren juntou as pontas, a Williams, não.

O que se vê hoje é a combinação piloto/carro/equipe elevada num nível poucas vezes visto. Adrian Newey foi mais uma vez brilhante na concepção do modelo RB9, Christian Horner comanda o time com perfeição. E Vettel vem guiando maravilhosamente.

Fernando Alonso, é claro, está guiando maravilhosamente também. Mas aí o carro da Ferrari não é lá essas coisas e a própria equipe sempre se enrola nas estratégias – em Cingapura, o time devolveu Alonso e Felipe Massa à pista depois dos pit stops sempre com tráfego pesado à frente, em um circuito de rua…

O que acontece, na verdade, é aquela velha tendência da torcida de querer que o mais fraco vença e o gigante seja batido. É como quando Muhammad Ali lutava e muitos queriam ver o dia em que ele seria nocauteado (até perdeu, mas nunca foi à lona, diga-se de passagem). Da mesma forma, quem não era rubro-negro queria ver o grande Flamengo de Zico ser aniquilado um dia.

É claro que para a Fórmula 1 o ideal seria alguém desbancar Sebastian Vettel a curto prazo para que vejamos novos vencedores. Mas numa análise fria, o tetra de Vettel é fruto da extrema competência. De todos os envolvidos. De quem soube juntar as partes.

Sob um ponto de vista pessoal, já tive a oportunidade de entrevistar Vettel duas vezes (em 2009 e 2010) e de fazer perguntas a Alonso uma vez. Levando em conta que o alemão é um sujeito simpático e autêntico, nunca se envolveu em falcatruas, e sorri sempre, enquanto o espanhol é político ao extremo e muitas vezes carrancudo, minha torcida é para Vettel sempre.

Mas eu jamais vaiaria Alonso caso ele volte a ser campeão um dia. Afinal, goste-se ou não, é um grande piloto. Assim como este grande Sebastian Vettel.

[N.do.E.: Existe uma ótima história envolvendo Nelson Piquet. Em 1988, com a horrorosa Lotus, o repórter da tv perguntou se daria para Piquet vencer a corrida. A resposta foi “na lata”: ‘sou piloto, não mágico’.]