Nesta domingo, o compositor Aloisio Villar inicia uma série de duas colunas sobre as disputas de sambas das escolas cariocas para 2014.

Os sambas enredo de 2014

Nas últimas duas quintas-feiras em meu blog postei vídeos e áudios dos sambas concorrentes para o carnaval carioca de 2014 e achei interessante trazer o assunto para cá, já que todas as doze escolas já estão com suas disputas em andamento.

Nesses dois anos e quatro meses de blog eu já falei algumas vezes do processo do concurso de samba-enredo, mas para os amigos que chegam agora explico novamente. Para você que estranha que eu fale de carnaval faltando seis meses ainda para a folia, digo que as disputas duram mais ou menos entre agosto e outubro e precisam de toda essa antecedência para que vá à gravação do cd – que sai em dezembro e precisa ser exaustivamente ensaiado pela comunidade até o desfile.

Os sambas vêm de uma sinopse que é entregue aos compositores na maioria das vezes no mês de junho, dando um certo tempo assim para que eles estudem e façam seus sambas.

Isto ponto vamos analisar as safras.

Sem ir para o lado político e ou da boataria digo que ao contrário dos últimos anos pelo menos por qualidade não temos sambas ganhos. Podemos até ter sambas bem encaminhados, mas não ganhos como Portela e Vila nos dois últimos anos. Entre esses sambas bem encaminhados posso falar em quatro escolas.

Beija-Flor parece ter errado a mão na sinopse. Lendo os sambas me deu a impressão que muitos assuntos eram necessários colocar-se na obra. Uma viagem que não entendi o motivo que termina com a obrigatoriedade de citar o Babado da Folia. Isso afetou diretamente os sambas. Mesmo assim gostei muito do samba do Sidney de Pilares que me parece ser o favorito, mas não está ganho: disputa que tem Cláudio Russo nunca podemos dizer que ele já perdeu.

Situação parecida vive a Imperatriz com o samba do Elymar Santos de ótima qualidade e um refrão poderoso que com certeza em caso de vitória será o refrão do ano e vai parar no Maracanã (ou em Brasília, dependendo da direção do Flamengo). A Imperatriz ao contrário da Beija-Flor soube construir sua sinopse em cima de uma história interessante que juntava Zico ao Rei Arthur. Também não está ganho já que temos bons sambas como os de Zé Katimba e João Estevam, mas é o favorito.

Grande Rio com seu enredo sobre Maricá também me parece bem encaminhado com o samba de Jorge Aragão. Ótimo samba onde não tenho como não citar o lado político. É difícil imaginar um samba composto por Jorge Aragão e Péricles perdendo. A escola tem como alternativa o bom samba de Deré.

Mocidade, a última a divulgar seus sambas trouxe o belo samba de Dudu Nobre que voltou à agremiação se juntando ao talentoso Diego Nicolau e parceiros. É favorito, mas também não está ganho, Moleque Silveira e cia podem surpreender, além de outros tarimbados da escola.

Tirando essas quatro não consigo ver uma disputa direcionada a um samba. Vila Isabel que sempre teve André Diniz reinando soberano vê agora Tonico da Vila montando parceria interessante, com celebridades como Pedro Luís do Monobloco e a atriz Suzana Pires. O samba do Tonico é do mesmo nível comparado ao de André.

Tijuca não ouvi muito, a parceria de Julio Alves sempre é favorita, mas como não ouvi o suficiente não posso fazer maiores considerações. Mangueira tem disputa nivelada com belos sambas das parcerias de Lequinho, Renan Brandão além do lendário Hélio Turco. Além deles tivemos voltas importantes como de Amendoim e Cadu que vieram com ótimas obras – deixando a disputa completamente indefinida.

São Clemente vive a mesma situação da Mangueira com várias parcerias podendo vencer e sambas dos mais diferentes estilos. Se Victor Alves e cia vencer não será surpresa, assim como Gabrielzinho Poeta que vem sozinho novamente. Teve junção entre esses dois ano passado.

Mas pode dar também a tradicional parceria de Eugênio Leal que apostou em um samba mais sério, para quem disser que a escola prefere sambas irreverentes lembro logo de “Capitães do Asfalto”. Parcerias novas surgiram na agremiação que é a que mais dá oportunidade ao “novo”. Destaco aí as parcerias de Bruno Dias e cia e Charlito e cia. Também temos gente famosa como Francis Hime no concurso.

E agora vou falar das duas escolas que na minha avaliação tem os melhores sambas do ano.

Salgueiro vem com tema forte, a teoria de Gaia. Trás para mim dois sambas fantásticos e qualquer um dos dois sendo escolhido é candidato a Estandarte de Ouro. Falo dos ex-parceiros Dudu Botelho e Marcelo Motta que remontaram suas parcerias, ganharam os três últimos concursos da agremiação e parecem duelar de novo.

Os dois sambas são ousados, trazem inovações em refrãos (Marcelo no meio e Dudu principal) e estão muito longe da linha “Peguei um Ita no Norte” que a agremiação seguiu nas últimas duas décadas.

Outra escola que tem sambas candidatos a Estandarte de Ouro é o Império da Tijuca. Primeira escola a soltar seus sambas e começar seu concurso, ela tem sambas primorosos que assim como o Salgueiro não me fazem decidir por um.

Os sambas de Samir Trindade e cia, Bola e cia, Leco da Alerj e cia e Marcio André e cia são melhores que a grande maioria dos sambas que foram para a avenida nos últimos anos e é uma pena pensar que três não irão ao carnaval. Ou dois, ou um, ou nenhum nesse tempo de fusões.

O Império sabe das dificuldades que uma escola que sobe tem para ficar e vem fazendo tudo direito, escolhendo um grande enredo que fatalmente lhe dará um grande samba. Se a escola quer ficar no Especial é por aí que ela tem que seguir.

E Portela onde estou disputando? E União da Ilha escola que conheço tão bem? Sobre elas falo semana que vem e sobre modas que surgiram para a “temporada primavera verão” de 2014. Os sambas de celebridades e o “recall”.