Nesta sexta a coluna do jornalista esportivo Fred Sabino tenta desvendar um mistério: por que Ronaldinho nunca brilha em decisões?

O desafio de Ronaldinho

A qualidade técnica de Ronaldinho Gaúcho é absolutamente indiscutível. Com inteira justiça foi eleito o melhor jogador de futebol do mundo em 2004 e 2005. Batedor eficiente de faltas, de pênaltis, dono de visão de jogo apurada, inteligente para antever a melhor opção, passador de categoria, habilidoso.

Enfim, um autêntico camisa 10.

Mas se existe algo que falta no arsenal de Ronaldinho Gaúcho, isso se chama poder de decisão em finais. Na última quarta-feira, no primeiro jogo da final da Libertadores (foto), o cérebro do Atlético Mineiro esteve completamente apagado na partida contra o bravo Olimpia, que venceu com justiça por 2 a 0.

Ronaldinho Gaúcho foi percebido em campo em apenas dois momentos: quando catou do gramado pedaços de reboco atirados pelo público, e quando foi substituído pelo técnico Cuca no segundo tempo – o treinador, diga-se de passagem, teve postura exemplar ao comentar a derrota.

Já não é de hoje que Ronaldinho Gaúcho brilha intensamente durante uma competição e se apaga inexplicavelmente quando deveria se acender. No começo da carreira, Ronaldinho até brilhou em uma decisão: justamente a primeira, no Gaúcho de 1999, quando até lençol deu no colorado Dunga. Mas Ronaldinho ainda estava surgindo e a pressão não era nele.

Ainda naquele 1999, já com os holofotes em cima, Ronaldinho fez uma ótima Copa das Confederações e se firmou na Seleção Brasileira. Mas na final contra o México, não só ele teve uma atuação ruim, como tentou bater rapidamente uma falta e entregou nos pés dos mexicanos, que não perdoaram e fizeram o gol decisivo na vitória por 4 a 3.

Na Copa do Mundo de 2002, Ronaldinho teve um jogo muito bom contra a Inglaterra (apesar da expulsão), mas teve uma participação apenas correta na vitória da Seleção por 2 a 0 sobre a Alemanha. Rivaldo, Ronaldo (com dois gols) e até mesmo o volante Kleberson tiveram atuação destacada naquela decisão.

No Barcelona, mesmo no auge da forma, Ronaldinho foi decepcionante em campo na final da Liga dos Campeões de 2006 contra o Arsenal. Apesar do amplo favoritismo do Barça, Ronaldinho ficou à mercê da marcação inglesa e a partida só foi decidida a favor dos catalães no finalzinho com um gol do lateral Belletti, curiosamente  em um chute que iria para fora e foi colocado para dentro pelo goleiro Alumnia.

Naquela mesma época, Ronaldinho teve a única atuação destacada em finais pela Seleção, na Copa das Confederações de 2005 contra a Argentina. Não só ele como Kaká e Adriano brilharam intensamente no triunfo brasileiro por 4 a 1 contra a Argentina. Tudo levava a crer que finalmente ele se firmara como maior nome da Seleção.

Mas um ano depois, na Copa do Mundo da Alemanha, os relatos deram conta de que Ronaldinho e seus companheiros exageraram nas noitadas. E em campo, fato, ele foi a maior decepção do time comandado por Parreira. No jogo decisivo contra a França nas quartas de final, então, Gaúcho apenas assustou numa cobrança de falta no fim. Pouco para quem era o melhor do mundo na época.

Nos anos seguintes a carreira de Ronaldinho entrou em declínio na Europa e em 2011 ele se transferiu para o Flamengo numa operação até hoje polêmica. Na final da Taça Guanabara contra o Boavista, ele até guardou um gol decisivo, de falta. Mas em todos os jogos importantes do Fla naquele ano, Ronaldinho ficou devendo. E, depois, veio o ainda mais controvertido distrato com o Fla, seguido de uma passagem brilhante até agora pelo Atlético.

Não quero crucificar o Ronaldinho. Em certa época de sua carreira, cheguei a discutir com colegas de profissão que ele era o único jogador que dava prazer de ver em campo – depois viria Neymar. Mas a história mostra. Em quase todas as ocasiões em que esperava-se dele para decidir em favor de seu clube, Ronaldinho decepcionou.

Por quê? Excesso de confiança? Medo? Marcação cerrada dos rivais? Pressão para decidir? Noitadas demais? Só mesmo Ronaldinho sabe o que se passa.

Fato é que ele tem uma grande chance de colocar esse histórico de decepções no ralo na partida de volta contra o Olimpia. Não está fácil para o Galo, é verdade. Mas dá. Só que Ronaldinho precisará ser aquele Ronaldinho do começo deste texto.

Aquele que dá gosto de ver jogar.