A coluna do compositor Aloisio Villar hoje comenta sobre o impasse referente à utilização do Maracanã. Vale lembrar que após o fechamento da coluna o Fluminense assinou o acordo para utilizar as dependências do estádio.

Um estádio para chamar de meu

“Domingo vou assinar o pay per view

Pra torcer pro time que sumiu

Vou sentar em poltronas e cadeiras

Isso não é brincadeira

Interditaram o Engenhão

O Maraca é da playboyzada

Que nos clubes deu garfada

Depois da licitação

E o meu time foi se esconder

E o nome dele outro estado vai dizer

Fiz essa paródia da música “Domingo” do Neguinho da Beija-Flor sábado retrasado pela manhã enquanto eu lia no twitter as pessoas falando do jogo do Flamengo contra o Coritiba em Brasília.

O Flamengo virou uma espécie de “Globetrotters do mal”. Para quem não sabe o Harlem Globetrotters é um time de basquete norte-americano que desde o começo do século passado viaja pelo mundo, misturando habilidade do jogo de basquete com brincadeiras provocando diversão por todos os países que passa. O Flamengo também anda viajando demais. Os jogadores chegam em casa e seus filhos não lhes reconhecem chamando o vizinho, o padeiro, o carteiro e o rapaz do GatoNet de papai.

O Flamengo, assim como os Globetrotters se exibe por inúmeras praças, nesse caso no Brasil, para se mostrar. Chamo de “Globetrotters do mal” porque ao contrário dos americanos o Flamengo vem espalhando falta de habilidade com as brincadeiras, provocando desgosto por onde passa.

O Flamengo virou um sem teto, assim como o Botafogo e no momento em que escrevo o Fluminense. O Vasco tem terra, mas não tem time. É o caos instalado no futebol carioca.

Apertem os cintos, o estádio sumiu. Parece um filme, mas é a realidade.

O carioca sempre teve orgulho do Maracanã. Inaugurado para a Copa de 1950 ganhou logo o status de “maior do mundo” sendo palco de algumas da mais importantes partidas e com maior público da história do futebol.

Mas nunca soube se preparar para a falta dele.

Ocasionalmente o Maracanã era interditado para obras rápidas, com isso logo na memória vem o campeonato carioca de 1992 jogado em São Januário. Em 1995 o Flamengo, por exemplo, mandou vários jogos fora do Rio por não concordar com as taxas.

Como eu disse, nada que durasse muito, mas que nos dois casos trouxeram desequilíbrio nas competições. Lógico que em 1992 o Vasco levou vantagem por jogar a competição em casa (não por culpa dele) e em 1995, no meio de todas as confusões que se meteu o Flamengo ainda sofreu com a falta de residência.

Em 2007 foi inaugurado o Engenhão para os jogos Pan Americanos e a expectativa desse problema acabar. Em 2010 o Maracanã foi demolido para a construção de um novo estádio para a copa e dessa forma o estádio do Engenho de Dentro se tornaria o principal da cidade por três anos.

Por vários motivos (e todos esses estranhos) o carioca não gostou do Engenhão e com isso deixou o estádio de lado. Sentia falta do Maracanã, colocou um monte de defeitos no novo estádio e simplesmente “não deu liga”. Eu mesmo desanimei. Nunca fui um cara que ia todas as semanas ao Maracanã, mas pelo menos quatro, cinco vezes ao ano estava lá. Não fui a estádios depois de seu fechamento.

Parecia que tudo iria voltar ao normal esse ano. Mas o Engenhão começou a trazer problemas mesmo com apenas seis anos de uso e o Maracanã, ex-maior do mundo, o ex-palco dos grandes momentos do futebol brasileiro se arrisca a transformar em um elefante branco graças a manobras políticas do governo do estado que gastou um dinheirão na sua reconstrução e praticamente doou o estádio para Eike Batista e seus rapazes.

O Maraca não é mais nosso, é deles e eles que decidem o que fazer com ele. Eles botam as taxas que quiserem, cobram o aluguel que quiserem e como o Engenhão está fechado os clubes só tem três saídas.

Jogam em São Januário, coisa que a polícia não recomenda; vão para o interior do estado e repetem a média de 900 pessoas por jogo que tivemos no último carioca ou fazem ‘bye bye Brasil’.

Os clubes do Rio estão perdidos.

Estão perdidos também por culpa deles. Tirando o Vasco que nos anos 20 se planejou e com o apoio de sua torcida e dos comerciantes criou São Januário nenhum nesse tempo todo se interessou na casa própria. Ok. Por muitos anos mandaram jogos na Gávea, Laranjeiras ou Marechal Hermes, mas os tempos mudaram e eles perceberam e não fizeram nada. Por quê?

Porque tinham o Maracanã.

Os quatro clubes grandes de São Paulo, mais a Portuguesa, Guarani, Ponte Preta, todos tem estádios. Lá tem sobrando, não sabem o que fazer com o Pacaembu que é mítico. Podem alegar agora que o Corinthians tem ajuda governamental para sua arena, a sorte de um ex-presidente fanático.

Mas e daí? O Flamengo, dono da maior torcida do mundo e por isso era obrigado a ser a maior marca e potência do Brasil nesses últimos sessenta anos não teve relação com o poder para ter um estádio? Só vou lembrar um rubro-negro fanático. Roberto Marinho.

Nem precisava do poder público. Uma direção minimamente preparada e bem intencionada já teria usado essa marca Flamengo junto à iniciativa privada e feito esse estádio. O pior que é o clube não mostra a mínima vontade para isso. Os próprios dirigentes atuais só falam em estádio caso não cheguem a um acordo com o Maracanã.

Se chegarem ao acordo são mais trinta e cinco anos sem estádio.

Nada contra o Maracanã, mas acho que cada um devia ter seu estádio e usar o maraca pra jogos da seleção e os mais importantes do estado como finais de taça Guanabara, Taça Rio, estadual e clássicos regionais. Torcer pessoalmente está ficando uma coisa séria. Os ingressos caros, os clubes jogando pelo país ganhando dinheiro e se desgastando fisicamente e em campeonatos.

Ir a estádio está virando coisa de elite, pra quem tem grana seja para ir ao estádio ou pegar um avião e poder ver seu time do coração. A coisa fica tão feia que dá saudade até de ver a porcaria desse time do Flamengo pessoalmente. A Bia tem com quatro anos e queria levá-la pra ver um jogo do Flamengo no Rio. Espero não ter de esperar a chegada dos meus netos.

Domingo eu vou…

…Ficar em casa mesmo.