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(Foto: Estadão)

A edição desta semana da coluna “Sabinadas”, do jornalista esportivo Fred Sabino, trata do recente impasse envoilvendo o chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, e a Prefeitura de São Paulo devido a obras solicitadas em Interlagos. O leitor verá no artigo que, no fundo, é uma briga por dinheiro.

Ecclestone e o GP do Brasil de F-1: São Paulo x Santa Catarina

Chamou a atenção no começo da semana a ameaça contundente de Bernie Ecclestone à organização do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em matéria do jornalista Livio Oricchio publicada em “O Estado de S.Paulo”. Detentor dos direitos comerciais da categoria, o baixinho disse com todas as letras que estava cansado das promessas não-cumpridas de reforma de Interlagos e que a F-1 deixará o autódromo caso obras não sejam feitas ou não haja um plano estruturado para isso.

Bernie Ecclestone, todos sabem, é uma velha raposa – o Pedro Migão fez aqui no blog uma resenha da biografia do polêmico dirigente. É useiro e vezeiro em ameaçar a corrida, desde os tempos em que os carros da categoria rasgavam pelo saudoso circuito de Jacarepaguá. Mas, afinal, se Bernie manifesta não gostar de Interlagos no calendário, por que ele já não tirou a prova de lá?

É trabalhoso explicar.

São Paulo paga, e paga muito bem para receber a prova – os valores, claro, são sigilosos. Se não pagasse, a F-1 já teria saído daqui há muito tempo e iria para outras bandas como essas do Oriente Médio/Ásia, que têm, digamos, investido na realização de corridas nos últimos anos. Isso pesa muito.

Mas na verdade, há anos uma reforma se faz necessária em Interlagos. Por mais que as ondulações do asfalto façam parte do passado e o traçado de 4,3 quilômetros, embora menos técnico do que o antigo de 7,9 quilômetros, ainda seja considerado desafiador pelos pilotos, todo o restante deixa a desejar em relação a outras pistas.

O paddock é extremamente apertado para os padrões atuais da F-1. Nós jornalistas, por exemplo, temos imensas dificuldades para trabalhar e transitar. Os banheiros são poucos para o mundo de gente que aparece por lá. A sala de imprensa está aceitável, embora pague-se caro por uma internet apenas razoável.

Os espaços destinados às equipes são considerados claustrofóbicos. Para se comer uma simples refeição na área da Ferrari, por exemplo, é um aperto daqueles. Para que se tenha uma ideia, é um espaço menor do que o dos motorhomes utilizados nos autódromos europeus.

E o entorno é, guardadas as proporções, como o do Engenhão. O acesso é bastante difícil e o número de vagas de estacionamento, insuficiente para a quantidade de torcedores da F-1 (média de 70 mil por ano). Sorte que nos últimos anos a CET-SP tem feito um ótimo trabalho na organização do trânsito, atentuando o problema.

Além disso, há o problema da segurança, ou a falta dela… Já houve casos de furtos de laptops na sala de imprensa e assaltos a integrantes de equipes – em 2011, o carro de Jenson Button foi cercado por bandidos e o motorista (evidentemente treinado para situações de risco) conseguiu escapar.

Os ingredientes negativos para a permanência do Grande Prêmio do Brasil em Interlagos, portanto, são inúmeros. Mas aí vem o fator fundamental – e novo – neste processo. O governo de Santa Catarina, em união com o Parque Beto Carrero, quer uma corrida da Fórmula 1 e eles não estão brincando. Bernie já esteve lá, inclusive. Ecclestone gostou do que ouviu (sobre valore$, claro) e, além disso, o projeto do autódromo catarinense é totalmente abrangente em relação às normas atuais da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). O projeto foi até encomendado ao arquiteto alemão Hermann Tilke.

Então, qual é o cenário? Bernie quer levar vantagem nesta disputa brasileira. Está usando a carta na manga chamada Beto Carrero para pressionar a prefeitura de SP pela reforma de Interlagos. E por mais dinheiro. Mas o novo governo de Fernando Haddad (por enquanto) não está a fim de gastar o necessário para levar o paddock da atual reta dos boxes para a reta oposta. E pagar mais pela prova.

Ou seja, no fundo no fundo, Bernie está doido para Haddad não se mexer nesse sentido e fechar com os catarinenses. Assim, ele manteria o Brasil no calendário, o que é até conveniente pela importância do mercado do país no cenário internacional, e se livra de São Paulo. Além de ganhar mais grana, claro.

Mas e se por acaso as intenções dos catarinenses derem para trás? O Brasil que se dane. O que não falta é país querendo a F-1.

Bernie Ecclestone não dá ponto sem nó.

[N.do.E.: após o fechamento da coluna o Prefeito Fernando Haddad, da capital paulista, afirmou que fará as obras requisitadas. A conferir.]