20130413_172634No último sábado estive no Mercadão de Madureira, um dos maiores mercados populares do Brasil, talvez o maior do Rio de Janeiro. É local que merece uma análise toda especial.

Fundado na década de 50, com direito ao presidente Juscelino Kubitschek em sua inauguração, o Mercadão passou por um grande incêndio em 2000, no que muitos afirmam ter sido criminoso. Eu me lembro que estava em um evento na quadra do Salgueiro naquela ocasião e, ao retornar para casa – morava ainda em Cascadura, onde nasci e fui criado – de casa via a fumaça do incêndio.

Também tenho daquela ocasião a notícia dos animais queimados vivos nas lojas e as denúncias – jamais comprovadas – de que os bombeiros saquearam o que restara antes de combater o fogo. O certo é que, após o incêndio e algum tempo fechado, o Mercadão reabriu reformado e um pouco diferente de seu perfil original.

Não ia ao Mercadão desde antes do incêndio, ou seja: há muitos anos. Anteriormente era um local especializado basicamente em doces, balas e alimentos por um lado e em artigos para cultos afrobrasileiros – incluindo animais para sacrifícios – de outro. Embora estes tipos de loja continuem, o mix hoje é bem mais variado.

Visualmente, o Mercadão hoje é um meio termo entre um shopping e algo como a Cadeg, em Benfica. Corredores estreitos, muita gente e lojas de perfil mais popular. As fotos deste post foram tiradas já ao final do expediente, quando o movimento era bem menor; mas, nos horários de pico, é um verdadeiro formigueiro.

As lojas originais de doces e artigos para candomblé e umbanda continuam lá, mas hoje o mix é mais diversificado: muitas lojas de artigos para festas – meu objetivo na ida, aliás, casas de alimentos, estabelecimentos com artigos para animais e até uma loja especializada em vinhos e cervejas especiais – pena que somente vi esta quando estava indo embora.

Um fato curioso é que as lojas de animais vivos acabaram concentradas em uma única ala do Mercado. Não sei se foi proposital, mas foi assim que vi. Galinhas, galos, cabritos, coelhos e outros animais coexistem e reinam soberanos naquele espaço. Bem diferente do que se via antigamente, quando até bodes vivos circulavam pelos corredores.

O público frequentador é eminentemente popular. Era curioso verificar que se podia identificar com extrema facilidade quem não pertencia às classes C e D. Eu me incluo nesta: vestido de bermudão, tênis de marca e camisa do New York Knicks, destoava facilmente no ambiente – e olha que tenho origem suburbana…

Curioso também observar que poucas vezes vi tantas mulheres grávidas em um mesmo espaço: em determinado momento diria que uma em cada quatro desfrutavam deste estado. Desde meninas de 13 anos até a senhoras na faixa dos 40, eram grávidas para todas as situações. Curioso.

Outra curiosidade é que algumas pessoas mudavam os seus trajetos para não passarem em frente às lojas voltadas a produtos para os culto afro-brasileiros. Estas tem todo tipo de requisito necessário, desde uma camiseta àquele curioso até roupas completas de rituais, entre outros apetrechos.

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Os preços sem dúvida são bastante convidativos, o que explica este formigueiro de gente em um sábado. Em artigos para festas a economia chegava a ser de 50% sobre os mesmos produtos vendidos em outros locais, por exemplo. Já em produtos para animais não achei tão convidativo: saíram bem caros os remédios que comprei para minha cachorra, que padece de uma alergia infecciosa – nada muito diferente de outros estabelecimentos especializados aqui na Ilha do Governador.

Parêntese: alguém consegue me explicar porque antibióticos para cachorros custam até quatro vezes mais que para humanos? Quem souber, por favor a área de comentários está à disposição.

Também fiquei pensando em qual o custo de produção de um brinquedo, importado da China, que chega ao varejo a R$3, 4. Fica difícil não pensar que é fruto de trabalho quase escravo na origem.

Dois pontos achei deficientes: as opções de alimentação são bem escassas, quase nulas, e simplesmente não há qualquer lugar onde possa se sentar. São pontos que se pode melhorar, sem dúvida alguma, sem perder a essência do local. O estacionamento é fora do local, mas próximo, de forma que atende às necessidades.

Após uma tarde inteira no mercado popular, me arrisco a dizer que o Mercadão de Madureira – que, inclusive, foi tema de uma das alegorias da Portela neste 2013 – é um bom arquétipo da cultura popular brasileira. Ainda que um tanto quanto descaracterizado de sua história original, conserva resquícios de suas origens, abrangendo uma gama de produtos que em nenhum outro lugar do Rio de Janeiro estão concentrados em um mesmo local. Vale a visita.

Por meu turno, estou decididamente envelhecendo: não tenho mais muita paciência para lugares com muita concentração de pessoas. É, leitores, o tempo passa…

2 Replies to “O Mercadão de Madureira: algumas notas”

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