legado eventos esportivos

Nesta terça feira, a coluna “Kritizismus”, do administrador Jorge Farah, mostra o legado que os grandes eventos esportivos que se aproximam irão deixar no Rio de Janeiro.

Legado dos Mega Eventos Esportivos

Na coluna de estréia, abordei o tema “as Olimpíadas e os gastos sociais, procurando demonstrar que não passa de um mito a ideia de que os altos investimentos públicos despendidos para sediar os grandes eventos esportivos acarretariam uma redução nos gastos com saúde e educação. Dando continuidade, irei tratar as vantagens em sediar os mega eventos esportivos. Claro que nem tudo são flores, mas deixarei os riscos e problemas para outra oportunidade. 

Ao se falar em legado, logo nos vem à mente o fechamento do Engenhão, a não utilização nas Olimpíadas de equipamentos construídos há poucos anos para o Pan, a construção de estádios para a Copa com dinheiro público em praças onde tudo indica que se transformarão em elefantes brancos e, claro, o provável superfaturamento e o enriquecimento ilícito de alguns atores envolvidos. No plano internacional, ao lado do bom exemplo de Barcelona, temos o endividamento excessivo da Grécia (com os Jogos de Atenas) e o belíssimo Ninho dos Pássaros na China subutilizado (com capacidade para 80 mil pessoas e custo de US$ 450 milhões). 

Tudo isto é verdadeiro e causa uma rejeição em muita gente quando se fala em sediar os grandes eventos. Como a grande imprensa aborda esses assuntos no dia-a-dia (e ainda bem que isto aconteça), concentrar-me-ei, neste artigo, no que o país e a cidade do Rio de Janeiro podem ganhar com a realização dos eventos. 

A primeira observação importante é que o legado de um acontecimento de grande porte não se resume aos equipamentos e arenas para sua utilização. Há impactos em várias esferas, que se bem aproveitados, acarretarão uma combinação de fatores positivos que irão gerar desdobramentos sócio-econômicos que poderão se incorporar de forma duradoura à sociedade.

Vejamos: 

  1. Infraestrutura – construções em geral, mobilidade urbana, equipamentos esportivos e renovação de aparelhos urbanos;
  2. Social – geração de empregos, capacitação e qualificação de mão-de-obra, políticas públicas voltadas para o esporte (formação de indivíduos) e lazer (integração); ações de responsabilidade social e sustentabilidade;
  3. Imagem – exposição de marcas, de cidades e do país;
  4. Mercadológico – lançamentos de produtos, aumento do market share, políticas de relacionamento com clientes
  5. Receita – movimentação econômica, geração de negócios, crescimento do turismo, aumento na arrecadação de governos e faturamento de empresas;
  6. Produção – transferência de tecnologia, melhoria nos serviços,
  7. Estratégia – parcerias internacionais
  8. Intangível – autoestima da população 

investimento em transporte rio de janeiro (1)

Na realidade, os benefícios já podem ser sentidos bem antes dos eventos. Neste momento, por exemplo, há uma série de obras acontecendo no país, em especial na Cidade Maravilhosa. Algumas delas aconteceriam de qualquer forma, mas dificilmente na mesma velocidade e todas no mesmo tempo. O quadro acima demonstra os investimentos em transportes, que representam ganhos permanentes para a população, que constam do planejamento do Município e do Estado do Rio para a realização dos eventos. 

Como a construção civil é empregadora intensiva de mão-de-obra, aumenta-se a renda e o consumo de muitas famílias, além da arrecadação de tributos, promovendo, assim, um ciclo virtuoso na economia (quadro abaixo).

impacto economico investimento

Estudos da Ernst & Young apontam que os eventos esportivos possuem uma capacidade de acelerar os investimentos em até uma década. Os setores afetados diretamente pela realização das competições são: construção civil, transporte, turismo e hotelaria, tecnologia e comunicação, alimentação e bebidas, serviços, utilidades, mídia e segurança. 

Segundo o relatório “Decisão” da FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) o estado do Rio de Janeiro possui hoje a maior concentração de investimento do mundo, com mais de R$ 4 milhões investidos por km2. Parte disto é pela necessidade da capital sediar uma série de eventos e há também outra parcela originada pela exposição decorrente dos mesmos. 

Ao final, reproduzo alguns gráficos e figuras que podem ajudar a dimensionar e visualizar esses impactos, destacando:

  1. Mais de 3 milhões e seiscentos mil novos empregos por ano por causa dos preparativos para sediar a Copa (fonte: Ernst & Young);
  2. R$ 26,5 bilhões de investimentos só para sediar a Copa do Mundo (fonte: Ernst & Young) e quase R$ 18 bilhões no Estado do Rio para sediar os eventos em sequência (Fonte: Firjan);
  3. US$ 8 bilhões a serem investidos em mobilidade urbana na cidade do Rio de Janeiro (fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro), sendo quase R$ 3 bilhões só nos sistemas de BRTs até o próximo ano (Fonte: Firjan);
  4. R$ 112 bilhões de impacto no Produto Nacional Bruto –PNB pelos investimentos originados pela Copa (fonte: Ernst & Young);
  5. Quase R$ 1bilhão de consumo estimado dos turistas na Copa só com alimentação; 

Como pode ser observado, os eventos esportivos representam uma grande oportunidade sócio-econômica para o organizador. O sucesso irá depender da capacidade de atendimento das diversas necessidades e o legado, tanto o físico quanto o intangível, pode gerar bem-estar para a população em um horizonte temporal que ultrapassa e muito a própria realização dos eventos.

Assim, entendo que ao invés de abrir mão de chances de melhorias e protestar e reclamar de ser sede, caberia à população canalizar o senso crítico em cobranças por melhor planejamento e controle dos gastos públicos. 

Fiquem com informações físico-financeiras e aguardo nos comentários sugestões para novos artigos para essa série, onde podemos desenvolver mais algum item ou especificar mais os impactos em determinado setor econômico, além de falarmos sobre os riscos e problemas.

Ao final, há dois vídeo institucionais da Prefeitura do Rio sobre os novos sistemas de transporte da cidade (o BRT e o VLT).

impactos consolidados copa 2014 ernst young

despesa de visitantes copa 2014

decisao rio firjan investimentos no rio relacionados a copa e as olimpiadas

decisao rio firjan investimentos na capital ate 2014

mobilidade urbana rio de janeiro

 

Vídeos:

BRT:

VLT:

7 Replies to “Kritizismus – “Legado dos Mega Eventos Esportivos””

  1. Próximo assunto: como um aeroporto mal-dimensionado e esquecido pode ferrar com todo o evento esportivo.
    A desleixo do governo federal com o Galeão já está me dando nos nervos. É o grande sinal vermelho que vejo nas obras para os Jogos Olímpicos por enquanto.

    1. Rafic, acho a palavra “desleixo” injusta. O caso dos aeroportos é um exemplo típico de como a burocracia e a anacrônica Lei das Licitações podem emperrar obras que são necessárias.

    2. Rafic, ótimo tema. No próximo pretendo falar sobre riscos e problemas. É provável que eu aborde o assunto, que também poderia ser desenvolvido por você numa continuação/atualização daquele que você fez sobre o legado fisico.
      Se você não for atualizar, posso desenvolver mais.

  2. Pois eu concordo com o Rafael, é desleixo
    em outros aeroportos, como o de Brasília, os processos estão se encaminhando bem mais rapidamente que aqui…

  3. Acredito que seria bastante interessante que os pais dos 8 bebês que morreram nas maternidades públicas do DF nos últimos dias, comentassem aqui sobre o que acham do desvio no orçamento de 100 milhões (CEM MILHÕES) de reais, direcionados para a finalização das obras desse ELEFANTE BRANCO que é o estádio de Brasília.

    Depois dos depoimentos deles, eu me manifesto.

    1. Gustavo,
      O. “Desvio” é o que saiu nesse blog e reproduzido em outros http://blogdaleili.blogspot.com.br/2013/04/estadio-mane-garrincha-nasceum-gigante.html?
      Bem, como falei no outro artigo, o dinheiro da saúde não foi remanejado para obras do estadio. Isto não pode. Precisaria olhar o orçamento do DF para ver exatamente o que aconteceu, junto com o diário oficial. A prática de remanejamento é comum e, de forma alguma, pode ser chamada de “desvio”.
      A saúde deve estar lá com seu mínimo constitucional garantido. Se não tiver, é crime. A copa não diminuiu o orçamento, portanto não diminuiu o dinheiro a ser gasto com saúde.
      Ao invés de pensar na meia dúzia que ganhará com corrupção (que é bem diferente de transferência orçamentária) e que “tirariam o seu” com ou sem copa ( infelizmente) sugiro que pense nos 3 milhões que terão emprego a cada ano por causa dos eventos ou nos inúmeros microempresários que ganharãodinheiro honestamente.

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