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Temos mais uma estreia esta semana no Ouro de Tolo. É a coluna “Prazer, Cerveja”, escrita pelo especialista Nicholas Bittencourt. Será quinzenal e tem como alvo o mundo da cerveja: sua história, sua teoria, sua harmonização e dicas de compras.

Ela será quinzenal e na coluna inicial Nicholas, dono do blog sobre o assunto Goronah, fala um pouco da origem de líquido tão precioso. A foto mostra a trapista mais reverenciada, a belga Westvleteren.

Cerveja: uma história que merece ser contada

Muita gente acredita que a cerveja é uma bebida recente e sempre associa a mesma à cultura alemã. Apesar de existir muita influência dos germânicos nessa bebida, a história dela começou muito tempo atrás: há 5000 anos, com os sumérios.

Naquela época, a espécie humana ainda era composta de caçadores e coletores, levando vasos com grãos de local em local, onde buscavam campos mais férteis. Nessa época, provavelmente o estagiário esqueceu alguns dos vasos na chuva, deixando os grãos ensopados. Veio o sol, mais chuva e os grãos foram liberando açúcar e fermentando.

Sentindo aquele cheiro interessante, decidiram beber e a embriaguez foi logo sentida, deixando os homens mais próximos aos deuses. Com o tempo, a agricultura se tornou uma necessidade, pois eles não podiam se dar ao luxo de depender de se achar grãos. Melhor plantar!

Uma mulher ganhou a responsabilidade de ser a mestra cervejeira. Ninkasi foi escolhida como a deusa da cerveja por aquele povo e com o tempo a cerveja se espalhou pelo mundo.

Além da Alemanha, a Bélgica e a Inglaterra se consolidaram como grandes escolas cervejeiras. Seja criando a Lei de Pureza ou estilos consolidadas como Pilsen, Stout e Pale Ale, essas três regiões definiram o que seria a cerveja no decorrer da história e quais seriam as regras a ser quebradas por cervejeiros aventureiros. Voltaremos ao tema futuramente.

Justamente os Estados Unidos estão a frente dessa revolução atualmente. Depois de sobreviver à Lei Seca, o mercado deles foi dominado por grandes cervejarias por muitos anos, até a década de 70. Nessa época, diversas pequenas cervejarias foram surgindo em diversas partes do país, chegando hoje a um volume de produção que supera o registrado antes da Grande Depressão.

No Brasil, a história cervejeira é recente demais. Das cervejarias que se mantêm em atividade atualmente, a mais antiga data do século XIX, todas atualmente controladas por grandes corporações. Isso levou a uma falta de identidade e diversas cervejas com a mesma aparência, sabor e aroma, disputando consumidores através do marketing.

Você bebe a cerveja do churrasco, a do futebol, a da praia ou a da balada?

No início dos anos 2000 o movimento de cervejas artesanais começou a despontar por aqui. Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais, entre outros estados, tiveram cervejarias fundadas, encerradas e expandidas.

O trabalho do brasileiro foi tão bem feito que hoje somos reconhecidos internacionalmente através de prêmios internacionais e visitas de ilustres cervejeiros de fora para fazer projetos em conjunto com nossas cervejarias. Um exemplo é o premiado Garrett Oliver (Brooklyn, EUA) produzindo uma cerveja com caldo de cana junto à mineira Wäls.

Depois de tanto tempo e tanta história, é curioso perceber que a cerveja ainda está evoluindo como produto. Seja pelo uso de ingredientes inusitados, como a cerveja de bacon e mapple syrup, ou pela busca incessante pela quebra de limites, como a cerveja mais alcoólica do mundo ou a mais amarga.

Só nos resta acompanhar de perto, nos deliciando com as novidades e torcendo que a legislação incentive a inovação e a revolução cervejeira que só cresce no mundo como um todo. 

Na próxima coluna, aproveitando a Páscoa, vou falar sobre as propostas de harmonização de cervejas para essa época. Se você acha que cerveja não combina com chocolate ou outros doces, pode se surpreender.