20130212_053022Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, faz um balanço do carnaval que passou.

Para nós portelenses o carnaval 2014 já começou. Na última sexta feira foi lançada a chapa “Portela Verdade”, de oposição, às eleições de maio próximo. A chapa terá o membro da Velha Guarda Show Serginho Procópio como candidato à Presidente, o sócio benemérito Marcos Falcon como vice presidente e o grande Monarco como Presidente de Honra.

A chapa, que tem este Editor Chefe como um dos integrantes (provavelmente no Conselho Fiscal), será lançada próximo dia 25. Vamos à coluna.

O Que Restou das Cinzas

E a Vila Isabel, de Noel, Martinho e Diniz, foi campeã do carnaval. A Vila de Rosa, de Arlindo, a Vila da “kizomba” caipira, do Real Madrid do samba tal a quantidade de super craques na parceria que compôs o samba como na agremiação. A Vila chão da poesia, celeiro de bamba. 

E foi merecido demais. Talvez só Mangueira em 2002 e Tijuca em 2010 tenham conseguido essa carga de merecimento. É a campeã do século com melhor samba, talvez, na minha opinião que fique bem claro, desde Estácio 1992 a gente não tenha tido uma parceria tão forte entre escola e samba de qualidade para um campeonato. 

Ok, Salgueiro em 1993 foi campeã graças ao samba, quer dizer, ao refrão, mas convenhamos: o Ita é um arrasa quarteirão, mas não é um grande samba e se fez o Salgueiro ganhar um campeonato fez perder mais de quinze. 

E a escola que até Stevie Wonder, Geraldo Magella, Kátia a cega e Pedro Migão viram como a melhor do carnaval precisou de seu samba-enredo para vencer a folia, já que liderando desde o início a apuração via seu carnaval indo pro arraiá com fole e tudo quando a Tijuca lhe ultrapassou no quesito bateria. 

Mas mesmo com um 9,8 dado por um psicopata sem mãe e amor no coração (descartado), foi em samba-enredo que a Vila virou o jogo de forma definitiva e venceu o carnaval 2013. O samba venceu.

[N.do.E.: isso não mede muita coisa, mas para os jurados o samba considerado como o melhor foi o da Portela, com quatro notas dez.]

Como também venceu na série A, com o Império da Tijuca. Um sambaço acompanhado de um senhor desfile trouxe de volta a escola do morro da Formiga ao grupo especial depois de dezessete anos. 

Houve papo antes do carnaval de que a série A estava comprada e o Império Serrano venceria. Resquícios da comovente Lesga. A verdade é que o carnaval da Lierj foi bem diferente e quase todas as escolas foram muito bem julgadas. 

Digo quase porque mais uma vez a Cubango, que fez um grande desfile, foi prejudicada. Mas sacanearem a Cubango virou uma tradição do carnaval como o Rei Momo, o Bola Preta, as marchinhas de carnaval e o Pedro Migão (sempre ele) debruçado na frisa – não dando espaço pra ninguém e falando mal de todas as escolas que não sejam de Madureira e não vistam azul e branco. 

Além, é claro, da Grande Rio voltar nas campeãs. Todo mundo sabe que existe um contrato em que é imposta a presença da Grande Rio todos os anos no desfile das campeãs; em contrapartida a escola é obrigada a colocar a Susana Vieira em seus desfiles. Grande Rio no sábado das campeãs desse ano é a tartaruga na árvore. Ninguém sabe como parou lá, só que alguém botou. 

De resto tirando a Imperatriz que surpreendeu positivamente e quebrou o grupo das quatro que imaginei que liderassem e a União da Ilha que decidiu se transformar numa Luana Piovani (linda e sem graça) eu acertei tudo. 

Banquei Vila, Beija-Flor e Tijuca brigando pelo título e foram as três primeiras. Banquei Salgueiro nas campeãs e voltou. Grande Rio e Imperatriz brigariam por campeãs e também voltaram. Portela e Mangueira na zona da marola (obrigado Nilo e Ivo, graças a vocês acertei), São Clemente e Mocidade fechando as que ficavam no grupo e Inocentes caindo. 

Inocentes já tinha caído na quarta-feira de cinzas do ano passado como, infelizmente, o Império da Tijuca terá o mesmo destino – a não ser que a Mocidade continue nesse trabalho hercúleo e de muita raça e vontade de conhecer a Série A. 

Errei antes do carnaval citando o Império Serrano como favorito do A, mas acertei quando terça coloquei o Império da Tijuca e que a Tradição fez desfile para cair, mas lhe contava a favor o samba. Foi isso que ocorreu, só ficando pelo samba. 

Vamos a Intendente Magalhães agora: 

Acadêmicos do Dendê brigou para subir como eu previ. Três subiram e ficou em quinto. Falta ao Dendê um pouco mais de malandragem e menos de euforia. Peca pela ingenuidade às vezes, como ano passado ao perder o carnaval em penalidades que só descobriu na apuração e esse ano mesmo com seu ex-presidente na direção da associação passará mais um ano no grupo C. 

E infelizmente, como previ, o Boi caiu. Eu disse que estava muito complicado para a escola e ela se complicou ainda mais sozinha. Foi melhor avaliada do que pensei tirando boas notas nos quesitos. Ficaria em sétimo, mas… 

… Perdeu 2,7 pontos por falta de baianas. Era pra ter trinta e cinco e tinha oito. Perdeu um ponto por não ter o mínimo de pessoas desfilando. 

Se tivesse mais quinze baianas, desfilado com apenas vinte e três (que é ainda bem abaixo do mínimo) teria se mantido no grupo.

É o segundo rebaixamento idiota do Boi. O outro foi em 2010, quando perdeu dois pontos ao não conseguir tirar seus carros a tempo da dispersão. Teria ficado em sétimo e talvez hoje estivesse na série A passando na Globo. 

Só posso parabenizar a todos que se dizem torcedores da escola e em vez de estar lá com ela em um momento tão difícil foram ser figurantes na União da Ilha, apenas mais um na multidão na esperança de passar na telinha da poderosa emissora. 

Conseguiram rebaixar a escola. Parabéns. 

Mesmo com tudo isso sou totalmente contra que Boi ou Dendê acabem ou se juntem. Para mim propor isso é como propor uma “limpeza étnica”. É estar nem aí para a emoção das pessoas, o sentimento que elas tem pelas escolas pensando em um lado mais “profissional” e “empresarial”. Que se dane esse lado empresarial e profissional: por causa dessa porcaria que o samba ta morrendo. 

Boi e Dendê nunca serão escolas do grupo especial, mas abasteceram e muito a União da Ilha de sambistas que sem espaço na irmã maior floresceram nessas agremiações. Eu juro que quero entender quem reclama do enxugamento do número de escolas xingando a prefeitura, a Globo, a Liesa, a Onu – e pensa em algo assim. 

Escola de samba tem que ser gerida de forma eficiente, mas é local de sentimento, emoção, de raiz. Ganhei 12 sambas-enredo nessas escolas e não abro mão de minha raiz e meu passado. 

E tirando a Grande Rio, não conheço muitos casos de escolas pequenas que se juntaram e formaram uma grande. Cadê a Unidos de Lucas, que surgiu de uma fusão? Se a garotada da Unidos de Bangu tivesse pensado assim por lá ter a Mocidade e não tivesse reativado a escola? Com seis meses apenas de funcionamento fizeram a escola subir de grupo e, dependendo de conversas com o prefeito, até chegar na Sapucaí. 

O carnaval não é feito apenas pelas super escolas, é feito das pequenas também e nunca vi um cara ferrado casar com uma mulher ferrada e com isso eles ficarem ricos. 

Uma fusão entre as duas não daria certo. Boi e Dendê são escolas com essência completamente diferentes, pessoas diferentes e uma união faria surgir uma escola tão pequena quanto elas e sem passado. Algumas coisas vão mudar no Boi e eu estarei dentro dessas mudanças. As pequenas escolas não precisam acabar, precisam se organizar. 

No mais parabéns às vencedoras e porque não, as vencidas. Por todas que fizeram esse que é o maior espetáculo da Terra. Especiais parabéns a escolas tradicionais como Em Cima da Hora que volta a Série A e a Unidos do Cabuçu de volta ao B.

O carnaval de 2014 já está aí quase batendo na porta e quando ele bater é só avisar dentro de casa. 

Oh muié, a folia chegou..