Normalmente, caro eleitor, sempre chego a 40 dias das eleições com meus votos todos definidos, em especial para os cargos legislativos. Já tive dúvidas quanto a cargos majoritários, mas no Legislativo jamais.
Entretanto, a chapa de candidatos a vereador carioca está absolutamente desanimadora. Está bastante complicado achar um candidato que seja digno do meu voto.
Olhando a propaganda eleitoral na televisão, vemos que são os mesmos políticos de sempre. As “novidades” em sua maioria são filhos ou parentes de próceres cariocas. Outro ponto assustador é perceber que entre os candidatos competitivos existem inúmeros envolvidos em escândalos diversos, milicianos e traficantes, entre outros.
Ainda que a 40 dias aproximadamente do pleito e sabendo-se que o eleitor médio somente define seu voto às vésperas da eleição, pode-se dizer que a Câmara carioca será predominantemente composta por três tipos de políticos: os pastores evangélicos, os picaretas habituais e fichas policiais com crimes mais graves – como tráfico e milícia.
Três partidos, particularmente, possuem chapas completas que poderiam perfeitamente ser indiciadas por formação de quadrilha. É muito picareta junto, a meu ver. Não são ilações: basta levantar a atuação dos sujeitos em suas vidas pregressas e os leitores entenderão o que estão dizendo.
Mesmo a chapa do PT, que é normalmente onde me refugio e escolho meus candidatos, não empolga. Como nestas eleições não votarei no PSOL de forma alguma – por fatores que mais à frente explicarei – fiquei sem opção. A situação está tão complicada que eu, que não misturo política com futebol, somente não votarei no ex-jogador Andrade por ele ser do PSDB – e eu, por princípio, não voto neste partido.
Basta lembrar que provavelmente o vereador mais votado deverá ser o ex-Prefeito Cesar Maia, czar carioca durante 16 anos e que somente este ano recebeu duas condenações por improbidade administrativa, teoricamente estando inelegível. Acredito que ele deverá ser o mais sufragado, mas não acredito que ele tenha os 200 a 300 mil votos que alguns analistas atribuem a ele – pessoalmente, acho que não chegará a 100 mil.
Outro fato curioso é vermos em partidos diferentes o deputado e apresentador de TV Wagner Montes e o filho dele – um está no PSD e o outro no PRB, se não me engano. Outro filho é o do Deputado Jair Bolsonaro, que está fazendo da homofobia a sua plataforma política – lamentável.
Penso que esta falta de renovação na política carioca se deve ao excessivo tempo no qual as principais correntes políticas do estado mantém as mesmas lideranças. Há pelo menos duas décadas que os caciques são os mesmos: Cesar Maia, Garotinho, Benedita da Silva, Jorge Picciani, Marcello Alencar, Sérgio Cabral e representando os evangélicos, Marcello Crivella.
Pergunto ao leitor: quantas novas lideranças surgiram na política carioca nos últimos dez anos? Lindbergh Farias e, com boa vontade, Eduardo Paes – embora este esteja abaixo de outros caciques do PMDB. É muito pouco.
Embora não seja nosso escopo, o próprio quadro de candidatos a prefeito espelha isso: Eduardo Paes é representante da oligarquia peemedebista e tem como vice Adilson Pires, antigo burocrata do PT. Da chapa dos filhos de Garotinho e Cesar Maia não preciso nem dizer nada e Marcelo Freixo é originário de Niterói.
Evidentemente, o longo domínio de correntes de direita levou também a este estrangulamento de novas lideranças: Cesar Maia reinou durante 16 anos e no estado de 1998 para cá só existem Garotinho e Cabral (Picciani). As práticas adesistas da Assembléia Legislativa e da Câmara Municipal do Rio também propiciaram este quadro de poucas lideranças.
Vale lembrar também que, embora tenha claramente refluído nas eleições de 2010, o segmento evangélico tem um peso considerável na formação de bancadas legislativas, embora não pareça ter fôlego para pleitos majoritários. Basta lembrar que Crivella só se reelegeu senador em 2010 devido a uma parcela expressiva de votos úteis ideológicos de esquerda, contra Picciani e Cesar Maia – por mais insólito quanto pareça.
Ainda assim, acredito que cerca de 30% da Câmara a se formar em outubro seja composta de elementos vindos do eleitorado evangélico. Isto significa que deverá continuar havendo dificuldades para a aprovação de leis progressistas, em especial no campo dos costumes.
Outra questão a ser considerada é que cada vez mais deveremos ter uma formação regionalizada da Câmara, ou seja, vereadores com votações concentradas em determinadas regiões. Na prática este componente paroquial não deixa de ser uma espécie de voto distrital, até porque os candidatos representantes do chamado “voto de opinião” praticamente inexistem neste pleito de 2012.
Concluindo, é esta a Câmara que devemos esperar: muitos pastores, muitos detentores de extensas fichas corridas, muitos “paroquiais” e fisiológicos, algumas exceções a este quadro.
Isso leva a nos pensar duas coisas: primeiro o quão interessado em política está o carioca e, segundo, até que ponto esta composição é reflexo direto da maneira de ser e proceder da população. Os políticos não surgem por geração espontânea, ou seja, alguém os coloca lá.
Enquanto faço esta reflexão, continuo buscando um candidato a vereador que mereça o meu voto. Está difícil.
P.S. – Leitores de outras cidades e estados: o quadro é o mesmo? Está ruim de achar um bom candidato a vereador para se votar? Respostas na área de comentários.