Nesta terça feira, o colunista Rafael Rafic faz a primeira coluna com o balanço da participação brasileira nos recém encerrados Jogos Olímpicos de Londres. Nesta terça feira temos os esportes coletivos e, amanhã, os individuais.
Balanço Olímpico Brasileiro: Esportes Coletivos
Depois de 17 dias mágicos, acabaram as competições da última edição dos Jogos Olímpicos e chegou a hora de não somente comentar os resultados como também verificar em que pé ficaram minhas previsões nas colunas anteriores.
Serão duas colunas de avaliação, uma apenas sobre a delegação brasileira e outra sobre o quadro de medalhas no geral.
Inicialmente eu tinha projetado para o Brasil cinco ouros, cinco pratas e oito bronzes, em um total de 18 medalhas, no que realmente era uma projeção um tanto otimista. Ao final dos jogos somamos três ouros, cinco pratas e nove bronzes, em um total de 17 medalhas. Posso dizer que cheguei bem perto.
Essas 17 medalhas representam o novo recorde de medalhas em uma edição para o Brasil. O anterior era de 15 em Atlanta 1996 (3O 3P e 9B) e em Pequim (3O 4P e 8B). O recorde de ouros continua com Atenas 2004 com cinco medalhas douradas.
Para quem reclama que nossos investimentos não retornam em medalhas eu sempre gosto de dar aqui dois exemplos de que ganhar vários ouros não é tão fácil assim.
O primeiro é o Canadá. È um país bastante rico e que investe bastante em esportes, inclusive investimentos privados e das próprias federações nacionais, algumas riquíssimas graças a torneios realizados por elas que são extremamente lucrativos (o que falta aqui).
Não tenho os números exatos aqui, mas quem é entendido já me disse que chega a ser o nosso triplo. Não obstante esse intenso investimento, que já vem de longuíssima data, o Canadá sai de Londres com apenas 1O 5P 12B, em um total de 18 medalhas. Mas se esses fossem os números brasileiros já estaria ouvindo os gritos de “só da latão” e “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor” etc.
O segundo é a Turquia. O país da eterna candidata a sede olímpica, Istambul, começou recentemente um projeto muito parecido com o do Brasil para melhorar seus resultados olímpicos. Resultado: 2O 2P 1B. Pior: nem as máquinas de medalhas que eles tinham em luta olímpica e em levantamento de peso eles mantiveram. A luta só deu um bronze e o levantamento passou em branco em 2012.
Então não dá para menosprezar o resultado brasileiro, que já dá mostras de permanência. Foram cinco ouros em Atenas 2004, três em Pequim e as mesmas três em Londres.
Após essa análise conjunta inicial, vamos à análise esporte por esporte. Assim como fiz com as previsões, hoje começo com os esportes coletivos. Na coluna de amanhã, uma análise completa dos esportes individuais. Lembrando que, sobre alguns deles, já resenhei sobre na coluna da semana passada, dia 6/8, sobre a primeira semana olímpica.
Basquete: errei a previsão do feminino por notícias supervenientes. Achava que a seleção feminina chegaria às quartas com a Iziane. Após o corte me ficou claro que uma derrota para o Canadá era iminente e cairíamos na 1ª fase. Dito e feito. Muita coisa tem que mudar na seleção.
Já a masculina, apesar da derrota nas quartas para a Argentina, mostrou um basquete bonito. É difícil ficar 16 anos fora dos jogos e já voltar medalhando, como bem disse o técnico da seleção. A seleção masculina está de parabéns e o caminho é manter Magnano para 2016. A melhor notícia é que não teremos que lutar por uma vaga difícil nas Américas, que já está garantida por sermos o país-sede.
Futebol: dizer o que aqui? Mais uma vez os milionários não trouxeram esse ouro. Sempre digo que enquanto as estrelinhas do futebol não trouxerem o ouro, aqueles boleiros que só se lembram de Jogos Olímpicos de 4 em 4 anos não tem a menor moral de reclamar de qualquer outro atleta olímpico que não recebe nem apoio, nem a claque dos futebolistas.
Sobre a seleção masculina, encerro aqui. Eu tinha avisado que o ouro eles não traziam e já aviso que também não será em 2016 com o batalhão de jornalistas que os acompanharão até nas idas ao toalete.
Sobre a seleção feminina, me parece que faltou técnico. Vi 11 boas jogadoras sem qualquer organização tática em campo que perderam para o ótimo time japonês. Este time nipônico só não ganhou o ouro porque pela terceira vez consecutiva em Jogos Olímpicos a arbitragem decidiu na mão grande a favor das americanas.
Handball: que grata surpresa. Inicialmente eu tinha creditado o 5° lugar no mundial feminino ao fator “casa, já que o mundial foi em São Paulo, e disse que seríamos eliminados na primeira fase.
Mais um caso de aposta que me arrependi após sair o sorteio. As duas babas do torneio, Angola e Grã-Bretanha, caíram no grupo do Brasil e garantiram nossa vaga nas quartas de finais.
Porém, ao invés de classificar em 4°, a seleção deu um show na 1ª fase e se classificou em 1°. Comecei a acreditar fortemente que a medalha que eu previ em Pequim e não veio, viria.
Mas eis que na hora chave os nervos falaram mais alto de novo. Após estar ganhando de 6 gols de diferença nas quartas, a seleção não teve a calma necessária para achar o espaço no forte sistema defensivo norueguês e tomou a virada – consequentemente, a eliminação.
A favor das meninas, diga-se que esse time da Noruega entregou feio o jogo contra a Espanha, só para nos enfrentar e depois ganhar a medalha de ouro. Se a Noruega ganha, o que seria o normal, elas enfrentariam as russas e, como o jogo não se encaixa direito, corriam fortes riscos. Enquanto nós enfrentaríamos a mais fraca das quadrifinalistas, a Espanha.
Quanto aos homens, que não vieram, ficou um gosto amargo. A Argentina, que nos ganhou a vaga no Pan-Americano, fez um papelão e perdeu até para a Tunísia. Só ganhou do time da casa, que foi montado no tapa, e mesmo assim foi uma vitória sofrida. Com certeza faríamos mais no lugar deles.
O treinador espanhol Jordi Rivera foi recontratado para comandar a equipe masculina e espero bastante desse time para 2016.
Vôlei: aqui no feminino ocorreu comigo o que ocorreu no handball, só que invertido.
Inicialmente, com as péssimas atuações iniciais das meninas, achei que iria errar feio minha previsão da conquista do bi-campeonato olímpico. Até porque eu a fiz contando com a ida para Londres da levantadora Fabíola e um crescimento dela lá. No final, por motivos inexplicáveis, Fabíola sequer foi convocada para o elenco em detrimento da limitadíssima Fernandinha, que, tão inexplicavelmente quanto, foi alçada a titular do time.
O resultado é que vimos um time perdido que na última rodada da 1ª fase precisou da ajuda de outros resultados para poder se classificar para a quartas-de-final.
Eis que a esquecida Dani Lins, convocada como levantadora reserva, desabrocha, resolve jogar em Londres muito mais do que nunca jogou na carreira (já a acompanho há pelo menos 8 anos). Com isso o time desperta depois de uma vitória dramática sobre a Rússia e termina fazendo o “Milagre da Earls Court” (local dos jogos) na final contra o favoritíssimo time americano, do qual havia tomado um baile de 11/25 no 1°set.
Já o masculino, após uma preparação bastante conturbada, que vinha rolando aos trancos e barrancos desde o fim do mundial de 2010, chegou voando em Londres. Jogou em seus jogos o que não jogava desde aquele mundial e varreu os adversários.
Até que, após estar ganhando por 2 x 0 na final e na frente do 3° set, o time da Rússia mudou sua estratégia totalmente e deu um nó no time brasileiro. A partir daí voltamos a ver os bate-bocas e a falta total de entendimento dessa seleção que tínhamos visto nos últimos 18 meses e que, de repente, tinha sumido nos Jogos Olímpicos.
Resultado uma virada espetacular da Rússia e talvez a derrota mais humilhante da era Bernardinho na seleção masculina, por causa da forma como ocorreu.
[N.do.E.: é chato perder o ouro, mas da maneira como ocorreu acho que foi uma boa lição para o técnico Bernardinho. Acho que ele falha ao convocar não os melhores mas sim aqueles pertencentes à patota dele – isso ficou claro nesta competição.]
De qualquer forma, apesar dos excelentes resultados, está claramente demonstrado um desgaste na relação técnico/jogadores tanto com o grande Zé Roberto Guimarães com as mulheres, quanto com o tão bom Bernardinho com os homens.
É necessário que a CBV pare e reflita muito como começará a se planejar para o próximo ciclo olímpico, porque a continuidade me parece ser bastante temerária.
Quem me acompanha pelo twitter sabe que não estou falando de momento e defendi – junto com o Editor Chefe – essa posição até nos momentos de vitória fácil do time masculino em Londres. Para provar, leiam minha coluna de 13/6.
Fica a minha opinião de que o Luizomar de Moura, atual campeão brasileiro, está merecendo há tempos uma chance para dirigir a equipe feminina e o Zé Roberto Guimarães poderia ser aproveitado na equipe masculina. Bernardinho é carta fora do baralho para voltar à equipe feminina, senão dará curto-circuito, boicote e outros acontecimentos nada legais.
[N.do.E.: pelo que leio na imprensa Bernardinho está fazendo lobby para Fernanda Venturini assumir a seleção feminina. Não acredito que a CBV cometa esta insanidade, mas, se fizer, relembremos aquele ditado: ‘Capitão, vai dar merda’.]
Porém, o presidente da CBV já deu a entender em entrevistas que só haverá mudanças se alguém quiser sair, o que parece ser exatamente o caso de Bernardo. Fica aqui a torcida.
Vôlei de Praia: aqui foi o grande palco das zebras no geral. Todos os prognósticos de qualquer um, entendido ou não, invariavelmente deram errado. No fim ficamos com um saldo um tanto amargo: uma prata de Emanuel/Alison e um bronze de Juliana/Larissa. Já imaginava que Maria Eliza/Talita não medalhariam, mas esperava medalha de Ricardo/Pedro Cunha, que perderam nas quartas para a dupla alemã medalha de ouro.
De qualquer forma fica aqui o clamor para se repensem nossas duplas. Não Juliana/Larissa, que estão bem e agüentam mais um ciclo olímpico. Mas Ricardo e Emanuel devem se encaminhar para a aposentadoria e precisamos de duas duplas novas no masculino e um parceiro habilidoso para com Alison ser nossa dupla n°1. E nem tocarei no entrevero da segunda dupla feminina, que simplesmente não a temos atualmente.
Obviamente errei todos os meus palpites aqui, não passei perto em nenhum. Mas ninguém passou, a não ser o tri-campeonato da dupla Walsh/May no feminino. Alias, as duas viraram lendas do esporte com esse título.
No cômputo total dos dois vôleis, saíram as 4 medalhas esperadas, mas a qualidade, apesar de ótima, 1O 2P e 1B, ficou um pouco aquém do esperado, que era 2O 1P e 1B.

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