Quando eu era adolescente e no início da minha fase adulta eu era metido a poeta prolífico – não as experimentações que, vez em quando, publico neste espaço.
Mais ou menos em 1994/95 eu datilografei em uma máquina de escrever (sim, amigos, eu cheguei a usar uma destas) alguns poemas e os encadernei, tendo duas ou três cópias. Achei que os havia perdido nas andanças da vida.
Pois no início deste ano uma (nos dias de hoje) grande amiga avisou-me que tinha uma das cópias do caderno, que eu havia dado a ela. Aos poucos ela vem me enviando as páginas escaneadas, resgatando uma parte do meu passado.
Digo sem medo de errar aos leitores: os poemas são muito, mas muito ruins. 90% deles não tem a menor condição de serem publicados aqui sem extensas modificações, menos por refletirem imagens e pensamentos do passado e mais pela sua ruindade estilística mesmo. Também não acho legal alterá-los pois aí perderiam sua essência.
Parêntese: longe de me comparar a grande escritores, mas agora entendo porque em certas ocasiões renomados autores deixam ordens expressas de não se publicar suas produções da juventude. Fecha o parêntese.
Feita a introdução, neste feriado de Tiradentes publico um destes poemas, mais pela idéia em si e menos pelo estilo. Se o leitor não reparar nas rimas paupérrimas e se concentrar no enredo da história pode se divertir um pouquinho – e refletir que a História Oficial, muitas vezes, não reflete de forma totalmente exata o que realmente se passou.
Publico o texto exatamente como escrito originalmente, à exceção de um verbo trocado – e ele traduz um reacionarismo que decididamente é uma boa medida da minha evolução política de lá para cá, nestes quase vinte anos que se passaram. Pela referência ao “made in Brazil” em um dos versos calculo que ele tenha sido escrito entre 1991 e 1992, mas é puro chute – decididamente não me lembro.
Recriação Subversiva de um Fato da Nossa História
Em 21 de Abril de 1789
– nem antes nem depois –
nossa cidade acordou alvoroçada
pois seria nesta data destroçada
a ilusão de um grupo de arruaceiros
que não passavam de uns trapaceiros
brincando de Revolução.
Ao enganar toda uma população
são precursosres dessa nossa situação.
Que já conheciam de antemão.
A praça estava cheia
não havia lugar sequer para uma sereia.
Ao chegar à forca,
aos nossos amigos de cabeça oca
foi oferecida uma oportunidade
de realização do último desejo, possibilidade

do último gôzo terrestre.
Esperava-se algo bem campestre,
mas um tal de Tiradentes,
líder dos inconfidentes, decretou, afinal:
– Será nosso derradeiro cervejal.

Acontecida a farra,
nossos “heróis” livram-se da amarra
para subir ao umbral da morte
– que sorte!
Só que nossos amigos viam
duas cordas, portanto tinham
dificuldade de encaixar
a verdadeira (e única) corda no pescoço, lugar
correto, instrumento
da realização de um geral sentimento.

Mas o pior estava por acontecer.
Ao se cumprir a ordem dada, todos puderam ver
um fato deveras engraçado:
as cordas haviam arrebentado.
Um oficial diz, do alto de seu corpanzil:
– Só podia dar nisso. Eram “made in Brazil”.
Como o código da época dizia
de maneira tal que causava azia,
que em caso de falha na execução
o arruaceiro ganhava sua libertação,
cada um deles se tornou um bamba.
E tudo acabou em samba.