Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar traz um resumo do carnaval que passou, além de protestar contra o dono do blog (risos). Mas ele é parceiro.

Aproveito para informar aos leitores que, ao que parece, esta palhaçada que foi o Acesso A não vai ficar impune: a Lesga deixou de ser reconhecida pela Riotur (na prática, foi extinta) e no momento em que edito estas linhas (noite de sexta feira) existe chance até de o resultado, que não foi homologado pela Riotur, ser anulado. Aguardemos.

Feita a introdução, vamos à coluna.

E Chegaram as Cinzas

Todo carnaval tem seu fim, como já diria àqueles barbudinhos que tocam rock e esse chegou ao fim também. No meio das cinzas foliãs achei por bem fazer uma coluna com meu pensamento sobre esse carnaval que passou.

Por falar nisso acredito que vocês já saibam, mas durante minhas colunas o dono do blog coloca “NEs” que seriam “notas do editor” – coisa comum em colunas. Nunca é demais lembrar que essas notas nem sempre condizem com meu pensamento e provavelmente essa coluna terá muitas pois postarei coisas que ele não concorda, mas deixo o alerta para que o leitor não se confunda achando que há contradições. Para isso deixo uma dica: o normal sou eu e o insano é ele. [N.do.E.: obviamente que esta teria nota: todo insano se acha normal…]

Ele modificou também o samba da Grande Rio que eu citei na coluna anterior: o que coloquei se chama “No Mundo da Lua”. Quem quiser saber mais sobre ele tem a letra no site Galeria do Samba: só procurar em escolas de samba e Grande Rio, o samba é lindo, mais que o samba escolhido por ele.

Podem chamar tudo o que postei acima de “NA – a nota do autor”. As vezes é necessário, ainda mais com um editor que gosta tanto de se meter… ê mala… (risos)

Voltando ao tema da coluna. Deixei minhas expectativas quanto ao carnaval na coluna anterior e algumas bateram. Não vi o grupo especial desse ano, mas pelo que me informei e do que vi depois o resultado me pareceu em maior parte justo. Beija-Flor e Grande Rio poderiam ficar mais abaixo e a São Clemente mais acima, mas tudo foi dentro de um contexto. Tijuca, Salgueiro e Vila Isabel mereceram as três primeiras colocações a meu ver. A Portela mereceu o sexto, poderia até ser quinto ou quarto com mais boa vontade e as rebaixadas foram escolas já esperadas.

A Mangueira criou polêmica com a tal “paradona” e o carro de som com cantores de pagode. Teve gente que amou e odiou. Eu sinceramente não curti e acho que a escola poderia vir mais abaixo na classificação. Evidente que inovações são bem vindas, mas nem toda inovação é bem sucedida, se fosse assim a Grande Rio traria aquele astronauta todos os anos.

Inovação bem sucedida no século se chama Paulo Barros. Os puristas torcem o nariz como torciam para Joãosinho Trinta, mas o povão adora e eu também. Como já disse em colunas anteriores minha avó pedia para eu acordá-la quando a Beija-Flor desfilava por causa do carnavalesco e hoje provavelmente nas casas das pessoas que não são tão envolvidas com carnaval o despertador é colocado na hora da Tijuca. Podem falar bem, mal, mas ele é o nome do século no carnaval carioca e eu particularmente sou um grande fã – e o espero como todo o povo.

Assim como gostei da vitória do samba-enredo nesse ano. A Vila com seu grande samba chegou a sonhar com o campeonato e mostrou a quem duvidava de seus versos chamados de contracanto que é sim possível inovar no samba e a Portela conseguiu sua vaga nas campeãs graças a seu “Barcelona”.

Mas ficou provado também que só samba não basta. O problema da Portela é bem maior, é administrativo e ela pode se complicar se em vez de um ‘Barcelona’ tiver um ‘Getafe’. Mas vamos ser otimistas, parece que novos e bons ventos sopram por lá, que ela não precise mais de um samba espetacular para conduzi-la e ele no futuro seja apenas mais um ponto positivo da agremiação.

Sambas ruins foram julgados com o rigor que mereciam, escolhas de samba bizarras receberam seus castigos dos jurados. Quem sabe assim escolas que foram “canetadas” decidem escolher o que tem de melhor e não atender interesses.

Enfim, com o resultado da LIESA fiquei satisfeito.

Da LIESA, porque da LESGA…

… Aconteceu o que todo mundo falava desde o tempo das cavernas. Arqueólogos acharam escrituras no interior da China semana passada dizendo quem seria campeã do carnaval do acesso. Nostradamus também falava desse título em suas Centúrias e os Maias previam que no ano do fim do mundo uma nova escola chegaria ao Grupo Especial. Apenas uns Imperianos e Viradourenses acharam que poderiam ser campeões. A Serrinha achou que se fizesse seu maior desfile dos últimos anos voltaria ao Especial e se homenageasse uma das maiores sambistas da história seria merecidamente coroada como campeã. Já a Viradouro acreditou que colocar Juliana Paes à frente da escola hipnotizaria os jurados e eles a devolveriam ao Especial.

Como são inocentes (com trocadilho)…

Terça o carnaval de São Paulo roubou a cena e o mapa de apuração. Pensaram em levar a escolha da campeã do carnaval aos pênaltis, mas como o Itaquerão ainda não está pronto homologaram o título da Mocidade Alegre.

E a mesma terça me deu um dos grandes momentos do carnaval. O lindo desfile da Caprichosos de Pilares que mostrou que queria acordar e voltar a ser a grande escola de sempre. Botou o chicote debaixo do braço e venceu com facilidade o grupo B.

Bem, falei acima de grandes momentos do meu carnaval então agora falarei dele.

Domingo desfilei no Boi da Ilha. A escola fez um bom desfile, mas foi muito confusa em seu ‘antes e depois’. Essa confusão foi refletida na apuração de quinta-feira quando a escola entrou na disputa com menos três pontos e meio por falta de baianas e problema na dispersão. O Boi da Ilha que na pista ficou em terceiro acabou em décimo na apuração e por apenas uma posição não caiu ao grupo D.

O Boi passa por um momento complicado. Sem dinheiro, sem quadra – mas existe luz no fim de túnel. Escolas de samba e pessoas querendo ajudar e juntando com o bom resultado conseguido na pista fazem a escola sonhar com dias melhores.

Segunda depois da União da Ilha desfilei no Acadêmicos do Dendê. Mesmo sendo a última escola fez um desfile maravilhoso, a altura da sua homenageada União da Ilha do Governador e me deixou com muitas esperanças de título. E o título até veio, aliás, viria. Viria se a escola não tivesse perdido um ponto porque veio com instrumentos na bateria com logomarca de outras escolas e isso é proibido no regulamento. Poderiam ter coberto como outras escolas fazem, não fizeram e assim o título tão sonhado foi embora. Na pista o Dendê foi campeão, com os descontos ficou em quarto lugar e mais um ano no grupo D.

Fica o orgulho do samba quarenta pontos. Meu samba com o Pedro Migão tirou as quatro notas dez. Pela primeira vez ganho quatro dez em uma apuração. Consegui notas máximas com o Boi da Ilha em 2001 e 2002, mas eram apenas dois julgadores e em 2009 a pontuação máxima também com o Boi, mas tivemos um 9,9 descartado.

Boi da Ilha e Dendê penalizadas por situações fora do desfile e não é a primeira vez. As duas agremiações têm que tomar uma atitude mais profissional. Elas me maltratam, mas meu amor pelas duas é imenso.

E teve a União da Ilha.

O momento que eu sempre sonhei foi emocionante como eu imaginava. Algumas lágrimas rolaram quando o samba começou e por ver que a escola estava linda. Alegorias maravilhosas e fantasias idem. Aconteceram alguns problemas em seu desfile que acabaram legitimando o oitavo lugar. Mas o refrão “vou botar molho inglês na feijoada/misturar chá com cachaça” entrou para a história da União da Ilha sendo citado na revista Veja, G1, jornal A tarde, Correio de Vitória, Correio de Tocantins, Estadão, BBC Brasil, transmissão da Rede Globo, ministro de relações exteriores do Reino Unido… dois versos que marcam pra sempre minha vida.

Sinto que foi um grande ano meu como compositor de samba-enredo. Pelo sucesso do refrão na União da Ilha e os quarenta pontos no Dendê no ano que me tornei o compositor mais vitorioso da escola. Acho que esse ano é um divisor de águas para mim, para outras conquistas.    

O carnaval teve fim, mas a vida não, ela continua e temos muito a conquistar. As notas dez de nosso dia a dia até que o próximo carnaval chegue e com ele nossos sonhos.

Até breve Momo. Orun Ayé!