Nesta segunda feira, temos mais uma edição da coluna “Bissexta”, assinada pelo advogado Walter Monteiro. No texto de hoje o colunista faz uma primeira análise dos crimes descritos no livro “A Privataria Tucana”.
A conclusão não é das melhores: a maioria dos crimes está prescrita, ou perto disso – apesar dos óbvios prejuízos políticos a Serra que, ao que me parece, está com a carreira encerrada.
Vamos à coluna.
Descongelando a Pizza, depois do livro do Amaury
Much ado about nothing. 
O Editor queria que eu desse a minha opinião, digamos, profissional, sobre os fatos descritos no “Privataria Tucana”, o fenômeno das redes sociais, de vendas e de silêncio na grande mídia. 
Eu li o livro.
Tenho uma opinião um pouco diferente da maioria. Achei os relatos do livro de simples compreensão, ao contrário do que andaram dizendo. Ok, talvez sejam simples para mim, não para quem é leigo, mas o livro é bastante descritivo.
Eu simplesmente não consigo compreender porque a imprensa passou recibo de seu Serrismo nessa questão. Boa parte do que está no livro é fruto de citações de denúncias publicadas pela imprensa na época. Inclusive Veja e Folha de SP. Com um pouco mais de malícia, os veículos poderiam dar pouco destaque ao livro, capitalizando para si a maioria das denúncias feitas pelo Amaury.
Bom, o livro, como todo mundo já sabe, é uma impressionante compilação de documentos detalhando evasão de divisas e tenebrosas transações, realizadas quando a nossa pátria mãe tão distraída, dormia enquanto era subtraída. Naturalmente, ver tanta patifaria estampada em documentos atiça a curiosidade alheia em saber se essa gente vai presa.
Lamento decepcionar a todos, mas a chance de colocar alguém na cadeia a partir das denúncias do livro é mais ou menos parecida com a chance do Madureira, que está na Série C, um dia ganhar a Série A e na sequência ser campeão do mundo.
Todos devem ter visto o chororô coletivo quando o Ministro Lewandowski, do STF, alertou que os crimes do Mensalão estão prestes a prescrever (fica a ressalva que os petistas gostam de se referir ao mesmo como o “chamado Mensalão”). Ora, se os crimes dos petistas, cometidos depois de 2003, já estão com a punibilidade indo para o espaço, o que dizer dos crimes tucanos, cometidos bem antes?
Quem leu o livro sabe: a maioria, ou, melhor ainda, quase tudo do que está no livro é fruto de documentos coletados na CPI do Banestado ou em processo movido contra o autor. Portanto, tudo já esteve em análise no Congresso ou no Judiciário. 
Como crer que algo ainda sairá dali?
Isso não quer dizer que o livro é inútil. Claro que não. 
Do ponto de vista político, ele é utilíssimo. Recoloca as coisas em seus devidos lugares, mostra que ninguém tem o monopólio da ética, relembra os malfeitos sem precedentes praticados à luz do dia pela tucanalha sem dó nem piedade, sob os beneplácitos de seus acólitos na grande imprensa.
Não estou bem certo de que será instalada uma CPI a partir das denúncias do livro. Além de ser uma trocação de chumbo que não vai dar em nada – e portanto não interessa a ninguém – realmente parece faltar o requisito básico de sua instalação, que é o fato determinado. Porque o livro, a despeito de seu título, não é sobre a privatização em si. É basicamente sobre as maldades do clã Serra.
Mas mesmo que venha a CPI, ela não deverá ser diferente da CPI que é a gênese dos documentos do livro, a falecida CPI do Banestado, que acabou em uma generosa pizza, compartilhada por todos os partidos. 
Reviver aquela CPI sob outro nome é apenas descongelar os restos daquela pizza, nada além disso.