Neste sábado, mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada pela Anna Barros. O tema de hoje é a cada vez maior invasão de privacidade trazida pelo mundo tecnológico e a necessidade de se impor limites.

O que é privacidade para você?
Por mais que gostemos de mídias sociais como Twitter e Facebook, às vezes necessitamos de um pouco de privacidade.

Num mundo globalizado em que tudo que fazemos é filmado, fotografado, ou está na internet ou é compartilhado, há momentos que desejamos um pouco de privacidade. O Facebook fez ajustes que até um simples curtir no feed de notícias de algum amigo é visto por todos da sua lista. Parece algo banal, mas não é.

Essa questão leva a vários questionamentos em um mundo onde todos querem ser o centro das atenções. Todos ficam voltados ‘para o seu umbigo’. Enquanto o Orkut valorizava a entrada em comunidades com interesses comuns a fim de promover o debate entre as pessoas, o facebook parece mais uma ode ao eu, ao egocentrismo total, porque ali é o indivíduo que é mais valorizado e não o coletivo. Isso pode ser notado pelo fato dos grupos não fazerem tanto sucesso como as comunidades do Orkut um dia fizeram.

Há câmeras por todos os lugares: nas ruas, no elevador, nos estacionamentos e para monitorar nossos passos. Nunca George Orwell em seu livro 1984 em que definia o papel de Big Brother que naquele caso era o Estado centralizador e comunista foi tão atual. Não é a toa que os realities fazem sucesso ainda hoje em dia e o próprio Big Brother global já vai para a sua 12[ edição. O formato parece ultrapassado, mas sempre se inventa. As pessoas ficam numa espécie de zoológico humano em que todos os seus passos são monitorados.

Hoje em dia basta um smartphone com câmera potente em que tudo é fotografado: a celebridade, o jogador de futebol, o vizinho em situação comprometedora e indiscreta, qualquer pessoa e qualquer situação. Inclusive, os veículos de comunicação incentivam em seus sites o chamado ‘eu-repórter’, que além de estimular a interatividade atiça a verve curiosa das pessoas: um fato, uma ocorrência – e a possibilidade de ter seu nome divulgado e focalizado.

É muito complicado lidar com a privacidade, mas ela é necessária em vários momentos de nossas vidas. E a solidão é algo extremamente imprescindível ao nosso amadurecimento e desenvolvimento como ser humano. Não dá para ficar ‘full time’ rodeado de pessoas, de um milhão de amigos no Facebook, de outros tantos no Google Talk. Há momentos em que o recolhimento não faz mal algum, ele é até benéfico, necessário, primordial. Esse recolhimento nos leva à reflexão.

Penso, logo existo e não tuito, logo existo. Há momentos de parada total em que ficar offline é uma das melhores coisas da vida porque faz você aproveitar mais as pessoas, conversar, telefonar, ter um contato real e abandonar aquele contato meramente virtual.

O objetivo da coluna dessa semana é provocar, produzir realmente uma reflexão: o que é a privacidade para você?

E até que ponto você a está cultivando ou a está limitando de sua vida cotidiana. Mistério, desde que o mundo é mundo, nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário, sempre só fez bem porque obriga o outro a te descobrir, a te ouvir, a querer verdadeiramente te conhecer e a não tornar o contato simplesmente efêmero como quase tudo que a internet abriga: o imediatismo recorrente.

Tente ficar offline só este fim de semana, se não conseguir, por 24 horas. Sua vida social e sua saúde agradecem.

Até a próxima!

Anna Barros