Excepcionalmente nesta quinta feira, temos mais uma versão da coluna “História & Outros Assuntos”, assinada pelo Mestre em História Fabrício Gomes.
O tema de hoje é um guia da Bienal do Livro, que ocorre aqui no Rio de Janeiro entre hoje e o dia 11 de setembro. Pretendo ir à feira no próximo sábado e, semana que vem, colocarei aqui minhas impressões, assim como fiz em 2009.
Vamos ao texto:
Guia da XV Bienal Internacional do Livro
Entre os dias 01 e 11 de setembro terá início mais uma Bienal Internacional do Livro, aqui no Rio de Janeiro. Será a XV Bienal.
O evento começou pequeno em 1983, num dos salões do Copacabana Palace, numa área de mil metros quadrados, e que dois anos depois foi realizado no shopping São Conrado Fashion Mall. 
No Riocentro, o evento acontece desde 1987, quando ocupou 15 mil metros quadrados nos pavilhões daquele centro de convenções. De lá para cá o evento não pára de crescer, ganhando proporções gigantescas, com estandes bem acabados e criativos, sem falar em termos operacionais, com a capacidade de gerar mão-de-obra direta e indireta e envolver negócios editoriais milionários – apesar do Brasil ainda ser avesso à leitura.
Minha primeira Bienal aconteceu em 1989. Na verdade era para ter acontecido dois anos antes, quando eu iria num passeio escolar. Quis o destino que justamente naquele dia da visita eu ficasse doente e perdesse a Bienal. A decepção foi grande, mas em 1989 fiz minha estréia e não parei mais. 
Completarei esse ano (2011) minha décima segunda Bienal e confesso que a intensidade de interesse por esse evento só tende a crescer. De início, ia com a família, mas depois com o decorrer dos anos passei a ir sozinho – simplesmente porque não passava menos de cinco a seis horas andando pelos pavilhões do Riocentro, vasculhando desde os badalados estandes até os mais reclusos, inóspitos e pitorescos estandes, de editoras desconhecidas. Em muitos anos fui mais de uma vez. 
O grande barato é que mesmo com a facilidade de se comprar livros nas livrarias virtuais e sites de comércio eletrônico o interesse pela Bienal aumenta. Afinal, para quê se deslocar até o Riocentro (e se o “RioCENTRO” é longe, imaginem se o lugar fosse chamado de “RioPeriferia”? Sim, eu sei, a piada é fraca) com o objetivo de comprar livros se podemos comprar pela internet e recebê-los em casa, com conforto e praticidade? 
A explicação é que a Bienal é EVENTO. O importante é estar lá, mergulhar na feira literária, ver autores, leitores manuseando livros, sentir o cheiro dos livros, barganhar, negociar descontos, sentir o pé doer de tanto andar, de ir e voltar, reservar o livro e já cansado e com fome, comer alguma coisa na praça de alimentação, apoiando a sacola de livros no chão. 
No fim das contas, ir embora já noite densa, segurando pilhas de livros sem se preocupar a hora que vai chegar em casa, já no carro (ou no ônibus) folheando as recentes aquisições. E dizer: “daqui a dois anos, eu volto!”.
Pensando nisso, aqui vai uma pequena contribuição, um guia para quem vai pela primeira vez (ou quem já foi outras vezes mas acabou entrando em furadas do evento). Afinal, Bienal não deve ser programa de índio – e nada contra os índios que adoram ler:
1) FUJA, CORRA, EVITE A TODO CUSTO – Ir durante a semana, durante o horário escolar. Se por acaso estacionar seu carro e perceber algum ônibus com crianças fazendo algazarra, pense que está na Líbia e os simpatizantes de Kaddafi estão atrás de você! 
É furadíssima ir na Bienal junto de caravanas de estudantes. Nada contra os colegiais, mas o propósito da visita deles é certamente diferente do seu, que vai ao Riocentro para ver livros, pesquisar preços e curtir o evento. Mesmo com as escolas direcionando as visitas para estandes que realmente interessam ao público infantil, os corredores ficam cheios, os banheiros lotados e quando você quiser ir tomar uma água ou refrigerante na praça de alimentação encontrará as mesas abarrotadas de crianças jogando Coca-Cola umas nas outras;
2) FUJA TAMBÉM – Dos estandes badalados, das livrarias megastores ou de comércio eletrônico, tipo Saraiva, Siciliano, Submarino. Ficam lotadas de gente, o atendimento é péssimo (geralmente a proporção é de um vendedor para cada vinte pessoas – estou falando sério). 
O estande da Livraria da Travessa até a Bienal passada (2009) era razoavelmente civilizado e bem atendido, mas como a rede de livrarias da Travessa cresceu bastante e eles recentemente inauguraram um sistema de comprar/bônus por fidelidade, suspeito que esse ano o estande estará bem cheio;
3) VÁ ALIMENTADO – Bienal não é lugar para almoçar ou jantar. É lugar pra lanchar, quando você estiver cansado e quiser fazer um pit-stop. Um pedaço de pizza, um refrigerante ou uma latinha de cerveja (se você não estiver dirigindo!) são bem-vindos. 
Geralmente setembro ainda não é um mês quente, mas ao menor sinal de calor procure se hidratar com água de côco (há sempre um carrinho vendendo água de côco na garrafa). Mas não leve alimentos/bebidas para dentro dos estandes. Além de muitos vendedores/seguranças olharem você com cara feia, os livros não querem se alimentar;
4) OS MENOS BADALADOS SÃO OS MELHORES – Se o grande público lota os estandes mais conhecidos (mencionados no item 2 deste guia), existem estandes desconhecidos que ficam vazios e que oferecem excelentes livros – em muitos casos, a preços bem em conta. 
Um exemplo é o estande da Gráfica do Senado Federal. Lá o leitor poderá encontrar títulos sobre diplomacia, relações exteriores, geopolítica, documentos raros e importantes (guerras, Acre, Amazônia). 
Títulos como “Recordações da Campanha do Paraguai” (José Luís Rodrigues da Silva), “O Abolicionismo” (Joaquim Nabuco), “A Abolição do Comércio Brasileiro de Escravos” (Leslie Bethell ), “O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis” (Luis Edmundo), “Porque construí Brasília” (Juscelino Kubitschek) e “Efemérides Brasileiras” (Barão do Rio Branco), entre outros. 
Os preços variam entre 15 a 30 reais. 
Outro estande pouco conhecido, mas inversamente proporcional em importância e bons títulos é o da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU), que engloba a UFMG, a UFRJ, a UFF, a UERJ, a PUC-Rio, UNESP, entre outras. Geralmente são livros voltados para as áreas de Ciências Humanas e Sociais e Psicologia/Psicanálise. Geralmente é um estande que fica logo na entrada, espaçoso e vazio. Corra para lá e veja os excelentes livros que ele dispõe. 
Editora Paz e Terra, Civilização Brasileira e EDUSP são muito bons também. Um estande pouco badalado é o da Imprensa Oficial, que também oferece boas opções de títulos;
[N.do.E.: também indico o stand da Fundação Getúlio Vargas, com bons livros a preços razoáveis]
5) OS TRADICIONAIS – Estandes da Nova Fronteira, Companhia das Letras, Objetiva e Rocco geralmente inovam a cada ano e apresentam soluções criativas. E oferecem descontos atraentes nos últimos dias. Em 2007, no último dia de evento (um domingo), comprei a biografia de Juscelino Kubitschek com 60% de desconto no estande da Objetiva;
[N.do.E.: na última edição o estande da Record estava com descontos cumulativos que chegavam a 40%]
6) ESTACIONAMENTO – É realmente caro: 15 reais por carro! Mas fique atento: apresentando a nota do estacionamento pode-se obter desconto na hora de comprar um livro;
7) CRIANÇAS – Além dos muitos estandes direcionados ao público infantil, o Café Literário irá oferecer, no dia 03/09, o debate “Literatura infantil ontem e hoje: o caso Monteiro Lobato”, com a participação de Marisa Lajolo, Flávia Lins e Silva, Joel Rufino dos Santos e mediação de Clarisse Fukelman. 
Haverá também a Biblioteca Mirim, um espaço lúdico que tem o objetivo de despertar a curiosidade e o gosto pela leitura por meio de duas atividades simultâneas: contadores de histórias e biblioteca. Thalita Rebouças e Tânia Zagury estarão, com mediação de Isabella Saes, na mesa ” As leitoras adolescentes”, no dia 05, às 19h;
8) MELHOR DIA PARA VISITAÇÃO – Fins de semana, logo que a Bienal abre, às 10h. Aos sábados, a partir das 15h, começa a ficar bem cheio. Mas tudo vai depender também do tempo: se fizer sol, lota mais tarde. Se chover, desde cedo fica cheio. 
Esse ano, o Brasil é o país homenageado, então é uma atração à parte para quem visitar a feira de livros. É uma boa pedida para as horas em que os corredores lotam: visite o estande do Brasil, aprecie o material e saiba mais sobre nossa cultura;
9) NÃO COMPRE LOGO DE CARA – Leve um bloco de folhas para anotar os preços. Embora o mercado editorial geralmente tabele os preços, a Bienal é o epicentro da negociação. 
E acredite: os preços variam muito. Não caia no erro de comprar livros no primeiro estande. Vá anotando e quando acabar de visitar todos os estandes, vá direto ao ponto: o estande que tem livros mais baratos. 
Professores têm desconto em muitos estandes, mediante apresentação de comprovação de exercício da profissão. Se for estudante, leve carteirinha da escola ou faculdade. Sempre há descontos e é preciso ficar atento. Se puder, visite a Bienal em dois dias: no primeiro, apenas observe preços, curta o evento. E no segundo, realmente compre;
10) CATÁLOGOS – Sempre que visitar um estande, se ficar interessado nos títulos que determinada editora oferece solicite ao vendedor um catálogo. Nele, não constam apenas os preços, mas também contatos futuros com aquela editora, para recebimento de mala-direta e conteúdo específico. Certas editoras capricham nos catálogos.
Esse é mais ou menos um guia e espero ter ajudado. E não se esqueça de que em 2013 haverá outra Bienal. E depois mais outra, mais outra, mais outra… :o)