Na data de ontem estive, a convite, na redação do jornal Lance! no Rio de Janeiro.
Quem me segue no Twitter sabe as desventuras que venho vivendo com minha assinatura do jornal em questão. Problemas sérios de entrega, entrega irregular e ainda dificuldades com a transportadora e com os horários. Faço a ressalva de que moro em um lugar que é considerado “final de linha” para este tipo de entrega, de modo que outras publicações que assino também costumam demorar mais.
Entretanto, para o jornal a situação estava ficando absolutamente dramática. Haviam semanas em que somente recebia o jornal em três dias.
Tenho um amigo, o Fred Sabino, que é jornalista no referido veículo e que se dispôs a me ajudar. Após várias tratativas identificou-se o problema e, embora ainda não se tenha chegado a uma solução, estão se fazendo esforços para se chegar a um termo satisfatório para a questão.
Digo isso porque fui convidado pelo Fred – a quem desde já agradeço – para fazer uma visita à redação do jornal, a qual acabou se concretizando no início da tarde de ontem.
Jamais havia feito uma visita destas antes, e sempre tivera curiosidade de conhecer “por dentro” uma redação de jornal, ainda mais especializado em esportes. Não deixa de ser uma “fábrica de sonhos”, pois das páginas do jornal muitas vezes se elocubram aquela contratação especial ou aquele furo de reportagem.
Cheguei por volta de meio dia e quinze e fui recepcionado pelo amigo, que me mostrou toda a redação.

Os times são divididos em duplas nas bancadas. Um grupo cuida de Flamengo e Botafogo, outro de Fluminense e Vasco. Há divisões por clubes, por áreas de esportes – futebol, “poli”, automobilismo – e por áreas de negócios: televisão, jornal impresso, site, televisão e atividades correlatas.

Algo interessante são as limitações de espaço provocadas pelo jornal impresso. Cada matéria considerada “grande”, em média, tem cerca de 1,8 mil toques. Para o leitor ter uma idéia, os posts deste Ouro de Tolo tem uma média de 5 mil caracteres. No programa determinado cada editor tem a tarefa de adequar as matérias ao espaço determinado, que depois é diagramado pela área apropriada.

Um ponto interessante é que os horários do futebol muitas vezes atrapalham o fechamento do jornal. Em dias de jogos às 21:50 – como ontem – o jornal tem de ir para a gráfica a meia noite e vinte, o que muitas vezes prejudica as matérias destas partidas em horário mais tarde – e, por tabela, a distribuição.

Outro ponto que me chamou a atenção é que muitas das tarefas ainda são feitas no velho “papel e caneta”. Um bom exemplo é a “máscara” do jornal, que determina quais clubes irão sair em quais páginas. Ainda é feito em uma espécie de “caderno”, onde a lápis se colocam os temas que estarão na edição e as páginas correspondentes. Por exemplo, na edição de hoje a previsão era de que o jogo entre Flamengo e Atlético de Goiânia ocupasse as páginas de seis a nove.

Também se faz necessário respeitar a característica do jornal. São textos curtos, voltados a um público que muitas vezes tem pouco tempo para ler e precisa se informar sobre seu time do coração. Além disso, há uma limitação de páginas mensais determinada pela área financeira,que leva em conta a quantidade de papel necessária para impressão. Se em um dia a edição sai com mais páginas, em outro há a necessidade de se sair menor dado a colocação de um “teto” de páginas mensais. O papel utilizado é importado do Canadá e valorado em dólar, sendo um insumo importante na definição dos custos da empresa.

O jornal é impresso em um salão anexo (acima), que também está à disposição de outros clientes. Parte do jornal é feito pela redação em São Paulo, que envia o material dos clubes da terra da garoa e recebe o resumo dos times cariocas. Parte das notícias de outros esportes também é centralizada na redação paulista, mas normalmente o “fechamento” da edição é em um horário menos tardio que o do futebol. Em dias sem jogos, o fechamento é às 20:30 em Sampa e 22 horas aqui no Rio.

Outra questão interessante é a dos anúncios.

Há anunciantes que atrelam seus comerciais e determinados times ou matérias, como outros que podem estar ou não na edição do dia seguinte – depende da área comercial. Muitas vezes às cinco da tarde há alterações e isto influencia no jornal do dia seguinte, porque mexe na centimetragem cuidadosamente determinada à edição.

E esta precisa ser feita de forma a não perder o senso da matéria e, ao mesmo tempo, manter o sentido da informação. Faz-se necessário muita condensação e poder de síntese – este é o papel dos editores.

Outro ponto interessante é que há um monitoramento dos “furos” de reportagem dados pelo jornal comparados ao concorrentes equivalentes. Obviamente é difícil lutar com o virtual monopólio dos veículos ligados às Organizações Globo, mas é um controle de qualidade da publicação feito todos os dias.

Destarte, também é interessante ver que muitas vezes o material sobre uma determinada partida é preparado de forma antecipada, cabendo apenas fazer as alterações na “máscara” de acordo com o andamento do jogo. E gols no final dos jogos e ao término do prazo de fechamento são um fator complicador para os jornalistas esportivos.

Sem dúvida alguma, aprendi bastante sobre o processo jornalístico e o que se pode ou não fazer nesta seara, cada vez mais movida pelo imediatismo da clientela. Agradeço ao Fred Sabino – na foto comigo acima – que será um dos próximos entrevistados da coluna “Jogo Misto” pela oportunidade de aprendizado.

Vejo, também, que aos quase 37 anos descubro que poderia, perfeitamente, ser jornalista. Mas agora é tarde.