Os times são divididos em duplas nas bancadas. Um grupo cuida de Flamengo e Botafogo, outro de Fluminense e Vasco. Há divisões por clubes, por áreas de esportes – futebol, “poli”, automobilismo – e por áreas de negócios: televisão, jornal impresso, site, televisão e atividades correlatas.
Algo interessante são as limitações de espaço provocadas pelo jornal impresso. Cada matéria considerada “grande”, em média, tem cerca de 1,8 mil toques. Para o leitor ter uma idéia, os posts deste Ouro de Tolo tem uma média de 5 mil caracteres. No programa determinado cada editor tem a tarefa de adequar as matérias ao espaço determinado, que depois é diagramado pela área apropriada.
Um ponto interessante é que os horários do futebol muitas vezes atrapalham o fechamento do jornal. Em dias de jogos às 21:50 – como ontem – o jornal tem de ir para a gráfica a meia noite e vinte, o que muitas vezes prejudica as matérias destas partidas em horário mais tarde – e, por tabela, a distribuição.
Outro ponto que me chamou a atenção é que muitas das tarefas ainda são feitas no velho “papel e caneta”. Um bom exemplo é a “máscara” do jornal, que determina quais clubes irão sair em quais páginas. Ainda é feito em uma espécie de “caderno”, onde a lápis se colocam os temas que estarão na edição e as páginas correspondentes. Por exemplo, na edição de hoje a previsão era de que o jogo entre Flamengo e Atlético de Goiânia ocupasse as páginas de seis a nove.
Também se faz necessário respeitar a característica do jornal. São textos curtos, voltados a um público que muitas vezes tem pouco tempo para ler e precisa se informar sobre seu time do coração. Além disso, há uma limitação de páginas mensais determinada pela área financeira,que leva em conta a quantidade de papel necessária para impressão. Se em um dia a edição sai com mais páginas, em outro há a necessidade de se sair menor dado a colocação de um “teto” de páginas mensais. O papel utilizado é importado do Canadá e valorado em dólar, sendo um insumo importante na definição dos custos da empresa.
O jornal é impresso em um salão anexo (acima), que também está à disposição de outros clientes. Parte do jornal é feito pela redação em São Paulo, que envia o material dos clubes da terra da garoa e recebe o resumo dos times cariocas. Parte das notícias de outros esportes também é centralizada na redação paulista, mas normalmente o “fechamento” da edição é em um horário menos tardio que o do futebol. Em dias sem jogos, o fechamento é às 20:30 em Sampa e 22 horas aqui no Rio.
Outra questão interessante é a dos anúncios.
Há anunciantes que atrelam seus comerciais e determinados times ou matérias, como outros que podem estar ou não na edição do dia seguinte – depende da área comercial. Muitas vezes às cinco da tarde há alterações e isto influencia no jornal do dia seguinte, porque mexe na centimetragem cuidadosamente determinada à edição.
E esta precisa ser feita de forma a não perder o senso da matéria e, ao mesmo tempo, manter o sentido da informação. Faz-se necessário muita condensação e poder de síntese – este é o papel dos editores.
Outro ponto interessante é que há um monitoramento dos “furos” de reportagem dados pelo jornal comparados ao concorrentes equivalentes. Obviamente é difícil lutar com o virtual monopólio dos veículos ligados às Organizações Globo, mas é um controle de qualidade da publicação feito todos os dias.
Destarte, também é interessante ver que muitas vezes o material sobre uma determinada partida é preparado de forma antecipada, cabendo apenas fazer as alterações na “máscara” de acordo com o andamento do jogo. E gols no final dos jogos e ao término do prazo de fechamento são um fator complicador para os jornalistas esportivos.
Sem dúvida alguma, aprendi bastante sobre o processo jornalístico e o que se pode ou não fazer nesta seara, cada vez mais movida pelo imediatismo da clientela. Agradeço ao Fred Sabino – na foto comigo acima – que será um dos próximos entrevistados da coluna “Jogo Misto” pela oportunidade de aprendizado.
Vejo, também, que aos quase 37 anos descubro que poderia, perfeitamente, ser jornalista. Mas agora é tarde.