O leitor do Ouro de Tolo deve ter percebido que venho batendo nesta tecla há tempos. Infelizmente, tenho de voltar ao assunto hoje.
Na última quarta feira o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou mais uma elevação da taxa básica de juros, a Selic. Atendendo uma vez mais a pressões do mercado financeiro a taxa foi elevada em 0,25%, para 12,5% ao ano. Com isso, a taxa básica real de juros brasileira – descontada a inflação – passa a ser de aproximadamente 6,5% ao ano, a maior do mundo.
Tal medida foi tomada em vista de “supostas pressões inflacionárias”. Entretanto, como já escrevi aqui, tais pressões são inexistentes de forma local e os fatores internacionais tem se abrandado. Nem mesmo um propalado “superaquecimento” da economia pode ser elencado, pois os números recentes já demonstram um claro desaquecimento – o crescimento da economia brasileira em 2011 não deve exceder 4,5% do PIB.
Parece claro que apesar da resistência inicial o Presidente do Bacen Alexandre Tombini capitulou às pressões de agentes de “mercado”, secundados por setores da imprensa, para elevar a taxa e permitir uma vez mais aumento da remuneração a estes mesmos agentes. Como já escrevi antes, normalmente os Presidentes do Bacen encontram abrigo nestas instituições quando saem do cargo. Ou seja, não é de bom tom desagradar seus futuros patrões…
Vale lembrar, também, que existe uma espécie de “viés ideológico” nestes aumentos: juros são panacéia para qualquer problema da economia. Interesses pessoais – aumento de rentabilidade – travestidos de “viés ideológico”.
Como corolário a esta despropositada e inconveniente subida da taxa – de cerca de 1,75% a.a em 2011 – temos uma vez mais nova apreciação do câmbio, este sim um problema sério. O dólar chegou na data de ontem a R$ 1,54, a mais baixa taxa desde a desvalorização cambial de 1999 – e com apreciação de quase 10% desde fevereiro deste ano. 
Com a elevação da diferença entre as taxas de juros internas e externas aumenta o atrativo para investimentos especulativos de curto prazo, e o aumento da entrada de dólares faz com que o real se aprecie ainda mais. A situação é dramática.
O câmbio está apreciado de tal forma que as indústrias brasileiras começam a perder competitividade não somente para exportar seus produtos como no mercado nacional. Setores inteiros de nossa economia estão sendo “varridos do mapa” por produtos importados que mesmo pagando as taxas e impostos devidos ainda são muito competitivos em nosso mercado. Isso ocorre porque os produtos importados entram mais baratos em real, e os nossos mais caros, devido à taxa apreciada.
Posso dar como exemplo o mercado de um determinado setor de peças automotivas, que não cabe aqui citar. Os produtos brasileiros, já fabricados com margem mínima, estão enfrentando a concorrência de produtos chineses que chegam ao nosso mercado por menos da metade do preço do produto nacional. Ou seja, o cenário a médio prazo é o fechamento de fábricas e sua substituição pelo produto importado – causando desemprego e dependência.
Usei o exemplo das peças, mas isto ocorre em setores inteiros de nossa economia. Vários deles hoje são “montadores” de kits chineses enquanto que outros simplesmente fecharam. Como escrevi anteriormente, “a inflação aleija, mas o câmbio mata”. Recomendo a leitura do texto.
Falam-se em medidas do tipo “quarentena” para capitais externos, controles de câmbio e outras relacionadas. Entretanto, são paliativos que não resolvem o problema. 
A questão da apreciação do câmbio somente irá se resolver quando o diferencial entre as taxas de juros externas e internas se reduzir. Com isso se reduz a atratividade do nosso mercado de capitais aos agentes externos, diminuindo a entrada de dólares e consequentemente aumentando o “preço” do real em relação à moeda americana. E isto precisa ser feito rapidamente a fim de não destruir o setor industrial de nossa economia. Ou seja, necessita-se diminuir a remuneração do mercado financeiro, claramente privilegiado nas recentes decisões de política monetária.
Que fique o alerta.