Neste último sábado de julho, temos mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada pela Anna Barros.
Vamos ao texto, já que eu ainda não consegui ver o filme.
Encantada por Meia-noite em Paris
Essa semana, a coluna entrará por uma seara que muito me apetece: o cinema. E o filme escolhido não poderia ser outro: Meia Noite em Paris, um deleite para a alma.

Além do cenário cinematográfico e maravilhoso, Woddy Allen faz uma viagem pelo tempo: para a Paris dos anos 20, onde o escritor angustiado Gil, alter-ego do roteirista e diretor, encontra Hemingway, Cole Porter, Salvador Dalí, Picasso, Buñuel e várias referências do próprio Allen.

Gil está num relacionamento complicado com a fútil Inez e acaba por terminar com ela para viver na Cidade Luz. Inez não valoriza seus escritos e prefere enaltecer um “almofadinha” que foi seu professor na faculdade.

Gil conhece Adriana, vivida por Marion Cottrilard, que é musa de Hemingway e Picasso, figurinista de Bourdeaux e que quer viver a Belle Epoque de Paris. Mesmo diante da possibilidade de encontrar um novo amor, ela prefere fazer uma viagem pelo tempo, ficar na Belle Epoque e deixar Gil.

Isso mostra como os seres humanos são insatisfeitos e nostálgicos e que mudanças são necessárias para que sejamos felizes. Tudo é mutável, o que remete de certa forma à minha coluna anterior, de quinze dias atrás.

Recomendo o filme, que a meu ver é o melhor de Woody Allen. Não vejo tanta semelhança assim com A Rosa Púrpura do Cairo; apenas a transposição do mundo de fantasia para o mundo real.

Em A Rosa Púrpura, de um personagem que tenta resgatar a mocinha que não perde um filme seu e que tem uma vida miserável. Em Meia-noite em Paris, alguém da vida real que encontra seus ícones, seus mitos e faz com que Gertrude Stein leia seus manuscritos para que ele aperfeiçoe o seu ofício, já que a literatura é sua grande paixão – e não os roteiros de cinema que lhe dão glamour com a namorada e o sustentam. Gil busca a felicidade plena e Owen Wilson está ótimo no papel. Ele vê beleza nas coisas simples, como a chuva em Paris.

Há um contraponto claro entre conteúdo e futilidade, personificados por Gil e Inez, cuja atriz Rachel McAdams também está bem, segura e convincente no papel. Dois mundos completamente diferentes que insistem em ter um ponto de interseção. Inez acaba por trai-lo por ele se dedicar muito ao livro e às escapulidelas da realidade à meia-noite, que tornam a sua vida muito mais prazerosa.

Eu saí do cinema pensando na música de Cole Porter, outro fato maravilhoso que Woody Allen resgata. O jazzista renasce por conta da referência que Allen faz nesse e em outros filmes seus. Saí do cinema inebriada, refletindo sobre o filme e tentando trazer para a vida real o que ele poderia acrescentar à minha rotina e descobri: a felicidade pode estar logo ali. Sempre temos que tirar algum aprendizado do que lemos, do que assistimos no cinema. Tem que se aproveitar o momento, o Carpe Diem, que o professor fala em Sociedade dos Poetas Mortos.

Bem, essa reflexão já seria tema para outra coluna.

Até a próxima!
Anna Barros”